Debates
Consolidando previsões: o inabalável crescimento do agronegócio
Da Redação | 24 de novembro de 2023 - 00:02

Por Diogo Luchiari Fructuoso
Num cenário nacional em constante mudança e sob a iminência
de um novo governo, as previsões tornam-se complexas e estão repletas de
nuances. Quando lancei minhas previsões para o agronegócio brasileiro, estava
ciente de que as variáveis eram múltiplas e as certezas, escassas. A
expectativa era, contudo, de que o Brasil mantivesse seu vigor no agronegócio,
uma potência incontestável no cenário global.
Na ocasião, refleti sobre a robustez do setor agropecuário,
apesar de um crescimento modesto, pontuando sua independência em relação às
inclinações políticas governamentais e sua capacidade de se sustentar e
prosperar mediante a inovação e a demanda global crescente.
E, ao cotejar minhas análises com os dados recentemente
divulgados pelo IPEA, vejo que, de muitas formas, as premissas se consolidaram.
O agronegócio registrou um crescimento formidável, com um incremento do valor
adicionado em 15,5%, superando as expectativas iniciais de 13,2%.
Os principais protagonistas foram a soja e o milho. No
segundo trimestre de 2023, a produção de soja na região Sul cresceu
surpreendentes 61,4%, enquanto o milho teve um crescimento estimado de 16%.
Esses números refletem não apenas uma colheita abundante, mas também uma
capacidade notável de aumento de produtividade.
Não se trata apenas de soja e milho. Outras culturas
importantes, como cana-de-açúcar e algodão, também apresentaram revisões
positivas em suas estimativas de crescimento. A cana-de-açúcar teve uma
previsão de alta revisada de 6,6% para 8,6%, enquanto o algodão surpreendeu com
um salto de 2,9% para 10,0%.
As produções de bovinos e frangos também superaram as
expectativas, com crescimentos de 10,8% e 7,2%, respectivamente, no segundo
trimestre de 2023. Com esses resultados robustos, as projeções anuais foram
revisadas para 7,0% e 6,3%, respectivamente.
A capacidade do setor de se adaptar a condições
desafiadoras, adotar tecnologias avançadas e implementar práticas sustentáveis
tem sido fundamental. Os produtores brasileiros demonstraram uma resiliência
notável diante de adversidades, adotando práticas agrícolas modernas que
aumentaram a produtividade.
Enquanto estes crescimentos são celebrados, há um sinal
claro de estabilidade projetada para 2024,com uma leve expansão de 0,4% no VA
do setor agropecuário. Uma estabilidade que, por um lado, denota uma certa
resiliência e solidez do setor, mas, por outro, reflete a necessidade imperiosa
de inovação, diversificação e desenvolvimento sustentável.
O cenário para 2024, apesar da antecipação de estabilidade,
ressalta a impermanência do crescimento vertiginoso. Com a soja projetada para
crescer 5,1%, mas com quedas notáveis em milho e algodão, as nuances do futuro
exigem uma atenção meticulosa aos detalhes e às tendências. A pecuária, embora
com projeções positivas, particularmente nos segmentos de frangos e suínos,
requer um monitoramento contínuo para antecipar oscilações e oportunidades.
A interação entre tecnologia e agronegócio, um tema que
explorei extensivamente, torna-se cada vez mais crucial. Com mais de 90% dos
agricultores conectados, a revolução digital no campo é uma realidade. As
empresas precisam dominar a arte de navegar nas complexidades do mundo digital
para criar estratégias de comunicação eficazes e eticamente responsáveis. É
imperativo respeitar a privacidade dos produtores rurais e estar em sintonia
com as normativas da LGPD.
Em minha previsão inicial, fiz referência à capacidade do
setor de manter sua força entre pequenos produtores e à agricultura familiar, e
à necessidade de políticas públicas promissoras. O novo governo tem a
responsabilidade de incentivar o cooperativismo e o seguro rural, mantendo o
diálogo aberto com todos os envolvidos no setor agropecuário.
O agronegócio brasileiro é uma força resiliente que continua
a surpreender positivamente. 2023 foi um ano excepcional, destacando a
capacidade do setor de superar desafios e prosperar. Para 2024, enfrentamos
novos desafios, mas a resiliência, inovação e investimentos no setor podem nos
posicionar para enfrentar com confiança as incertezas que podem surgir.
Enquanto nos encontramos num momento de prosperidade
relativa, a vigilância e a reflexão continuada são essenciais. Devemos
questionar, analisar e planejar com meticulosidade e discernimento,
preparando-nos para as instabilidades futuras e maximizando as oportunidades
que surgem num cenário tão dinâmico e imprevisível como o do agronegócio
brasileiro.
A solidez do agronegócio brasileiro é indiscutível, mas a evolução é um imperativo. As empresas e os produtores que não se adaptarem às nuances e complexidades da modernidade líquida correm o risco de perder terreno num setor tão promissor e vital para a economia nacional.
Diogo Luchiari Fructuoso, Sócio e Chief Marketing Officer da
Macfor