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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Gustavo’

Fernanda Wiegand Mayer, 21 anos, nascida em Palmeira. Ama cães, livros, café e boa música.
Fernanda Wiegand Mayer, 21 anos, nascida em Palmeira. Ama cães, livros, café e boa música. -

Texto de autoria de Fernanda Wiegand Mayer, licenciada em Ciências Biológicas,

Comunidade Rural de Vieiras, Palmeira

Como todo bom paranaense, Gustavo era mais um piá que se utilizava

das inúmeras gírias e expressões características da região, e que adorava

jogar búlicas. Certo dia, ao sair espuletiar com seus amigos, voltou

revoltadíssimo por ter perdido um jogo de búlicas em que tinha apostado todas

as suas. Sua mãe, percebendo que o menino estava meio borocoxô, perguntou

ao filho o que estava acontecendo, ele disse: — “Ah, manhê! Eu sempre fui o

melhor jogador de búlica e nunca tinha perdido... E hoje, perdi TODAS! Que

diânho mêmo! E agora, que que eu faço mãe?”.

A mãe de Gustavo, que havia imaginado alguma situação mais séria,

nem deu muita pelota pro filho e respondeu: — “Ah, pare de choramingá por

meia dúzia de búlica, piá! Vá arrumá um serviço, trabaiá com o pai, assim você

ganha uns trocado e compra tuas búlica de novo...”.

Gustavo, muito entusiasmado com o conselho da mãe, foi atrás do pai

na roça, no mesmo instante, em busca de algo que lhe rendesse uns trocados

para recuperar sua coleção e contou ao pai toda a história. Seu pai, homem

simples do campo que era, disse-lhe simplesmente: — “Fio, aqui com o pai a

gente trabaia é pra compra comida, não búlica. Você já tá na idade mesmo, a

partir de agora vai parar com essas brincadeira e vai me ajudá aqui no

serviço!”.

Gustavo tinha apenas 12 anos e não entendeu o que o pai quis dizer,

mesmo assim, não ousaria desobedecer... Foi obrigado a crescer tão antes

quanto gostaria, e isso lhe roubou anos da tão sonhada infância. Mas apesar

do trabalho árduo da roça, ele nunca esquecera que sempre foi muito feliz, e

passou aos seus descendentes tanto o jogo de búlicas quanto as gírias

paranaenses, de filhos para netos, de netos para tataranetos... Hoje tenho

gratidão por essa riqueza que deixou a nós. Gustavo foi meu tataravô.

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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