Crônicas dos Campos Gerais: ‘Contemplação’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Contemplação’

O texto de hoje é de autoria de Dionezine de Fátima Navarro

Dionezine é Farmacêutica/Bioquímica docente e pesquisadora da UEPG
Dionezine é Farmacêutica/Bioquímica docente e pesquisadora da UEPG -

Da Redação

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O texto de hoje é de autoria de Dionezine de Fátima Navarro                                                             

Num atalho pelo Parque Ambiental da Princesa dos Campos, a singeleza me obrigou a parar e me encantar!  E me fez balançar nas malhas do bucolismo. Lá no fundo, de uma Maria Fumaça parada no tempo da nostalgia pareciam descer passageiros que se recusavam a fazer parte do passado diante de tantos risos de crianças que brincavam em festa nas balanças e gangorras do parquinho. Como um arremate da moldura de uma obra de arte, um arco de flores cor-de-rosa às pencas, como uma cascata (chamam de sete léguas), parecia sondar um quero-quero...

Pássaro ora assustado, ora alçando voos rasantes em passantes distraídos.  Ou ora pendurado numa perna só a admirar homens e mulheres, que, como caminhantes do agora, transitavam quase embriagados com os compromissos do cotidiano. Esses não tinham tempo ou talvez nem retinas para perceber o pequeno pássaro que ficava alguns minutos estático, parecendo observar o futuro. Dava alguns passinhos e trocava de perna.  E lá se pendurava no outro pé e de novo contemplava o verde que o abraçava, como se fosse o manto do final de tarde.   Parecia não querer ir embora e, se alguém conseguisse chegar perto dele, poderia até descobrir que estava de olhos fechados a sorver o vento que brincava com pétalas bailantes, que, num final de ciclo, se desprendiam das árvores a brindar o início do outono.  

Tão quieto, parecia compreender que ali se iniciava uma festa da nova estação. E ele continuaria a fazer parte desse espetáculo. O manto verde do gramado em vitalidade era quase engolido pelo azul do céu que também desejava ser um cobertor para a noite que se aproximava.  Pensei: será que, como eu, ele fica a imaginar a história de vida de cada um que passava por ali?

 Histórias únicas e intransferíveis. Como ele, eu também não queria ir embora.  A correria do cotidiano no final do dia boicotou meu nostálgico enlevo. Mas ainda dediquei alguns minutos a registrar uma foto com o pássaro intrigante, imaginando o que ele poderia “querer mais”, uma vez que ele já tinha o maior dos dons... O dom da contemplação”. Mesmo que seja... Contemplar numa perna só.  

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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