Debates
Agronegócio acumula ganhos mesmo em tempos de pandemia
Da Redação | 20 de junho de 2020 - 02:19
Por Bianca Gardino
O agronegócio engloba toda a cadeia produtiva dos bens e
serviços de uma economia. Desde o preparo de insumos até a comercialização: é
todo o conjunto de negócios envolvidos com a pecuária e agricultura, no ponto
de vista econômico.
Nesta área se utilizam os termos "antes da
porteira", "dentro da porteira" e "depois da porteira"
para explicar melhor o conceito: o primeiro faz referência aos insumos
(sementes, máquinas agrícolas, serviços financeiros, ensino e pesquisa,
tecnologia, telecomunicações), o segundo à produção propriamente dita e o
último, tudo que seja direcionado para o consumo final (armazenagem,
distribuição, logística, agroindústria, comércio varejista, a publicidade e
propaganda, e mais uma vez, serviços financeiros, ensino e pesquisa,
tecnologia, telecomunicações).
Este setor, segundo a metodologia utilizada pelo CEPEA
(Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) para cálculo do PIB do
Agronegócio representou 21% do PIB brasileiro, em 2019, e cresceu 3,8% em
comparação com o ano anterior, sendo de extrema importância para a economia do
país. O ramo pecuário se sobressaiu comparado ao ramo agrícola, onde o primeiro
manifestou um crescimento de 23,71%, em destaque estão os setores indústria e
serviços, enquanto o segundo teve uma queda de 3,46%.
Quanto às vendas externas, o agronegócio chegou à marca de
96,8 bilhões de dólares (-4,3%, comparado a 2018), segundo o Ministério da
Agricultura. Para ter uma noção da importância do setor na economia brasileira,
a exportação representa 43,2% do total de todo o país. Segundo o Instituto de
Economia Agrícola (IEA), os cinco principais grupos foram: complexo soja (US$
32,63 bilhões), carnes (US$ 16,52 bilhões), produtos florestais (US$12,90
bilhões) grupo de cereais farinhas e preparações (US$ 8,13 bilhões) e o
complexo sucroalcooleiro (US$ 6,26 bilhões). Cereais, farinhas e preparações
(73,5%) e fibras e produtos têxteis (44,7%) foram os que mais aumentaram, em
relação a 2018, enquanto os que mais decaíram foram animais vivos (-26,4%) e
produtos apícolas (-25,9%).
Para se ter uma ideia de como este setor vem se aprimorando
ao longo dos últimos anos, em um levantamento realizado pelo NECON FECAP com as
empresas de capital aberto, a partir de amostra do Valor PRO, é possível
observar um aumento de 61% no número de empresas com capital aberto
pertencentes ao agronegócio, no período de 2009 a 2019. Entre as de mercado
fechado, o setor da indústria cresceu significativamente, se destacando a
indústria de alimentos e produção de insumos agropecuários. A agropecuária
também teve um aumento relevante de acordo com a média de receitas brutas: de
R$ 2,85 bilhões, em 2018, para R$ 3,04 bilhões, em 2019.
O mundo inteiro passa por uma grande retração devido ao
COVID-19 e o ramo do agronegócio tem sentido seus impactos também. Algumas
atividades, como aplicativos de entrega, supermercados e relacionados à
infraestrutura do homeofficeestão se beneficiando com a pandemia.
Entretanto, existem setores prejudicados como pequenos negócios (com baixo
fluxo de caixa nesse período), empresas de aviação e de turismo.
De acordo com o estudo feito pelo governo federal
"Impactos do Novo Coronavírus (Covid-19) no Agronegócio Brasileiro",
existem seis principais preocupações relacionadas à atual situação pandêmica:
1. Impacto em preços e mercados;
2. Lentidão e escassez nas cadeias de suprimentos;
3. Saúde dos produtores e de suas famílias;
4. Eventuais baixas na força de trabalho;
5. Segurança para os trabalhadores e falta de
equipamento de proteção individual;
6. Outras interrupções e outros desafios que moradores
de áreas rurais podem vir a enfrentar.
Feiras agropecuárias e feiras dos setores de flores e
plantas ornamentais foram suspensas, mantendo as mercadorias dentro das
fazendas. O Governo do Estado de Santa Catarina, por exemplo, contornou a
situação liberando leilões de gado online. Entre outros produtos em queda, o
algodão, a uva e a batata apresentam retração nas lavouras comparados ao mesmo
período do ano passado.
Por outro lado, o setor de grãos está sendo beneficiado com
a alta do dólar (em 2020, a alta acumulada chegou a 39%), pois empresas
chinesas são recomendadas a estocar esses produtos. É possível que possa ser
prejudicado posteriormente pelo crescimento exponencial da doença no Brasil. Já
os insumos agropecuários possivelmente causarão impactos negativos no custo de
produção, de acordo com FAEP (Federação da Agricultura do Paraná).
As exportações aumentaram em 0,7% comparando o período entre
fevereiro e abril de 2019 e 2020. De acordo com a Secretaria de Comércio
Exterior (Secex), o agronegócio está apresentando os melhores resultados no
Brasil. União Europeia, China e Estados Unidos mantiveram sua participação na
aquisição da exportação brasileira neste seguimento, com 17%, 34% e 7%,
respectivamente.
Conforme dados do IBGE, o PIB brasileiro teve uma retração
de 1,5% no primeiro trimestre de 2020, porém a agropecuária cresceu em 0,6
(somando 119,7 bilhões de reais) em relação ao trimestre imediatamente
anterior. Comparado ao mesmo período de 2019, registrou crescimento de 1,9%,
principalmente pelo bom desempenho de produtos como a soja.
Presenciamos desta forma um setor muito relevante e em
expansão na economia brasileira, que tem conseguido dar continuidade a suas
operações de maneira exemplar, não permitindo que uma crise de abastecimento
intensifique os danos já causados por esta pandemia.
Bianca Gardino (membro do NECON FECAP) e Nadja Heiderich (Professora e coordenadora do NECON FECAP)