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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Sons da minha rua’

Sueli Fernandes, professora aposentada, filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max.
Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu ComigoComigo... -
viagens pelo mundo'; em 2019.
Sueli Fernandes, professora aposentada, filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu ComigoComigo... - viagens pelo mundo'; em 2019. -

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa,

produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais 

Pela manhã arredo as cortinas, abro a janela e deixo entrar a claridade e

o calor aconchegante do sol que embeleza este dia. O céu está azul, as

nuvens formam figuras cujos contornos se parecem a uma ovelha, mãos juntas

em oração... Observo como se desfazem e se transformam. Admiro os campos

que enchem a paisagem de verde, bem ao longe, no horizonte, campos que se

estendem além do casario do bairro chegando próximo a Carambeí.

Na casa da frente o vai e vem começa cedo com os adultos saindo para

o trabalho e os jovens para o colégio. Permanecem em seu posto somente os

dois cachorros policiais, guardiões do patrimônio, a latir para tudo o que passa

na rua. Os alunos do Polivalente começam a transitar, um a um ou em grupos

falantes, provocando os cachorros, fazendo-os pular no gradil e a latir mais

fortemente. Na jardineira da janela, os gerânios coloridos, com seus galhos

trapezistas, adornam a fachada da casa e reforçam a aparência de lar, de

família. Um rapaz corta a grama da casa ao lado e uma goiabeira assiste

silenciosa. Por uns minutos a calma se instala. Eu me distraio com o bordado

de ponto cruz que estou fazendo e esqueço da vida.

Passa um caminhão com megafone oferecendo gás, um vendedor de

panos de prato toca a campainha: — Seis por deiz real, dona! — Eu agradeço

mas não compro. Pessoas conversam em direção ao ponto de ônibus. Vão ao

trabalho, às compras... Da esquina vem uma moto. É o carteiro que chega de

casa em casa entregando a correspondência que diminui a cada dia,

substituída pela tecnologia. Os cachorros latem até o término de suas entregas.

Mais uma vez me concentro no trabalho quando sou içada dos meus

pensamentos por uma buzina. Esse som, como se fosse um relógio, me lembra

que são onze horas da manhã. É o pai da vizinha que chega todos os dias,

exatamente no mesmo horário. Brinca com os cães que já o conhecem e entra

falando alto: — O que tem de boia hoje?

Os estudantes retornam após o término das aulas e parecem mais

animados que nunca. Riem, se empurram, alguns casais de mãos dadas num

namorico de adolescentes, e os cães latem deixando à mostra seus perigosos

caninos. Aquele som não os incomoda, até parece que é divertido.

As horas passam céleres seguindo seu curso inexorável e o sol vai

adormecendo. Os ponteiros do relógio não se detêm. O amanhã é uma

incógnita mas os sons de hoje possivelmente se repetirão amanhã como um

relógio. Cerro as cortinas e os cães latem.

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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