Coluna Fragmentos: Telecatch: a eterna luta do bem contra o mal!
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 04/05/2023, 09:00

A TV Excelsior surgiu em São Paulo no ano de 1960. Fazia parte do Grupo Victor Costa (o mesmo que controlava a TV Paulista e a Rádio Excelsior) e, durante seus dez anos de existência, se destacou pelos programas jornalísticos e pelas séries americanas que transmitia.
Porém, nenhum outro programa da Excelsior teve tanta repercussão e fez tanto sucesso quanto o Telecatch, uma mistura de luta livre, encenação teatral e combate de verdade da qual faziam parte heróis e vilões. Inicialmente chamado de “Telecatch Vulcan”, e depois “Telecatch Montila” (por conta de seus principais patrocinadores), o programa tornou-se uma febre nas noites de sábado.
Prostrados diante dos televisores, famílias inteiras punham-se a torcer nervosamente pelos lutadores que representavam o bem e que heroicamente combatiam a turma do mau. Aquele era um momento de Guerra Fria, e a dicotomia mundial produzida pela disputa ideológica entre Estados Unidos e União Soviética fazia com que o imaginário coletivo compreendesse tudo a partir dessa lógica.
Os lutadores valiam-se de inúmeros artifícios para chamar a atenção do público: roupas bufantes, máscaras, capas, maquiagem pesada, barbas longas etc. Além disso, possuíam uma habilidade incomum e criaram uma série de golpes que se perpetuaram na memória de muitas pessoas que contam hoje com 40 ou mais anos de idade. Lembram da “tesoura voadora” do Ted Boy Marino? Do “chute no rim” do cruel Fantomas? E a “torção de braço” aplicada com perfeição pelo Tigre Paraguaio para encerrar seus combates?
As lutas tinham seus resultados previamente combinados e nem sempre eram vencidas pelos “mocinhos”. Havia ainda a “Australiana”, modalidade que reunia duas duplas e na qual os contendores se revezavam ao longo do combate.
O sucesso do programa da Excelsior foi tão grandioso que se multiplicaram por todo o Brasil os grupos de lutadores que reproduziam os encarnados embates protagonizados na televisão. Ponta Grossa não ficou fora desse circuito. Em novembro de 1967, o comitê responsável pela construção do Hospital Vicentino, com objetivo de levantar fundos para a conclusão das obras (o Hospital seria inaugurado no inicio dos anos 70), trouxe à cidade os maiores lutadores da época, entre os quais estavam: Ted Boy Marino; Igor, o polonês; Mongol; o Caveira Vermelha e o Demônio Cubano, nome bem condizente com o panorama político dos anos 60.
A fórmula do Telecatch entrou em decadência na década de 1970 e o programa praticamente foi banido da televisão brasileira no início dos anos 80. Mas antes de seu desaparecimento das telas, outras redes o apresentaram: a Tupi, a Record, a Bandeirantes e, até mesmo, a Globo.
Até os dias atuais ainda são encontrados grupos de lutadores de Telecatch que percorrem o país se apresentando em circos e ginásios de esportes. A fórmula também se mantém inalterada: o combate perpétuo entre o bem e o mau!
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 30 de novembro de 2008.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.