Coluna Fragmentos: 1954
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro. O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações
Publicado: 28/02/2023, 09:00

1954: Marta Rocha perde o título de Miss Universo por duas polegadas a mais no bumbum; 1954: O poeta Ferreira Gullar publica Luta Corporal, obra que o lançaria no cenário da poesia brasileira; 1954: Francisco Julião cria as Ligas Camponesas em Pernambuco; 1954: o Corinthians ganha o Campeonato Paulista, feito que só voltaria a realizar 23 anos depois; 1954: Oscarito filma Nem Sansão, Nem Dalila, uma paródia ao getulismo; 1954: Oscar Niemeyer projeta o Parque do Ibirapuera, homenagem ao Quarto Centenário de São Paulo; 1954: Getúlio Vargas se suicida com um tiro no coração e causa a maior comoção social já vivida pelo povo brasileiro; 1954: nasce em Ponta Grossa o JORNAL DA MANHÃ.
Fundado por Petrônio Fernal, o JM teve como seu primeiro chefe de redação o renomado professor, jornalista e esportista João Ricardo Borell Du Vernay. João Nunes Cottar, que se tornaria uma referência na imprensa brasileira nas décadas seguintes, logo se destacou como seu principal jornalista. Coube ao jovem Cottar redigir a página esportiva e editar as notícias nacionais e internacionais que chegavam à redação.
Desde o seu nascimento, o JM se constituiu na grande renovação no meio jornalístico ponta-grossense naqueles meados de século. Pela primeira vez em toda sua história a cidade podia contar com mais de um jornal de circulação diária, o que significou a ampliação das informações sobre o cotidiano local e também expôs as disputas político-eleitorais então em curso.
O proprietário do JM, Petrônio Fernal, advogado mineiro, nascido na cidade de Oliveira, elegera-se prefeito de Ponta Grossa em 1951 – aos 35 anos de idade – e via na criação de um jornal, a forma de estreitar sua relação com a população e de aumentar seu prestígio político junto à opinião pública. Foi também a maneira encontrada por Fernal, para responder aos ataques de seus adversários políticos, sobretudo ao Deputado José Hoffmann, que viria a substituí-lo no Executivo Municipal em 1955.
Momento decisivo para a história do Paraná, a década de 1950 correspondeu ao momento da eleição de Bento Munhoz da Rocha Neto ao governo estadual (1951 – 1955). Bento se preocupou com o reforço de uma identidade paranaense. A clássica obra Um Brasil Diferente, de Wilson Martins, sintetizava um novo olhar sobre o estado. Martins apresentava o Paraná e seu povo de modo bastante peculiar: éramos uma espécie de país europeu encravado no Brasil e inevitavelmente estávamos destinados ao progresso e ao desenvolvimento graças às origens étnicas e culturais da gente paranaense.
Esse foi também o momento em que o norte e o oeste paranaense iniciaram um processo de desenvolvimento, que, pouco depois, retiraria dos Campos Gerais a condição de região mais desenvolvida do estado.
Desta forma, o JM surgiu num momento de transição para Ponta Grossa. A cidade não mais reinava absoluta no interior paranaense, e coube ao novo jornal trazer aos leitores ponta-grossenses as informações sobre os novos tempos. Desde 4 de julho de 1954, dia em que circulou pela primeira vez, já se passaram mais de 53 anos, e nesse percurso ininterrupto, o JM sempre se preocupou em tratar da vida local, acompanhando de perto os acontecimentos que marcaram o cotidiano de Ponta Grossa ao longo desse período: a “novidade” política da eleição de Luiz Carlos Zuk em meados da década de 70; a fase desenvolvimentista do Pladei de Cyro Martins; a criação da Efapi e da München Fest; a repercussão do golpe de 64 e da Copa do Mundo de 1970 na cidade; a polêmica visita do então Presidente Collor no início dos anos 90; a demolição da Catedral de Sant’Ana em 1979, e inúmeros outros acontecimentos que marcaram a vida de Ponta Grossa nas últimas cinco décadas.
Nos próximos domingos traremos alguns fragmentos desse importante percurso percorrido pelo Jornal da Manhã desde sua fundação, em 1954, até esse novo momento que se inicia a partir de hoje!
Publicada originalmente no dia 02 de setembro de 2007.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.