Boas práticas reduzem emissão de carbono nas safras de grãos | aRede
PUBLICIDADE

Boas práticas reduzem emissão de carbono nas safras de grãos

Método do Plantio Direto na Palha, difundido nos Campos Gerais, contribui com a captura de carbono. Fazenda Escola da UEPG adota uma combinação de técnicas que reduzem a emissão de carbono em mais de 500 toneladas por safra

Na Fazenda Escola da UEPG, são inúmeras as medidas adotadas que reduzem a emissão de carbono
Na Fazenda Escola da UEPG, são inúmeras as medidas adotadas que reduzem a emissão de carbono -

Fernando Rogala

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

Em tempos em que o Brasil se prepara para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que acontecerá em 2025, uma técnica difundida na região dos Campos Gerais está contribuindo há décadas para a redução de emissão de carbono na agricultura. Trata-se do Plantio Direto na Palha, que teve como pioneiros, no Brasil, na década de 1970, Franke Dijkstra, Manoel Henrique Pereira (o ‘Nonô Pereira’) e Herbert Bartz, e que vem sendo aprimorada ano a ano.

Esse sistema de produção conservacionista, comparado a sistemas que utilizam o preparo do solo, proporciona a redução da erosão hídrica e eólica dos solos, da emissão de gases causadores do efeito estufa, bem como o uso de combustíveis fósseis e de agroquímicos, o aumento da infiltração da água e a eficiência dos fertilizantes aplicados e a recuperação da matéria orgânica, da biodiversidade e da resiliência do solo, permitindo o desenvolvimento de uma agricultura sustentável.

Essa técnica vem sendo empregada e testada há quase 40 anos na Fazenda Escola Capão da Onça da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Fescon-UEPG), difundida junto aos alunos que se formam pela Instituição de Ensino. Essa técnica, somada a outras medidas de cuidados e preservação do solo, contribui para uma redução significativa da emissão de carbono no ar: somente nessa safra de verão, a estimativa é de uma redução de 273 toneladas de carbono. Somados com as 240 toneladas de carbono sequestradas nessa última safra de inverno, a Fescon estima uma redução de 513 toneladas de carbono no período de um ano, valor que equivale a quase 1,8 tonelada de dióxido de carbono.

O coordenador da Fazenda Escola e professor de Agronomia na UEPG, Orcial Bortolotto, explica que esse cálculo é feito de acordo com o que há de informação hoje disponível a respeito do potencial de algumas culturas. “Nessa nossa última safra de inverno, conseguimos promover uma redução de 240 toneladas de carbono sequestrado da atmosfera”, resumiu. “Isso aconteceu principalmente pelo nosso cultivo de trigo, mix de cobertura, e algumas áreas de pastagens. Além disso, entra também nessa conta a questão de redução na intervenção com a aplicação de alguns insumos, como por exemplo, alguns defensivos – então é menor poluição por queima de combustível - e também o grande uso de insumos biológicos”, explicou o professor.

Essa redução é alcançada em uma área de 120 hectares cultivados de grãos. No inverno, a área é utilizada para o plantio tanto de um cultivar principal – nesse caso o trigo – quanto a cobertura de solo. Nessa safra de 2024, houve a opção de preencher 60% da área com cobertura de solo, que gerou em torno de 8 a 10 toneladas de massa sobre o solo. Proteção a qual reduzirá problemas com erosão, irá melhorar a fertilidade e reduzir problemas com plantas daninhas, o que significa menor necessidade de entrada com herbicidas. Estudos apontam que um hectare de massa seca das plantas depositada no solo sequestra uma quantidade de carbono atmosférico equivalente a aproximadamente 8 mil litros de gasolina.

A prática da rotação das culturas, que reduz problemas com doenças e pragas, também é um fator dentro dessa proposta de redução de emissão de poluentes e colaboração na captura e sequestro de carbono. Com a ampla utilização de biológicos, houve ainda uma redução do uso de adubos químicos em 40%, sem perder a produtividade na Fescon. “O carbono fica posteriormente disponibilizado no solo, o que se converte numa maior riqueza nutricional, para que as plantas possam, na sequência, também se desenvolverem”, completa Bortolotto.

