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Educação a distância: solução ou problema para o Ensino Superior brasileiro?
Da Redação | 02 de setembro de 2022 - 01:54
Por Ronaldo Casagrande
Em 2020, enquanto a maior parte das escolas e universidades
lutava para se adaptar à realidade das aulas on-line, um segmento de ensino
registrou uma explosão de interessados. Aquele ano foi um marco importante para
os cursos superiores oferecidos a distância, com maior número de interessados
que os cursos presenciais. De lá para cá, a educação a distância (EAD),
impulsionada também pela pandemia, não para de crescer.
É bem verdade que tal crescimento se deve principalmente às
instituições privadas, visto que as públicas continuam ofertando, quase
exclusivamente, cursos presenciais. Mas a expansão da EAD é boa ou ruim para o
nosso país?
Do ponto de vista quantitativo, a EAD é uma ótima solução.
Devido à sua capilaridade, pode chegar a praticamente qualquer município
brasileiro, o que permite à população maior acesso à formação superior. Em um
país que tem déficit histórico nesse quesito - e que tenta há anos melhorar
seus índices -, isso é bastante positivo.
Além disso, a EAD tem características que atendem muito bem
ao perfil da clientela da Educação Superior brasileira, majoritariamente
constituída por jovens trabalhadores de classe média-baixa, que usam seu
salário para financiar o próprio desenvolvimento pessoal. Vantagens como preços
mais acessíveis, horários flexíveis e comodidade do estudo em casa também são
fatores que explicam a alta procura por cursos a distância.
Por outro lado, quando avaliamos essa modalidade
qualitativamente, a análise precisa ser mais profunda. Precisamos reconhecer
que os modelos implantados por uma parcela significativa de instituições
brasileiras têm foco essencial no baixo custo, e não na qualidade educacional.
Isso se deve à concorrência acirrada que existe no setor privado da Educação
Superior e à característica socioeconômica da maioria da clientela, que busca
essa modalidade também pelo preço.
Hoje, infelizmente, as tecnologias digitais têm sido muito
mais utilizadas para permitir redução de custos e automatizar processos que
para promover inovações significativas que, de fato, elevem a qualidade do
ensino. Atualmente, nos deparamos com cursos a distância que oferecem uma
infinidade de pirotecnias tecnológicas – apps, inteligência artificial,
jogos digitais, realidade virtual, realidade aumentada, entre outros – que, na
verdade, só encobrem projetos conteudistas, rasos, com estrutura curricular
cristalizada e baixa interação professor/tutor-aluno, dificultando a
participação ativa do estudante.
A EAD pressupõe um estudante que desempenhe um novo papel,
saindo da postura passiva para ser o protagonista de sua aprendizagem. No
entanto, essa autonomia não é percebida em muitos dos alunos de EAD, porque
eles não tiveram condições de desenvolvê-la durante seus anos na Educação
Básica.
Apesar desses pontos fracos, contudo, não há mais como
retroceder. O desenvolvimento tecnológico e as mudanças de perfil dos
estudantes, da sociedade e do mercado de trabalho não permitem que a Educação
Superior fique ancorada em modelos essencialmente presenciais. O Conselho
Nacional de Educação, prestes a definir diretrizes para a educação presencial
híbrida, abre caminho, assim, para que a dicotomia presencial ou a distância
desapareça.
Esse é o futuro, que nos pede cuidado para que o hibridismo
não seja apenas mais um recurso na busca de redução do custo do Ensino
Superior. Que ele possa conduzir a uma educação inclusiva, abrangente e de
qualidade, que responda aos anseios e necessidades da sociedade e do mercado de
trabalho da atualidade.
*Ronaldo Casagrande é ex-pró-reitor universitário e
vice-presidente do Instituto Casagrande, organizador do III Congresso
Internacional Um Novo Tempo na Educação.