Ponta Grossa
Grandes indústrias de PG temem apagão da mão de obra
Atualmente, 21 mil pessoas trabalham nas indústrias, em Ponta Grossa, sendo que a previsão é que esse número ultrapasse os 25 mil nos próximos anos. Desafio da Fiep é ajudar as empresas a enfrentarem esse gargalo e ampliar sua produtividade
João Bobato | 27 de dezembro de 2025 - 06:20
A industrialização é o principal motor econômico de Ponta Grossa, consolidando-a como o maior polo industrial do interior do Paraná, com destaque para os setores metal mecânico, agroindustrial e madeireiro, impulsionada por grandes empresas (Tetra Pak, Ambev, Continental, Mars) e uma logística estratégica, gerando forte valor adicionado e investimentos bilionários, impactando positivamente a infraestrutura e serviços públicos locais.
Em entrevista para a equipe de Jornalismo do Portal aRede e Jornal da Manhã, André Costa, coordenador do NDI 30+ (núcleo ligado à Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa), a preocupação de todos os representantes destas indústrias é a demanda por mão de obra, que deve crescer ainda mais no município devido à chegada de novas empresas. “Uma preocupação grande é como vamos preparar, reter os profissionais e qualificar a mão de obra. Esse é o ponto principal, pois sem as pessoas qualificadas, nós não conseguimos produzir ou avançar”.
Segundo dados apresentados pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, atualmente, 21 mil pessoas trabalham nas indústrias, em Ponta Grossa, sendo que a previsão é que esse número ultrapasse os 25 mil nos próximos anos. “Então, a nossa preocupação é como vamos manter as indústrias que já temos, além de olhar para as empresas que estão chegando no município. O desafio é muito grande”, destaca.
De acordo com Rafael Issa Rickli, diretor de indústrias da Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa (Acipg), e coordenador Regional Centro Oriental da Fiep, relatou que a mão de obra e empregabilidade são elencadas entre as maiores preocupações de todas as empresas. “Fomentar o treinamento e a manutenção dos funcionários é a prioridade. Temos que preparar a cidade para essa nova fase industrial e antecipar os problemas que virão. Há previsão de apagão de mão de obra e esse é o foco do trabalho”.
Conforme divulgado pelo Fiep, mesmo com saldo positivo de 1.210 novas vagas em outubro, a indústria do Paraná registrou queda expressiva de mais de 70% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo dados do Novo Caged, evidenciando a desaceleração do mercado de trabalho industrial. No acumulado de 2025, os 38 mil postos abertos representam retração de 37% frente ao ano anterior.
Conforme o IBGE, a disponibilidade de trabalhadores está em um dos menores níveis da série histórica. No terceiro trimestre, a taxa de desemprego ficou em apenas 3,5%. Com dificuldade crescente para contratar, repor equipes e atender às demandas nas linhas de produção, as indústrias têm sido obrigadas a rever estratégias de operação e crescimento.
Diante desse cenário, a Fiep anunciou o lançamento da Expo+Indústria, feira que será realizada entre 25 e 27 de agosto de 2026, em Curitiba. O evento se propõe a reunir soluções capazes de ajudar as empresas a enfrentarem esse gargalo e ampliar sua produtividade. A feira vai concentrar expositores especializados em tecnologia aplicada, automação, digitalização, integração industrial e sistemas avançados de gestão — ferramentas que reduzem a dependência de trabalho operacional e mitigam o impacto da escassez de mão de obra. “A feira será uma resposta prática para um problema que afeta a competitividade do setor”, explica Jackson Bisi, sponsor da Expo+Indústria.
Além de enfrentar a dificuldade imediata de contratações, a Expo+Indústria tem foco em ampliar a produtividade. Para isso, busca estimular uma mudança estrutural: ampliar o acesso a tecnologias que aumentem eficiência, modernizem processos e reduzam a dependência de mão de obra em funções operacionais — tendência crescente no ambiente industrial.
Com a proposta de reunir de 30 a 40 empresas âncoras e mais de 100 expositores especializados, o evento deve se consolidar como ponto de encontro estratégico entre as necessidades reais do setor e as soluções disponíveis no mercado, reforçando a busca por eficiência em um contexto de escassez de trabalhadores.
GIORGIA DESTACA LEVANTAMENTO
A presidente da Acipg, Giorgia Bin Bochenek, destacou a importância da iniciativa. "Fico muito feliz com essa iniciativa do Núcleo das Indústrias, que também é um braço da Acipg. Precisamos de fato ter encontros como esse para discutir as dores das grandes indústrias. Este é mais um braço do NDI para que vocês possam conversar e trazer as suas dores. Sintam-se à vontade, porque juntos nós somos mais. Precisamos pensar no desenvolvimento da nossa cidade, porque quando a gente desenvolve o meio, a gente desenvolve internamente também", afirmou.
