Crônica dos Campos Gerais: Os últimos ipês da Biblioteca!
Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, engenheiro civil, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Publicado: 26/10/2022, 09:31
Ontem os últimos ipês que ficam numa nesga de canteiro sobrevivente da Biblioteca Municipal começaram a florescer. Antes, alguns anos atrás, quando as instalações da Biblioteca e do Centro de Música ficaram prontas, haviam plantado pés de ipê em toda a frente para a rua Frederico Wagner, distribuídas na área destinada ao estacionamento de veículos. Mas só tiveram a chance de uma florada. Rapidamente foram sumindo para permitir que o espaço fosse utilizado como local de eventos. Muitas tendas, muitos feirões de veículos usados, até encontro de carros modificados com tremenda barulheira ali passaram a acontecer. Mesmo que, nos prédios ao lado, as atividades fossem voltadas à concentração e ao estudo. Sem falar da escola do outro lado da rua.
Dizem que os ipês foram mudados para o lado oposto da enorme chaminé. Chaminé que sobreviveu ao apagamento do importante ciclo industrial que ali ocorreu. Mas, se foram transplantados, também acabaram tendo um triste destino, derrubados pelos sucessivos circos que ali se instalaram. Tiveram o mesmo fim que a centenária paineira que existia ao lado da escola, do outro lado da rua.
Agora, despontando a primavera, os ipês remanescentes parecem explodir em amarelo. Flores admiradas, ao mesmo tempo que vão pausadamente caindo, transformando a grama meio praguejada em tapete dourado. Uma falsa impressão de “noblesse oblige” de algo que ficou a desejar. Chamam a atenção, pois há muito os ipês da cidade já floresceram. Amarelos, roxos e até o branco, mais perene que os outros, cujas flores só resistem três dias, já deixaram os galhos pelados e se encheram de folhas. Tardiamente, sem saber que a temporada é cada vez mais precoce e já passou. Talvez por não terem noção da “passagem da boiada”...
Esses ipês ainda se quedam a contemplar o Memorial dos Tropeiros, sentinela da história e do patrimônio cultural, testemunhando a indiferença com que as pessoas por ali passam...
Atrás, sobre o grande e agora totalmente cimentado pátio, alijado de qualquer possibilidade de uma mínima sombrinha benfazeja, resta apenas a aridez da função ordinária a que foi proposto: estacionar veículos. Apesar de que, às vezes, se preste a ser procurado por grupos para se encontrar, pela falta de opção de local, para jogar conversa fora. Coisas de Ponta Grossa.
Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, engenheiro civil, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).