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Passagem só de ida

Afonso Verner

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Fiquei afastado do blog por alguns meses - lapso ocasionado por uma combinação entre plantões de final de ano, estudos para o mestrado e uma ocasional falta de assunto. De volta a ativa, não me restou outra opção se não começar 2015 falando, mais uma vez, do transporte público em Ponta Grossa. Não se canse, valerá a pena.

O anúncio do passe livre feito pelo governo municipal coloca, mais uma vez, o setor do transporte em evidência: cerca de R$ 6 milhões seriam (você já vai entender o porquê do verbo nesse tempo) transferidos do orçamento da Educação para subsidiar a iniciativa. É como se a palavra "subsídio" tivesse mudado de significado de 2014 para 2015.

Para quem tem memória curta, faço o favor de refrescar a mente: em meados de 2014 o então vereador Aliel Machado (PCdoB) foi bombardeado por parte dos políticos locais (e também da população) após propor um repasse (sinônimo para subsídio) de cerca de R$ 2,4 milhões ao transporte coletivo. Com essa ação, Aliel ajudou a colocar fim a greve histórica no setor que já durava 19 dias e trazia um transtorno incalculável para boa parte da população - a medida foi assinada por um representante do poder Executivo, então secretário de planejamento João Ney Marçal Junior.

Como se o jovem político tivesse cometido alguma heresia, Aliel acabou sendo pintado como vilão na história - ação que já ditaria o ritmo e o tom do pleito eleitoral de outubro de 2014 e, no final das contas, daria ao garoto que veio da Vila Hilgemberg a visibilidade necessária para se eleger o deputado federal mais jovem do Paraná.

Menos de um ano depois disso um decreto municipal institui a medida do passe livre aos estudantes em Ponta Grossa. Em janeiro, uma medida (atravessada) do governo municipal implanta a livre condução de estudantes de escolas públicas nos ônibus da cidade e, obviamente, o dinheiro tinha que sair de algum lugar.

A medida já nasce errada: primeiro porque foi anunciada antes mesmo do projeto de lei passar pela Câmara de Vereadores da cidade e por ser deslocada e pouco discutida junto ao movimento estudantil. O projeto nem chegou a ser de fato instituído e já sofreu várias alterações nos critérios que definem quem pode e quem não pode ser beneficiado.

Se observarmos a metade do copo cheio, vemos o seguinte: estudantes carentes terão a oportunidade de se locomover usando o transporte coletivo de maneira gratuita. Ponto positivo para o governo de Marcelo Rangel (PPS). Mas se olharmos a metade do copo vazia...

Não sei se o dicionário Aurélio já teve uma edição 2015 publicada, mas não acredito que a palavra subsídio tenha mudado de significado nessa dúzia de meses. Em menos de um ano, a postura do Governo Municipal mudou radicalmente: ambos os repasses tratavam do transporte coletivo, mas foram vistos e tratados de maneira absurdamente diferente.

No primeiro episódio envolvendo um repasse de dinheiro público para a Viação Campos Gerais, os R$ 2,4 milhões faziam parte de uma "economia" no orçamento da Câmara de Vereadores. Já a verba do passe livre seria retirada do orçamento municipal dedicado ao setor da Educação.

Caberá aos gestores da educação municipal se virar com essa garfada de R$ 6 milhões no repasse. Enquanto isso, o valor da passagem subiu para R$ 2,85 (contrariando a posição do prefeito), a Prefeitura vai bancar o passe livre dos estudantes e o transporte coletivo continua sendo uma opção muito pouco viável para quem faz pequenos trajetos em Ponta Grossa e uma saída mais do que sofrível para quem atravessa a cidade em dias e horários de pico.

Como tem sido discutida, até o momento, a implantação do passe livre é uma passagem só ida para os moradores da cidade, basta saber se o copo vai encher ou esvaziar de uma vez.

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