Ao Portal aRede, a presidente da Acipg, Giorgia, declarou que a formação deste grupo, reunindo as trinta maiores indústrias da cidade, demonstra a capacidade da Acipg de promover uma governança privada sofisticada, onde líderes empresariais alinham prioridades e constroem uma agenda comum para impulsionar a competitividade de toda a região.
“Essa capilaridade – que vai do microempreendedor ao grande industrial – é a base de uma representatividade genuína e abrangente. Em 2026 as prioridades levantadas pelo NDI 30+ – com foco em mão de obra qualificada, energia, aeroporto e transporte – serão transformadas em planos de ação concretos, em parceria com o poder público e instituições de ensino”, disse Giorgia.
SETOR PONTUA SEIS PRIORIDADES PARA 2026 EM PG
O Núcleo das Maiores Indústrias (NDI 30+), da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), realizou recentemente uma reunião e estabeleceu as principais diretrizes de atuação para o próximo ano e identificou seis prioridades críticas para o setor, sendo a mão de obra qualificada apontada como a demanda mais urgente.
André Costa, coordenador do recém-criado NDI 30+ e gerente de manutenção e projetos na Tetra Pak, caracterizou o encontro como um divisor de águas. "Um marco histórico para a indústria ponta-grossense. Essa união das 30 maiores indústrias da cidade só resultará em benefícios a todas as indústrias e também para a população da cidade. Estamos unidos a partir de agora para discutirmos problemas e oportunidades, além de podermos compartilhar ideias que temos por termos culturas diferentes entre as indústrias", afirmou.
Rafael Rickli, diretor de indústria da Acipg e coordenador Regional Centro Oriental da Fiep, ressaltou o impacto coletivo da iniciativa. "Reunir as maiores indústrias de Ponta Grossa é essencial para fortalecer nossa capacidade de competir, inovar e crescer. Quando líderes empresariais se conectam, surgem soluções conjuntas, parcerias estratégicas e uma visão comum para desenvolver toda a região. Unidos, somos mais fortes — e fazemos Ponta Grossa avançar muito mais rápido", declarou.
Leonardo Puppi Bernardi, vice-presidente da Acipg, conectou as ações do núcleo ao planejamento de longo prazo da cidade. "Essa reunião técnica e periódica das maiores indústrias de Ponta Grossa é parte da governança necessária para alcançarmos os objetivos traçados no 'MasterPlan Ponta Grossa 2043'. Com a convergência de esforços e apontamento das prioridades para o setor público, podemos antecipar algumas melhorias necessárias para continuar avançando e melhorando nosso ambiente de negócios. E isso impacta não somente Ponta Grossa, mas toda a região dos Campos Gerais", analisou.
Depois da mão de obra, a energia elétrica é o segundo tema mais relevante, com foco em estabilidade, custo e disponibilidade. O aeroporto foi reconhecido como fator estratégico para logística e atração de investimentos, ocupando a terceira posição. Transporte de funcionários, acesso à indústria e utilidades como gás, vapor e água completam a lista de demandas prioritárias. Para 2026, ficou definido que o foco inicial será nas quatro primeiras prioridades, consideradas as mais críticas.
De acordo com André, o grupo vai trabalhar nas soluções para os quatro temas priorizados em reuniões bimestrais. “Queremos fomentar também a criação ou trazer câmaras técnicas, que já existem na cidade, para que tudo seja discutido junto, além de podermos contemplar a nossa percepção”. O Núcleo das Indústrias, por meio do NDI 30+, reforça assim seu compromisso com o desenvolvimento do setor industrial regional, atuando de forma estratégica e colaborativa para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do mercado.
Ele ainda destacou a representatividade das 37 maiores empresas convidadas para fazer parte do grupo. “A arrecadação que essas empresas fazem, representam em torno de 60% de arrecadação de indústria na cidade. É algo muito expressivo, sendo que a arrecadação somada dessas 30+ é maior do que a arrecadação de cerca de 5,3 mil municípios”.
PRINCIPAIS DEMANDAS DE 2026ENERGIA ELÉTRICA
Ao Portal aRede, o Coordenador do grupo das 30+, comentou que a segunda prioridade escolhida pelas indústrias foi a energia elétrica. “O que afeta principalmente as indústrias são as pequenas falhas e oscilações, e com esses eventos, temos perda de material e produtividade até o restabelecimento por completo da produção.” Para Rafael Rickli, há muita queda de energia e problemas causados por variação. “Uma única multinacional tem um dos piores desempenhos do grupo em número de quedas e tempo de parada”, contou. No entanto, ele destaca que o grupo está trabalhando em conjunto com a Fiep para buscar uma solução que solucione o problema.
