Com boas práticas, Fazenda Escola reduz emissão de carbono
Fazenda Escola da UEPG reduz emissão de 400 toneladas de carbono por safra
Publicado: 04/06/2024, 11:14
A proximidade com o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) traz reflexões importantes sobre como as organizações e instituições de ensino atuam para preservação, proteção e sustentabilidade ambiental. O tema vem sendo explorado, nesta semana, pelo Portal aRede e Jornal da Manhã (JM) no "Painel Digital: Meio Ambiente e Sustentabilidade". Nesta terça-feira (4), o destaque é a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), através da Fazenda Escola Capão da Onça (Fescon) e do seu coordenador, professor Orcial Bortolotto, que, com boas práticas, está reduzindo a emissão de carbono na atmosfera - assista à entrevista abaixo:
O professor destaca que as boas práticas, adotadas também pelos produtores, envolvem alguns pilares como a preservação do solo “que nada mais é do que a manutenção de palhada sobre o solo, o famoso plantio direto que teve como berço aqui a região dos Campos Gerais”, diz. Outros pilares são a rotação de culturas e o uso de tecnologias, “como é o caso crescente hoje de biológicos que têm auxiliado, por exemplo, no uso combinado, visando inclusive reduzir algumas adubações realizadas na lavoura, que acabam, desta forma, reduzindo também a emissão justamente do carbono”, diz.
Em relação ao plantio direto, o professor destaca que ele foi desenvolvido nos Estados Unidos nos anos 60 e introduzindo no Brasil em 70, “e a Fazenda Escola da UEPG, desde a sua inauguração, sempre trabalhou com esta prática da preservação e manutenção de palhada sobre o solo, garantindo desta forma uma melhor condição para os micro-organismos do solo e, da mesma forma, reduzindo a quantidade de compostos de carbono que vem para a atmosfera e nos trazem hoje esta questão do efeito estufa, muito discutida a questão do aquecimento global, que tem também um entrelaço com essas ações”, fala.
Com as boas práticas, como o plantio direto, a UEPG tem conseguido reduzir a emissão de 400 toneladas de carbono por safra verão/inverno. Isto equivale a 1,4 toneladas de dióxido de carbono ou 400 mil litros de poluentes emitidos por gasolina.
A redução é ainda maior se considerada a produção de eucalipto na Fazenda Escola. “Temos uma área aproximada de 12 hectares de eucalipto, que no nosso caso, são plantas que há mais de dez anos não se realiza um corte. O eucalipto, tem trabalhos que demonstram que, por hectare, ele tem um potencial em torno de 150 toneladas ao ano, então teríamos mais um acréscimo, considerando esta nossa área de 12 hectares, uma contribuição muito valorosa dentro das atividades desenvolvidas para reduzir este problema”, explica.
REDUÇÃO – O professor observa que hoje se fala muito em redução de carbono, porém isto significa não somente o CO₂, mas a outros compostos que também tem efeito prejudicial, como o próprio ozônio e metano. “E o metano ele tem como principal agente poluidor os carros, que são movidos justamente por combustíveis e sabemos que conforme as cidades vão se desenvolvendo, tem mais indústria, mais automóveis e isto leva a uma condição também de maior emissão de poluentes na atmosfera, o que ao longo do tempo acaba trazendo justamente esta relação ou este efeito estufa, com consequências ao meio ambiente, onde vemos as elevações de temperatura, e na própria agricultura”, fala.
Ele destaca ainda, “que por muito tempo, se acreditou que as florestas teriam esta capacidade de capturar o gás carbônico da atmosfera, aí o nome de sequestro de carbono, mas além destas plantas também temos as culturas, ou enfim, as plantas cultivadas, como é o caso da soja, do milho, do trigo, plantas de cobertura, que são plantas que não tem como objetivo produzir grão, mas também exercem esta função de reduzir o carbono, ou carbono equivalente, que é quando eu me refiro, por exemplo, a estes outros gases que também têm efeito de aquecimento global, no efeito estufa, que acabam prejudicando o ambiente”, esclarece.
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PRODUTIVIDADE - A retenção do carbono no solo também aumenta a produtividade das plantações e auxilia no processo de fotossíntese das plantas. O processo na Fazenda Escola Capão da Onça (Fescon), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), acontece com rotação de culturas de milho, feijão, soja e aveia. “O carbono fica posteriormente disponibilizado no solo, o que se converte numa maior riqueza nutricional, para que as plantas possam, na sequência, também se desenvolverem”, adiciona Orcial Bortolotto, professor e coordenador da Fazenda Escola.
Além do sistema de plantio direto, a Fazenda ainda trabalha com outras estratégias, como mix de coberturas de plantas sobre o solo, os chamados ‘adubos verdes’. “Essas plantas, quando depositadas, protegem o solo, reduzem problemas de plantas daninhas e causam um enriquecimento nutricional. Toda essa massa seca de plantas são importantes nessa questão do sequestro do carbono e posterior incorporação na terra”. Estudos apontam que um hectare de massa seca das plantas depositada no solo sequestra uma quantidade de carbono atmosférico equivalente a aproximadamente oito mil litros de gasolina. “Então, acaba sendo algo bastante expressivo, demonstrando que a agricultura hoje é o carro chefe na redução da problemática”, salienta o professor.
FUTURO - O planejamento da Fazenda Escola, a partir dos anos de 2024 a 2025, é intensificar os estudos e formas de manejo para reduzir a emissão de carbono no ar. “Com um monitoramento, junto com grupos de pesquisa e empresas, nós vamos implantar, de forma gradual e monitorada, novas técnicas de preservação do solo”, diz.
Segundo o professor, a Fazenda Escola tem parceria com dezenas de empresas nacionais, multinacionais, que permitem um grande valor acadêmico para os estagiários. “Hoje estamos num processo de redirecionamento de atividades da Fazenda Escola, no sentido de, dentro destas parcerias com as empresas, haver uma obrigatoriedade em ações direcionadas para o desenvolvimento sustentável, que é desde uma questão de proteção do solo, uma questão de redução, por exemplo, de insumos que por vezes são utilizados inadequadamente no campo, então a base de tudo é realizar um adequado monitoramento para compreender o que a planta está precisando, quais os nutrientes estão precisando, qual que é o momento correto para realizar a intervenção do controle ou do manejo de uma praga, o controle e o manejo de uma doença, e dentro disto, estarmos aliando com estratégias e ferramentas biológicas, que hoje tem crescido muito no mundo inteiro, no Brasil o crescimento é acima de 30% ao ano", observa ao completar que "temos bastante trabalho ainda para frente para fazer, temos bastante orgulho daquilo que foi construído até então, mas com certeza nosso propósito é dar continuidade para que estes índices aumentem”, finaliza o professor.