A Fazenda Escola ainda conta com 15 hectares de produção de eucalipto, que consegue capturar de 5 a 8 toneladas de carbono por hectare.

Agro pode reduzir emissão de 2,7 mi de toneladas na região

Atualmente, os produtores dos municípios da regional de Ponta Grossa do Departamento de Economia Rural (Deral), que engloba 18 municípios dos Campos Gerais, cultivam cerca de 650 mil hectares com grãos (soja, milho e feijão) nas primeiras safras de verão. Caso todas essas práticas adotadas pela Fazenda Escola fossem aplicadas pelos produtores rurais da região, estima-se que seria possível sequestrar 2,70 milhões de toneladas de carbono, valor que representaria uma redução de quase 10 mil toneladas de dióxido de carbono, apenas por parte da agricultura regional. “Então, realmente é algo que, quando amplificamos, o impacto ele é ainda muito maior. Estamos numa região que é o berço do Plantio Direto. Nós temos produtores muito tecnificados, que tem usado o sistema de plantio direto, têm adotado o uso de biológicos e o manejo racional de defensivos no campo. E isso tem colaborado para que tenhamos essa melhor condição sustentável de desenvolvimento no campo”, conclui Bortolotto.

Propriedade na região é pioneira na venda de crédito de soja sustentável

Na região dos Campos Gerais está uma das fazendas que foi pioneira na comercialização de créditos de soja sustentável em âmbito estadual. Localizada em Teixeira Soares, a Fazenda Pau Furado ofertou 2.281 créditos, que foram comercializados para empresas da Dinamarca e da Alemanha, no início do ano passado. A fazenda, de propriedade de Fabiano Gomes e seus dois irmãos, tem quase 800 hectares, onde há a produção de soja, milho, feijão, trigo, cevada e aveia. Cada tonelada de soja certificada é equivalente a um crédito.

Toda essa negociação foi realizada pela cooperativa Frísia, que conta com um programa específico para fomentar a sustentabilidade e a competitividade das propriedades dos cooperados. Para isso, houve uma grande transformação na fazenda, no âmbito de processos e organização, para que se tornasse mais eficiente e conquistasse a certificação. Além da sustentabilidade, a certificação contribui para agregar valor à produção. “O mercado está exigindo cada vez mais qualidade. Hoje, a certificação é um selo de qualidade muito importante que a propriedade tem, principalmente para o mercado externo”, declarou Fabiano.

Lei que regula o mercado de carbono no país é sancionada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que regula o mercado de créditos de carbono no Brasil, criando regras para as emissões de gases de efeito estufa. A lei foi publicada no dia 12 de dezembro no Diário Oficial da União e a sanção anunciada no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, em Brasília.

Com a relatoria do deputado federal Aliel Machado (PV), a nova lei regula a compra de créditos de preservação ambiental para compensar as emissões de gases poluentes, ou seja, medidas de conservação e recuperação de vegetação nativa geram créditos, enquanto que as emissões gerarão débitos a serem compensados.

A lei institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) e divide o mercado de crédito de carbono brasileiro em dois setores, o regulado e o voluntário.

O primeiro envolve iniciativas do poder público e terá um órgão gestor responsável por criar normas e aplicar sanções a infrações cometidas pelas organizações. Já o mercado voluntário se refere à iniciativa privada, mais flexível.

A partir de agora, empresas, organizações e indivíduos podem compensar as emissões por meio da compra de créditos vinculados a iniciativas de preservação. O objetivo desse mercado é transferir o custo social das emissões poluentes para os agentes emissores, no esforço global de conter o aquecimento global e as mudanças climáticas.

PUBLICIDADE

Participe de nossos

Grupos de Whatsapp

Conteúdo de marca

Quero divulgar right

PUBLICIDADE