Coluna Fragmentos: A presença inglesa e a ocupação do Paraná
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 21/05/2023, 09:00

A ideia e a dimensão de nação no Brasil é algo relativamente recente. O modelo de colonização português e a grande extensão do território brasileiro fizeram com que nosso país tivesse uma formação regional bastante desigual.
Por exemplo, enquanto é possível encontrar uma sociedade estruturada no nordeste açucareiro desde o século XVI – conforme escreveu Gilberto Freyre no clássico “Casa Grande & Senzala” – o sul do país só foi efetivamente ocupado no século XIX. Essas distâncias geográficas e temporais corresponderam também a uma distância nos modelos sociais, culturais e econômicos entre tais áreas, o que sempre dificultou a formação de um pensamento e de uma concepção de nação no Brasil, o que acabou acontecendo apenas a partir do século XX, mais especificamente, após 1930.
O Paraná nasceu oficialmente em 19 de dezembro de 1853, até essa data as atuais terras paranaenses faziam parte da Província de São Paulo. Entre as maiores dificuldades encontradas pelos dirigentes paranaenses no decorrer do seu primeiro século de existência encontram-se a promoção de uma ocupação demográfica minimamente uniforme pelo território e a construção de uma identidade própria.
Região de ligação entre o extremo sul e o restante do território nacional, o Paraná sempre contou com uma população mesclada: indígenas, portugueses, negros, espanhóis, russos-alemães, poloneses, italianos, sírios, alemães, suíços, franceses, etc.. A presença de diferentes grupos e, consequentemente, de diversas matrizes culturais, ao mesmo tempo em que tornou o estado muito rico por conta dessa diversidade, dificultou a construção de uma identidade própria ao conjunto estadual.
Na busca pela integralização da ocupação territorial e da formação estadual, os governos incentivaram, desde as décadas iniciais dos Novecentos, a colonização das regiões norte e oeste paranaense. É certo que o chamado norte velho, que já contava com uma população originária, começou a ser timidamente ocupado por novos grupos humanos – numa “colonização espontânea” – desde a metade do século XIX. Prova disso é a fundação de pequenos povoados que acabaram se tornando cidades, como Siqueira Campos (1843), Wenceslau Braz (1848), Jataizinho (1850) e Tomasina (1867).
Já no século XX, o marco da colonização do norte paranaense é 1924. Foi nesse ano que chegou à região um grupo de ingleses que integrava a Missão Montagu, a qual viera ao Brasil atendendo a um chamado do presidente Arthur Bernardes.
Em 1925, tendo por base o capital inglês e dirigida por Lord Lovat, foi criada a Brazil Plantations Syndicate. O objeto principal dessa empresa era a produção de algodão, no entanto, o investimento não teve sucesso em razão do baixo valor do produto no mercado internacional. Para não perder todo o investimento, os britânicos decidiram criar a Companhia de Terras Norte do Paraná, a qual passou a vender as terras da região para ingleses e brasileiros.
A maior inovação nesse processo de ocupação das terras do norte paranaense – bastante diferente do que ocorreu na formação dos Campos Gerais – foi a venda de pequenos lotes de terra com a devida concessão dos títulos de propriedade. Isso deu a essa região uma característica bastante distinta do restante do estado. Além de começar uma ocupação ordenada tardiamente, a região norte do Paraná não teve por base a concentração da terra, o que explica a grande diferença no modelo de sociedade e de lógica política quando comparada, por exemplo, à Ponta Grossa.
Assim, dificilmente alguém ouvirá por lá a máxima do “Essa terra tem dono!”, como já fomos obrigados a escutar por aqui há pouco tempo atrás.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 29 de março de 2009.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.