Coluna Fragmentos: A Estruturação do modelo educacional no Brasil contemporâneo | aRede
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Coluna Fragmentos: A Estruturação do modelo educacional no Brasil contemporâneo

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Matéria que destacava a formação de professores em Ponta Grossa, publicada pelo JM em 09 de fevereiro de 1966
Matéria que destacava a formação de professores em Ponta Grossa, publicada pelo JM em 09 de fevereiro de 1966 -

João Gabriel Vieira

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Nos últimos dias temos acompanhado o movimento que envolve o início do ano letivo nas escolas ponta-grossenses. Como em outros anos, os veículos de comunicação tratam do tema geralmente destacando as filas de pais em busca de vagas nas escolas, a compra do material escolar, os problemas físicos nos educandários, a falta de professores etc.

As instituições escolares fazem parte do nosso cotidiano desde que nascemos e, atualmente, pensar que a formação educacional de uma criança ou de um adolescente possa se dar fora desse espaço – seja ele público ou privado, leigo ou confessional – soa como algo falso ou, pelo menos, bastante questionável. Nesse quadro os professores aparecem como os profissionais qualificados para o exercício do magistério e para a transmissão do saber. Contudo, do ponto de vista histórico, essas são premissas relativamente recentes em nosso país.

Se retrocedermos até o período que vai do final século XIX para o início do século XX, perceberemos que aí ocorreram várias mudanças nas práticas e nas formas do saber instituídas no Brasil. No olhar de Diana Vidal (Culturas Escolares. Estudos sobre práticas de leitura e escrita na escola pública primária. Brasil e França, final do século XIX. Campinas: Autores Associados, 2005), tais alterações resultam de, pelo menos, duas situações conjunturais: a reprodução de um discurso republicano “civilizatório” que buscava forjar uma identidade nacional baseada no racionalismo e na cientificidade, e a necessidade de educar os negros recém egressos da escravidão.

Segundo Vidal, uma das maiores especialistas contemporâneas desse tema em nosso país, o modelo educacional adotado pela República brasileira foi inspirado nos moldes franceses, incorporando-se, inclusive, o uso de objetos e materiais utilizados naquele país como: carteiras, mapas, réguas, globos, cadernos, lápis etc. Foi nesse contexto que se construíram os papéis e os espaços de professores e alunos tais quais conhecemos hoje.

Antes disso, no período colonial e mesmo durante o Império, o mais comum era que as poucas crianças alfabetizadas no Brasil aprendessem a ler e escrever com os padres, professores particulares ou com as mães, quando estas dominavam esse conhecimento.

No século XIX as poucas escolas primárias existentes no país valiam-se de recursos bastante simples, como as mesas de areia (que faziam o papel de quadro negro), a ardósia, o lápis de pedra, a pena metálica, o lápis de grafite, o papel e o caderno. Tais objetos, apesar de simples, nem sempre eram obtidos facilmente, o que dificultava ainda mais a disseminação do saber.

A partir da República observa-se um esforço pedagógico das escolas no sentido de avançar tanto no que se referia ao “desenho da letra” (caligrafia), quanto no que diz respeito à “redação correta” (alfabetização, ortografia e gramática) por parte dos alunos.

O caso da construção de um modelo educacional no Brasil é mais um exemplo de que, muitas vezes, acabamos por naturalizar processos que são historicamente construídos, não percebendo que valores, princípios e matrizes – sejam eles metodológicos, comportamentais ou ideológicos – surgiram em momentos históricos específicos e corresponderam, inevitavelmente, as necessidades concretas de uma sociedade ou de um projeto político em curso.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 10 de fevereiro de 2008.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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