Crônicas dos Campos Gerais: ‘As coisas’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘As coisas’

O texto de hoje é de autoria de Rosana Justus Braga

Rosana é formada em Letras Português-Francês pela Universidade Católica do Paraná e possui Mestrado em Teoria da Literatura nesta mesma Universidade.
Rosana é formada em Letras Português-Francês pela Universidade Católica do Paraná e possui Mestrado em Teoria da Literatura nesta mesma Universidade. -

Da Redação

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O texto de hoje é de autoria de Rosana Justus Braga

Olho em volta e estou cercada de coisas. Imprescindíveis, eu diria.  

Esta poltrona, sem dúvida, me é indispensável, os móveis e estes objetos todos também o são; os quadros... ah, como vestem bem as paredes do meu mundo; os livros a despencar das estantes são vozes que me falam; os adornos contam um pouco das histórias que foram. E este abajur, então, quantas sombras dissolveu no fluxo sem refluxo das horas.  

Precisei de todas estas coisas para chegar até aqui. Foram-me essenciais, chego a pensar. Como seria viver sem elas? 

É que reflito, neste instante, sobre desapego e impermanência, fruto de leituras feitas e refeitas que hoje despertam e vêm me cutucar o espírito. Conceitos incontestáveis, mas quão distantes das aspirações humanas. 

Não, não desatamos vínculos com facilidade; olho para a mesinha de canto e é como se ela me contasse um pouco de tudo que observou, caladamente, de seu ponto de vista. E o pequeno vaso que ela sustenta tem também suas teias e me aprisiona; é de um verde pálido, ornado com filigranas de prata, sugere mistérios do Oriente e me remete a tudo que não sei.  

Gosto da neutralidade das coisas, da cumplicidade que emanam, de seus olhos cegos. Estar entre elas é estar só e estar acompanhado. Não incomodam, não julgam, não aplaudem, não condenam. Testemunhas mudas que são, nada terão a revelar ao mundo além de seu próprio tempo.   

Faço meu inventário particular. Se pretendo desatar-me, urge saber de quê. Listo as prescindíveis, que são inúmeras, as banalidades que me cercam; ao lado, relaciono aquelas que não me podem faltar. Sobre elas é que devo praticar meus exercícios filosóficos. 

Frágil criatura, parece que me falto se abro mão das coisas que gosto. Pura tolice, quero crer, a verdadeira alegria dispensa claros motivos, assim dizem os que sabem, os que venceram a luta contra os sortilégios da matéria. 

Mister aprofundar as leituras se a pretensão é evoluir, porque só há, de fato, uma verdade: nós passaremos, mas as coisas... estas, ficarão. 

Texto produzido no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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