Crônicas dos Campos Gerais: ‘Casa do índio’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Casa do índio’

O texto de hoje é da professora Marivete Souta. Boa Leitura!

Marivete Souta é Mestre em Estudos da Linguagem pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Marivete Souta é Mestre em Estudos da Linguagem pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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O texto de hoje é da professora Marivete Souta. Boa Leitura!

É mais um dia de trabalho na mesma escola que me espera todas as manhãs. Nesse dia, a pressa não me acompanha e posso ir observando o que há no percurso tão curto entre minha casa e o local onde trabalho há tantos anos.

 Meu olhar segue percorrendo o entorno das ruas, passo pelo cemitério São João e penso no quão sou abençoada por poder respirar esse ar fresquinho que enche meus pulmões numa manhã cheia de nuvens, anunciando a música que mais gosto: o som da chuva. As poucas árvores que há em frente às casas já estão desfolhando para deixar espaço para o nascimento de novas flores.

Ao lado da escola uma casa me espia todos os dias, mas hoje ela me chamou para conhecê-la.

É uma casa desbotada pelo tempo, decrépita, a sujeira impera em todas as extensões que meus olhos alcançam. Percebo a fuligem, sinais que ficaram de um incêndio que ocorrera ali. A causa foi uma fogueira feita pelos esporádicos moradores que têm como cultural essa prática. O lixo se acumula por todos os lugares e o odor é desagradável, demonstrando que não há condições básicas para abrigar os fortuitos moradores.

 A Casa do Índio – alcunha que tem sua origem devido à serventia que a casa tem -, apesar de seu aspecto reprovável, é a moradia temporária de indígenas que vêm a Ponta Grossa para vender seus artesanatos.

 Hoje, pela janela da alma, vejo essa casa e me faço tantas perguntas que nunca fiz.  Tantas vezes passei por ela sem reparar que abriga fortuitamente cultura e história.

Penso no chimarrão que tanto gosto... O consumo de erva-mate fria ou quente vem dos indígenas, como também o preparo de alimentos com mandioca, milho e pinhão, como o mingau, a pamonha e a deliciosa paçoca, que me enche a boca de água, alimentos tão comuns em minha mesa.

Penso na guabiroba de sabor doce e suave. No maracujá azedinho, no butiá amarelinho. Capivara, jabuti, cutia, Goioerê, Candói, são palavras de origem indígena que me vêm à mente. Nós absorvemos sua língua, sua cultura, e esquecemos deles, de sua história, de sua contribuição cultural.

 Apesar de terem tentado apagá-los de nossa história, a cultura desse povo tão sofrido pela quase dizimação, permanece viva. É uma ideia errada pensar que são um povo atrasado e primitivo, pois onde há um indígena há cultura. O que se poderia fazer por eles? Creio que estaremos dando o primeiro passo quando pararmos não apenas para olhar, mas para enxergar.

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

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