Debates
Brasil abre a porteira para o mundo
Da Redação | 18 de junho de 2020 - 00:43

Por Fábio de Salles Meirelles
No cenário espinhoso da pandemia da Covid-19, o PIB do agronegócio brasileiro
teve expansão de 2,4% nos dois primeiros meses de 2020. O resultado foi
impulsionado pela produção primária, ou seja, dentro da porteira das
propriedades rurais, cujo avanço foi de 3,86%. Esses dados, apresentados em
relatório do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da
ESALQ/USP, com patrocínio da CNA, demonstram que o campo está puxando a
economia nacional, como já vinha ocorrendo nas últimas crises enfrentadas pelo
País: conforme dados oficiais que compilamos, nos últimos 10 anos, a
agropecuária cresceu 220% e os serviços, 62%, enquanto a indústria retrocedeu
23%.
Obviamente, todas as atividades são importantes e precisam ser fortalecidas,
inclusive por meio de políticas públicas eficazes, mas o agronegócio tem
demonstrado resiliência ímpar ante as adversidades e conseguido expandir-se,
sendo também decisivo para a conquista de superávit na balança comercial
brasileira. É o que se observou em abril último, quando suas exportações
alcançaram US$ 10,22 bilhões, 25% acima do registrado no mesmo mês de 2019. No
acumulado do quadrimestre, suas vendas externas foram de US$ 31,40 bilhões, com
aumento de 5,9% em relação ao ano anterior, revelam os números do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O resultado, que representou quase metade das exportações do País (46,6%), foi
o melhor para o período de janeiro a abril em toda a série histórica. E foi
conquistado no contexto de uma enfermidade que está abalando o mundo e o
comércio internacional. As importações do agro somaram US$ 4,57 bilhões. Assim,
o saldo positivo de sua balança comercial foi de US$ 26,83 bilhões nos
primeiros quatro meses de 2020. Em 2019, o setor já havia produzido superávit
comercial de US$ 83,08 bilhões, ante US$ 48,03 bilhões do total do País.
O esforço do meio rural também está se refletindo na produção de grãos, que,
segundo o oitavo levantamento da safra 2019/2020 da Conab (Companhia Nacional
de Abastecimento), que acaba de ser divulgado, está estimada em 250,9 milhões
de toneladas, 3,7% ou 8,8 milhões a mais do que em 2018/19. Para a área
plantada, o crescimento previsto é de 3,5% ou 2,2 milhões de hectares,
totalizando 65,5 milhões. Quanto ao café, a colheita deverá crescer 25,8%,
devendo alcançar 62 milhões de sacas beneficiadas, e a área cultivada, 4%.
O agronegócio enfrenta a pandemia com estratégia de guerra e determinação. Além
de manter a economia viva, está atuando junto com toda a cadeia produtiva do
abastecimento para garantir que os alimentos cheguem à população, como se pode
constatar no trabalho que vem sendo realizado pela Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). Tudo tem sido feito, desde a
orientação aos produtores e trabalhadores, no sentido de adotarem os cuidados
necessários para evitar o contágio, até a articulação da logística, do campo à
mesa das famílias, passando pelos distribuidores, transportadores, entrepostos,
supermercados, feiras, quitandas e sacolões.
Um exemplo dessas ações é a plataforma digital Pertinho de Casa, que está
ajudando muito os pequenos produtores e varejistas e facilitando a vida dos
consumidores, todos interligados num canal eficiente de e-commerce. Ademais,
numerosas pessoas desprovidas estão recebendo cestas básicas e alimentos, por
meio de iniciativas do setor rural paulista, que também está fornecendo
máscaras aos trabalhadores do campo e a santas casas do interior, produzidas
por costureiras instrutoras do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Senar-AR/SP), com a coordenação da Faesp e apoio dos sindicatos rurais.
O agronegócio, com as medidas de proteção adequadas à saúde dos trabalhadores
de toda a cadeia produtiva, está mantendo milhões de empregos, movimentando a
economia e contribuindo para que o Brasil retome de modo mais rápido o
crescimento depois que for possível restabelecer as atividades normais. Quando
este momento tão esperado chegar, e fazemos fé para que seja o mais breve
possível, acredito que a relevância do setor ficará mais evidente para a
sociedade, o poder público e todos os segmentos empresariais.
Mais do que isso, o mundo terá uma percepção ampliada sobre o significado da
produção agropecuária brasileira, que tem conseguido suprir as demandas em meio
a um cenário muito difícil. Somente a China, de janeiro a abril desde ano, ou
seja, em plena pandemia, importou 558 mil toneladas de carnes e o volume
recorde de 24,7 milhões de toneladas de soja do Brasil. Este é um exemplo
indicador de que nosso país deverá consolidar sua posição no mercado global
como fornecedor de comida, commodities produzidas no campo e biocombustíveis
mais limpos e de fontes renováveis.
Definitivamente, a partir do que produzimos dentro de nossas porteiras, seremos
um dos pilares da sustentabilidade e da segurança alimentar do Planeta.
*Fábio de Salles Meirelles é empresário do setor agrícola e presidente do
Sistema FAESP-SENAR A.R./SP (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de
São Paulo / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, em São Paulo).