PUBLICIDADE

Crônicas dos Campos Gerais: ‘Antes do último beijo’

O texto de hoje é da professora Marivete Souta. Boa Leitura!

Marivete Souta é Mestre em Estudos da Linguagem pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Marivete Souta é Mestre em Estudos da Linguagem pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

O texto de hoje é da professora Marivete Souta. Boa Leitura!

 Ela dá um beijo no filho, manda uma mensagem para a amiga, olha-se no espelho e encontra lá a menina que ainda habita em si e convive com a mulher madura que se tornou. Sai... e não volta mais. Tudo foi feito pela última vez. A efemeridade da vida é um fato, somos passageiros prestes a partir, todavia o modo como essa vida foi tolhida nos abala porque sua vida esvaiu-se pelas mãos de quem amou, contrariando tudo que entendemos por amor. Saint Exupéry, em O Pequeno Príncipe, fala do amor como o entendo: o amor não pode ser confundido com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Contrariando a opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, é contrário ao amor. Este faz sofrer. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera nada em troca.

A mulher assassinada pelo ex-companheiro ocorrida em dezembro deste ano, aqui nos Campos Gerais, relembra uma tragédia acontecida há mais de 100 anos, daquela que hoje é conhecida como a Santinha dos Campos Gerais, Corina Portugal. Era 1885 quando o marido a assassinou com trinta e duas facadas. Ela se tornou insígnia da violência contra a mulher nesta cidade. Seus gritos de dor reverberam hoje nesta tarde cinza e os Campos Princesinos choram novamente a morte de uma mulher ocorrida em situação cruel.

Corina Portugal lia um livro de Machado de Assis, assim disseram. Refletia ela sobre a obsessão de Bentinho por Capitu?! Aquela ia com o filho à escola no momento que foi pinçada inclementemente da vida, quimera perdida!

 Quantas outras mulheres morreram, morrem e morrerão pelas mãos de seus companheiros ou ex-companheiros? O número de mulheres vítimas de feminicídio aumenta a cada ano no Brasil. Conforme dados de 2018, do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 29,6% dos homicídios dolosos de mulheres no Brasil são feminicídios e 41,8% acontecem no Paraná.

Antes que a amargura e a tristeza venham visitar-nos inesperadamente, trazidas pela morte de uma filha, irmã, mãe, mulher, gritemos em uníssono por um mundo sem violência contra a mulher. Quando ocorre um feminicídio todas nós mulheres nos sentimos feridas. Vivenciamos um vazio irrespirável.

Antes do último beijo, antes que a cortina se feche e a peça termine, que a vida seja tratada como uma dádiva divina. Deus nos concede uma página de vida nova no livro do tempo, a cada dia, e que nenhuma página seja arrancada de nós abruptamente.

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MAIS DE MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

DESTAQUES

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE