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Usinas de energia eólica/solar: O Brasil está preparado para isso?
Da Redação | 05 de julho de 2025 - 01:22

Por Marcelo Mendes
Tidas como a solução para os problemas de energia renovável
no Brasil e ser uma alternativa oportuna de fonte energia limpa, as novas
usinas eólicas e solares que estão entrando em operação no Brasil estão
apresentando dificuldades para startar seus projetos. Há a justificativa que
elas poderiam estar sobrecarregando a rede elétrica, porém ainda não há
informações até este momento em que medida esses informes são absolutamente
concretos e seguros, e até se não haveria outras causas que não foram esclarecidas.
Uma perspectiva importante é saber por que essa dúvida
surgiu só depois que foi feito o edital, leilão, e a licitação do projeto, e
principalmente o vencedor do processo licitatório tenha implementado sua
fazenda eólica ou solar, e somente depois saber que não teriam condições plenas
de começar a gerar energia como previsto. A evolução desse quadro não deveria
ter sido de forma desordenada e incoerente.
É uma situação lamentável e pouco profissional que prejudica
aqueles investidores que fizeram um enorme aporte no negócio da geração de
energia limpa e agora são penalizados, ao ficarem impossibilitados de ter o
retorno sobre investimento no momento exato em que começariam a faturar. Esse
ambiente desfavorável desequilibra a operação dos negócios, atrapalha a cadeia
de suprimentos e o estado de ânimo da força de trabalho.
Segundo informou a agência de notícias Reuters, em regiões
como o Nordeste, a capacidade de transmissão hoje é insuficiente para escoar
toda a energia gerada, levando à prática de ‘curtailment’ (redução ou
interrupção forçada da geração de energia), em que parte da produção é
descartada. Essa limitação, em 2024, resultou em perdas estimadas de R$ 700
milhões para o setor eólico e R$ 50 milhões para o setor solar.
Independentemente do excedente de energia e da falta da
respectiva rede de distribuição compatível, o cenário deveria ter sido
previsto, além de precisar ser mais bem dimensionado, com mais profundidade nos
estudos, e na fase de planejamento ter sido feita uma ampla avaliação das
condições reais. Precisamos de seriedade nesse tipo de projeto para que
investidores se sintam confiantes e aproveitem a oportunidade com segurança e
mais confiança. As novas geradoras de energia são uma fonte econômica que muito
contribuirá para a expansão do PIB nacional, entre outros benefícios.
Economicamente, hoje, temos uma oportunidade ímpar de
crescer, mas a dúvida é saber qual o nível de desenvolvimento do País será
necessário para comportar a expansão e o investimento em energias alternativas.
O poder público parece estar imóvel neste momento e talvez, por isso mesmo, a
demanda do setor, especialmente no caso para fornecedores de dispositivos e
componentes de fazendas de energia limpa não tenham crescido como o esperado
nos últimos anos.
O emprego de usinas de energia eólica e solar no Brasil
efetivamente é promissor, tem um grande potencial em vários segmentos, além da
previsão de crescimento expressivo e de mais investimentos daqui para frente.
Contudo, persistem desafios significativos ligados à infraestrutura, regulação,
oscilações e desenvolvimento da cadeia produtiva que precisam ser superados
para que o País possa usufruir completamente dos benefícios dessas fontes de
energia limpa e renovável. Só assim assumiremos uma posição de liderança em
energia limpa. A realidade é que as ações preliminares para o uso de usinas de
energia eólica e solar neste País ainda são um assunto intrincado, com
progressos expressivos, mas diante de vários obstáculos a serem vencidos.
Nos últimos exercícios, houve um aumento expressivo na
capacidade de geração de energia eólica e solar no Brasil. Já no ano passado,
essas fontes constituíram uma parte considerável do crescimento da matriz
elétrica. Conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) houve um
registro em 2024 de expansão de 10,9 GW na capacidade elétrica, com 91,13%
desta potência com origem em fontes eólicas e fotovoltaicas.
Especialistas do setor confirmam que apenas a energia eólica
responde por aproximadamente 33 GW da capacidade instalada, representando cerca
de 13,5% da matriz elétrica nacional. Já a energia solar colabora com mais de
40 GW da capacidade instalada, sendo, portanto, a segunda maior fonte de
geração no País, atrás apenas da hidroelétrica. No último ano, publicações
especializadas em energia noticiaram que houve a instalação de 256 novas usinas
em 16 Estados pelo País. A região mais beneficiada foi o Nordeste até por causa
das suas características geográficas e climáticas.
Por tudo isso, o Brasil está preparado e tem avançado, para
se consolidar como um dos líderes globais em fontes renováveis. Para se ter uma
ideia de cenário da infraestrutura já instalada, só a indústria eólica daqui
conta com uma cadeia produtiva sólida, composta por seis fabricantes de
turbinas e várias empresas especializadas em componentes e serviços. Há cerca
de dois anos, uma pesquisa realizada pela empresa de análise de mercado
ePowerBay revelou a participação de 67 fabricantes no mercado brasileiro de
inversores solares para geração distribuída. Os 20 principais produtores
responderam por mais de 80% dos sistemas de energia solar atualmente em
funcionamento no país.
Não se pode ignorar, desta forma, que nosso País detém um
dos maiores potenciais no mundo para geração de energia eólica e solar. Isso
porque possuímos ventos consistentes em algumas regiões e alta irradiação solar
em boa parte do nosso território. Especialistas do segmento calculam, que se
tudo der certo, em quatro anos, as energias renováveis eólica e a solar serão
responsáveis por 51% da produção de energia no Brasil e com a capacidade de
expandir ainda mais sua posição de liderança em energia renovável.
Esse grande avanço gigantesco, no entanto, exigirá políticas
governamentais apropriadas e investimentos precisamente calculados e mais bem
mensurados. Além disso, a infraestrutura nacional de energia necessita ser
melhor adaptada para integrar a variabilidade das diferentes fontes de energia.
Marcelo Mendes é gerente geral da KRJ Conexões ( https://krj.com.br/ ). É economista e executivo de marketing e vendas do setor eletroeletrônico há mais de 15 anos, com atuação inclusive em vários mercados internacionais.