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Coluna Fragmentos: O JM e a volta da normalidade política

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Primeira página do JM no dia 15 de março de 1985. A notícia sobre a cirurgia de Tancredo Neves causou comoção e deixou a sociedade brasileira apreensiva sobre os rumos da democracia que estava por renascer
Primeira página do JM no dia 15 de março de 1985. A notícia sobre a cirurgia de Tancredo Neves causou comoção e deixou a sociedade brasileira apreensiva sobre os rumos da democracia que estava por renascer -

João Gabriel Vieira

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O ano de 1985 foi um dos mais importantes na história recente do Brasil. Após 21 anos de ditadura militar o país se preparava para a volta da normalidade política.

No dia 15 de março daquele ano o General João Figueiredo passaria a faixa para Tancredo Neves, velho político mineiro. Mais de vinte anos depois, sabemos que a história tomou caminhos diferentes e o poder caiu no colo de José Sarney, vice de Tancredo.

Figueiredo entrou para a história por ser o último presidente militar daquele período, mas também por dizer que não suportava o cheiro do povo e que haveria de fazer do Brasil uma democracia, nem que para isso tivesse que “prender” e “arrebentar” todos  que fossem contra.

Conciliador, Tancredo Neves estava longe de ser um representante nascido no seio das massas populares, muito menos sinalizava com reformas estruturais na sociedade brasileira. Mas, do ponto de vista político e da garantia das liberdades, significava um gigantesco avanço quando comparado aos presidentes militares.

Sarney, antigo homem de confiança dos militares, por essas coisas da política, passara para a oposição pouco tempo antes do final do regime. A diverticulite que atingira Tancredo na véspera da posse, acabou por “premia-lo” com a Presidência da República.

Os aparelhos de censura, temidos pelos veículos de comunicação, saíam de cena. Os jornalistas de todo país vislumbravam novos tempos sem a interferência indesejável dos censores. O limite do publicável ou não, estaria a partir daquele momento, na sala ao lado, nas mãos dos chefes de redação e dos diretores dos jornais, rádios e emissoras de TV.

Durante a ditadura militar, a trajetória do JM foi igual a de qualquer outro jornal existente no país, ou seja: as críticas ao regime foram paulatinamente diminuindo conforme a repressão e a censura foram aumentando.

Por exemplo: já no final daquele período, quando da ocorrência do Movimento Diretas Já, em 1984, o JM foi lacônico! Notas pontuais, marcadas por informações genéricas e sem qualquer teor analítico, caracterizaram a cobertura do jornal.

A empolgação que tomou conta de políticos, artistas, jogadores de futebol, intelectuais e de milhares de brasileiros anônimos, não parece ter contagiado os redatores do JM. A dúvida é se essa postura distanciada, quase blasé, adotada pelo jornal, obedeceu a uma determinação externa ou se ela expressou o pouco encantamento do próprio JM com os ventos democráticos que sopravam. Por mais estranho que possa parecer, o fato é que, a ideia da liberdade de expressão assustava e incomodava muitos veículos de comunicação no país.

A partir do final da ditadura militar e com o começo da Nova República, as grandes redes de TV, as revistas e os jornais de circulação nacional iniciaram uma nova forma de produzir as notícias. Com o fim da censura e a consequente liberdade de expressão emergente, não bastava mais “informar”. Era preciso tomar posição, contrapor idéias e princípios, denunciar, criticar, refletir ... Esse era o novo rumo do jornalismo brasileiro naqueles meados de década.

Infelizmente esse não foi o caminho seguido por centenas de veículos de comunicação que circulavam no interior do país, como é o caso do JM. Mesmo depois da saída dos militares da cena política, o jornal manteve o mesmo estilo. Suas matérias se limitavam a “reportar o fato”, quase de forma “oficial”. O debate e a reflexão sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos, estavam longe de fazer parte de suas páginas.

Não podemos – e nem é esse o nosso objetivo – porém, imaginar que esta foi uma prática exclusiva do JM. Afinal, após duas décadas de censura, a liberdade de expressão era algo que teria de ser construída processualmente e não por “decreto” ou “ordem superior”, como se fazia nos tempos da censura.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 14 de outubro de 2007.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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