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O que você faz quando ninguém te vê fazendo?

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Por Letícia Sugai

Imagine que você pudesse fazer suas compras, abastecer seu carro e inúmeras outras atividades cotidianas sem interagir com ninguém. Você escolhe, você paga e, se necessário, leva o troco. Tudo isso com autonomia total para declarar o valor da compra que quisesse ou devesse. Porque há a confiança de que nem você, nem ninguém, teria um comportamento que não fosse o correto.

Uma realidade assim pode parecer fantasiosa se considerarmos que, todos os dias, nos deparamos com diversos desvios de conduta. Estamos acostumados a conviver com os sérios prejuízos que esses ilícitos causam para a sociedade e com o desequilíbrio que geram na nossa economia.

No Brasil, nunca discutimos tanto a respeito de transparência. Com isso, o tema da moda hoje não poderia ser outro: compliance. Você já ouviu falar a respeito?

Compliance quer dizer “fazer a coisa certa mesmo quando ninguém está olhando”. É um termo estrangeiro que, literalmente, significa “cumprir”. Tratamo-lo também como conformidade ou integridade. Na prática, é quando atitudes, crenças e comportamentos são combinados para agrupar normas, manter uma conduta ética e, assim, prevenir desvios de conduta.

Você sabia que até 5% do faturamento de qualquer negócio é perdido com fraudes? Ocorrem, segundo dados da consultoria KPMG, em 66% dos casos motivados por ganho financeiro pessoal e por cobiça, em 27% deles porque houve vontade ou porque o fraudador entendeu que podia e em 13% por influência da cultura organizacional.

Atitudes assim, que ocorrem no secreto, somadas geram prejuízos assustadores. Hoje, de acordo com relatório da FIESP, 2,3% de toda a riqueza gerada no país vai parar no bolso de corruptos. Algo em torno de R$ 220 bilhões por ano. O montante corresponde a 30 vezes o orçamento de 2019 para a Educação no estado do Paraná.

Então, se as boas práticas são saudáveis para as organizações e para a sociedade, por que elas não são automaticamente adotadas por todos?

Mexer na cultura das pessoas é colocar sob perspectiva um conjunto de elementos intrínsecos a cada indivíduo, jogando luz em comportamentos rotineiros que acabam desenhando a identidade de um grupo. A partir daí, será preciso cavar para encontrar a raiz, revolvendo na terra – e nem todo mundo gosta de ter seu jardim bagunçado.

Mais de 80% dos brasileiros acham que pessoas comuns podem combater a corrupção de acordo com uma pesquisa realizada pela Transparência Internacional. E como brasileiros, somos cordiais. Por isso, tendemos a ser avessos a um sistema que pareça burocrático.

A sociedade se constrói com as ações cotidianas de todos os seus membros. Mais do que grandes momentos históricos, são os dias comuns que definem a realidade de um país. A postura ética não é uma denominação que pode ser adotada de uma vez e para sempre, ela precisa ser renovada todos os dias e perante todas as tentações e racionalizações.

Letícia Sugai é sócia das empresas Veritaz e Gordion. É presidente do Instituto Paranaense de Compliance (IPACOM) e criadora do Movimento “Integridade sempre vale a pena”.

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