TRANSPORTE DE FUNCIONÁRIOS
O coordenador do NDI 30+, André, expressa que a opinião dos representantes das indústrias, é que hoje existem poucas empresas em Ponta Grossa que fazem o transporte particular, assim como o transporte público, que tem somente uma empresa. Conforme André, atualmente, o funcionário fica em torno de uma hora ou mais, para ir até a indústria, assim como para voltar para a casa. “Então, temos que pensar em otimizar rotas”, finalizou. Ao Portal aRede, Rafael declarou que o grupo irá trabalhar em alternativas para a redução de custos operacionais. “Há muitas linhas de ônibus sobrepostas pelas empresas que podem reduzir custos se trabalharmos em conjunto”.
ACESSOS AO SETOR INDUSTRIAL
Segundo André, o acesso à indústria ficou entre as prioridades a serem melhoradas, por muitas indústrias serem próximas das BRs. “São muitos caminhões concorrendo com pequenos veículos e ônibus, sendo que o acesso para veículos pesados acaba sendo o mesmo dos veículos leves, onde temos alguns gargalos”. Já Rafael, comentou que o acesso à indústria se refere à infraestrutura logística da cidade. “O foco aqui é trabalhar em conjunto com a prefeitura e com o governo estadual, para propor alternativas que facilitem o acesso às empresas pelos funcionários”.
ÁGUA E GÁS NATURAL
André menciona que a preocupação dos representantes é principalmente com relação a fornecimento de gás natural e água: “Precisamos garantir a disponibilidade para as indústrias existentes e para as novas que estão chegando também tenham acesso fácil a gás e água”. Para o diretor de indústrias da Acipg, Rafael, é preciso buscar junto das empresas responsáveis a solução para problemas estruturais da área industrial, como o aumento na disponibilidade de água e gás natural.
AEROPORTO FUNCIONAL
O coordenador do grupo NDI 30+ traz o relato dos representantes: “O aeroporto é um tema muito crítico. Uma cidade com mais de 400 mil habitantes perde para municípios menos populosos, que já possuem um aeroporto”. Segundo o grupo, para as indústrias, o aeroporto é sinônimo de ganhar tempo. “Queremos ter a chance de ir e voltar de uma forma rápida e, hoje, para nos deslocarmos para outros locais do Brasil, assim como procurar voos internacionais, precisamos ir até Curitiba”. Já Rafael, declarou que a falta de voos locais, aliado aos problemas encontrados para acessar o aeroporto de Curitiba, tem causado transtornos para as empresas.
NDI FAZ VISITA TÉCNICA À TETRA PAK
A Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), por meio de seu Núcleo das Indústrias (NDI), realizou uma visita técnica à fábrica da Tetra Pak em Ponta Grossa. A comitiva, composta por membros do NDI 30+ e convidados, foi recebida pelo diretor industrial da unidade, Salvador Marino, e por todo o corpo gerencial para um encontro focado em diálogo, intercâmbio de conhecimento técnico e troca de experiências.
Durante a visita, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer em detalhes os modernos processos produtivos da planta, sua infraestrutura e suas operações globais. Um dos momentos destacados foi a apresentação do programa "Elas na Indústria", uma iniciativa pioneira desenvolvida na unidade de Ponta Grossa com o objetivo de estimular e ampliar a participação feminina no setor industrial, refletindo o compromisso da empresa com a diversidade e o desenvolvimento humano.
Rafael Issa Rickli, diretor de indústria da Acipg e coordenador regional da Fiep, ressaltou o valor do encontro. "Fomos recebidos de forma muito acolhedora em um encontro marcado por diálogo, conhecimento técnico e troca de experiências. Conhecer iniciativas como o 'Elas na Indústria' nos inspira e mostra caminhos para o desenvolvimento do setor em nossa região", afirmou.
A secretária municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional, Faynara Merege, enfatizou a importância estratégica da aproximação. "A visita à Tetra Pak reforça exatamente o que defendemos na Secretaria: aproximação constante com as grandes indústrias, troca de experiências e construção conjunta de soluções para elevar a competitividade de Ponta Grossa. Quando o poder público se conecta com quem produz, abre caminho para inovação, geração de empregos e desenvolvimento econômico sustentável. Esse diálogo não é simbólico, ele é estratégico", declarou.
Leonardo Puppi Bernardi, vice-presidente da Acipg, detalhou a experiência. "Conhecendo as pessoas que trabalham na Tetra Pak se compreende o nível de excelência global alcançado pela companhia. Tivemos o privilégio de fazer uma visita guiada por todo o processo industrial das embalagens e constatar o altíssimo nível de qualidade e organização", comentou. Ele também mencionou desafios compartilhados pela empresa, como a sensibilidade dos processos industriais a interrupções no fornecimento de energia elétrica testemunhados durante a visita e um tema de interesse comum ao setor.
A visita reforça a atuação do NDI 30+ como um fórum estratégico para identificar desafios coletivos das grandes indústrias e articular soluções junto ao poder público e concessionárias de serviços. A iniciativa demonstra o compromisso da Acipg em promover a integração, a troca de conhecimento e o fortalecimento do ecossistema industrial regional.