Coluna Fragmentos: Regente Feijó, símbolo da educação ponta-grossense
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 24/04/2023, 09:00

Como um historiador que há quase duas décadas pesquisa a história de Ponta Grossa, compreendo que nossa cidade possui alguns patrimônios arquitetônicos ou culturais extremamente valiosos. Alguns desses patrimônios sequer são oficialmente reconhecidos como tal pelas instâncias competentes, mas podem ser assim considerados devido ao forte apelo sentimental e identitário estabelecido com a nossa gente.
Assim é o caso do Operário Ferroviário, da Igrejinha de Uvaranas e do Mosteiro da Ressurreição, da Rádio Clube Pontagrossense e de seu auditório histórico, da Rua XV de Novembro, do Cine Ópera, da Banda Lira dos Campos e da Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa. Incluo ainda nessa lista dois prédios que – infelizmente – foram tombados (não no sentido patrimonial do termo, mas, no sentido literal da palavra): o da Cervejaria Adriática e a Catedral de Sant’Ana. Muito além de sua importância arquitetônica, essas edificações se constituíam em marcos referenciais e simbólicos de um momento fundamental de nossa história e hoje só podemos lamentar a ausência de ambos em nosso conjunto urbano.
Entre esses patrimônios tipicamente ponta-grossenses também se inclui o Colégio Estadual Regente Feijó. Com seu prédio tombado pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico no início da década de 1990, o Regente corresponde a um marco no campo da educação ponta-grossense e ocupa, por conta disso, um lugar especial no coração dos princesinos.
Criado em 1927, com a denominação de Ginásio Regente Feijó, já nasceu importante. Em sua inauguração, no dia 28 de março daquele ano, estiveram presentes os principais nomes da pedagogia paranaense do período como o educador Lysimaco Ferreira da Costa e o Dr. Caetano Munhoz da Rocha, na época Presidente do Paraná (o equivalente ao atual cargo de governador do estado).
O histórico prédio do Regente havia sido construído em 1923 e inicialmente abrigara a Escola Normal Primária, também mantida pelo governo do Paraná. O curso ginasial implantado no Regente Feijó tomou por base a grade curricular do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, o mais importante estabelecimento de ensino público do país. Seu primeiro diretor foi o professor Angelo Lopes (aritmética), e o primeiro corpo docente contou com os professores Helvídio Silva (português), Nicolau Meira de Angelis (francês), Julio da Luz (inglês e alemão), Manoel Garcia (geografia e história) e Estevam Coimbra (latim e moral e cívica).
Entre os alunos que integraram a primeira turma do Regente Feijó estavam figuras que posteriormente se destacariam na vida pública ponta-grossense como: João Cecy Filho, Faris Michaele, Raul Pinheiro Machado e João Dias Ayres. Mais tarde, todos estes se tornariam professores da escola, chegando Pinheiro Machado a dirigi-la na década de 1950.
O Colégio Estadual Regente Feijó, sua denominação atual, continua funcionando no mesmo prédio que o abrigou quando de sua criação. Contando com mais de 100 professores em seu quadro docente e com cerca de 3000 alunos, o Colégio oferece vagas para o ensino fundamental e médio. Em mais de 80 anos de história, o Regente passou por muitas reformas, ampliações e mudanças, porém sempre manteve sua condição de uma das escolas mais simpáticas, procuradas e bem quistas pelos ponta-grossenses e é em razão de tudo isso que ele pode ser considerado um patrimônio cultural de nossa cidade.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 21 de setembro de 2008.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.