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Reforma Tributária: Heroína ou Vilã?
Da Redação | 15 de novembro de 2023 - 00:08

Por André Charone
O sistema tributário brasileiro sempre foi um desafio digno
dos melhores aventureiros fiscais. Entre impostos federais, estaduais e
municipais, taxas e contribuições, a complexidade atingiu níveis épicos.
Contudo, eis que surge no horizonte a tão esperada Reforma Tributária, a
promessa de uma jornada para desembaraçar esse intricado labirinto e
simplificar a vida financeira de empresas e cidadãos.
No entanto, será que podemos confiar na efetividade dessa
proposta ou a heroína tão aguardada pelos contribuintes se transformará em vilã
antes de ser aprovada?
Vamos nos aprofundar nas mudanças propostas, examinar os
pontos positivos e questionar os desafios que podem surgir nesse caminho.
A Necessidade da Mudança
O atual sistema tributário brasileiro é uma tapeçaria
complicada de impostos, taxas e contribuições que muitas vezes parecem existir
mais para confundir do que para arrecadar. Estima-se que as empresas
brasileiras gastem uma média de 1.501 horas por ano para calcular e pagar seus
impostos, uma marca que nos coloca na liderança mundial da complexidade
tributária. A Reforma Tributária surge como uma resposta a esse desafio, uma
tentativa de simplificar o sistema e promover um ambiente mais propício para os
negócios.
As Mudanças Propostas
A. Simplificação e Unificação
A espinha dorsal da Reforma Tributária é a proposta de
unificar diversos impostos em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual. Essa
mudança tem o potencial de simplificar a vida das empresas, reduzir a
burocracia e fornecer uma visão mais clara das obrigações fiscais. A ideia é
acabar com a multiplicidade de tributos e criar um sistema mais eficiente e
transparente.
B. Não-Cumulatividade para Empresas
Uma das queixas mais persistentes das empresas brasileiras é
a cumulatividade tributária, onde os impostos incidem sobre impostos, gerando
um acúmulo de tributos ao longo da cadeia produtiva. A proposta de
não-cumulatividade permite que as empresas descontem créditos tributários ao
longo dessa cadeia, evitando a tributação em cascata. Isso não apenas pode
tornar as empresas mais eficientes, mas também aumentar a competitividade no
mercado global.
C. Cobrança no Destino e Desenvolvimento Regional
A mudança para a cobrança no destino é uma tentativa de pôr
fim à "Guerra Fiscal" entre estados, onde a localização da produção
era determinada pela busca por incentivos fiscais. A Reforma propõe uma
cobrança mais equitativa e a criação do Fundo de Desenvolvimento Regional
(FDR), buscando equilibrar o desenvolvimento entre diferentes regiões do país.
Isso representa uma guinada na política de atração de investimentos e pode
impactar positivamente o desenvolvimento regional.
Pontos de Atenção e Desafios Emergentes
A. Alíquotas Reduzidas e o Custeio
Apesar das alíquotas reduzidas propostas para alguns
setores, há um questionamento crucial sobre quem arcará com a conta. A
incerteza sobre como essas reduções serão equacionadas permanece, e se haverá
impactos significativos nos contribuintes é uma incógnita.
B. Reforma da Tributação sobre a Renda
O próximo capítulo da Reforma Tributária, focado na
tributação sobre a renda, já está nos planos. A discussão sobre um possível
aumento da arrecadação com essa reforma levanta questões sobre um possível
aumento da carga tributária total. É uma mudança esperada, mas que exige uma
análise cuidadosa para evitar surpresas desagradáveis.
C. A Questão das Alíquotas: A Mais Alta do Mundo?
Uma nuvem de preocupação paira sobre a Reforma Tributária,
especialmente no que diz respeito à alíquota do Imposto sobre Valor Agregado
(IVA) dual. Se o percentual de 27,5% previsto por muitos especialistas se
concretizar, o Brasil poderá ter a alíquota mais cara do mundo. A possibilidade de uma alíquota tão
expressiva levanta dúvidas sobre a competitividade das empresas brasileiras no
cenário internacional.
O que o futuro reserva?
A Reforma Tributária é uma jornada complexa, mas essencial
para o desenvolvimento do Brasil. Os avanços já conquistados são notáveis, mas
há espaço para melhorias até a aprovação final. É crucial que o processo seja
transparente e que as mudanças sejam implementadas de forma a beneficiar a
todos os envolvidos.
Em meio a desafios e expectativas, o contribuinte brasileiro
aguarda ansiosamente por um sistema tributário mais claro, eficiente e justo. A
reforma é uma oportunidade para simplificar a vida dos contribuintes, promover
um ambiente de negócios mais favorável e impulsionar o desenvolvimento
econômico.
Ficaremos acompanhando de perto essa saga fiscal, na
esperança de que o desfecho traga boas notícias para todos os personagens dessa
história tributária brasileira. Por ora, a jornada continua, e estaremos aqui
para desbravar cada novo capítulo dessa narrativa em constante evolução.
André Charone: é Contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).