Debates
Projeto de Brasil – ditadura ou guerra civil?
Da Redação | 27 de maio de 2020 - 03:49
Por Mário Sérgio de Melo
A divulgação na sexta-feira 22/05 da (quase) íntegra da reunião
ministerial de 22/04 tem gerado muita discussão, revolta, e até apoio. Muitos têm
se assombrado com o nível chulo do encontro, incompatível com supostos
estadistas, as frases ininteligíveis sem articulação adequada para a expressão
de ideias e propostas. E muitos manifestam preocupação com o possível vazamento
dos trechos censurados pelo STF, pois eles colocariam em risco relações econômicas
e diplomáticas com nosso principal parceiro comercial, a China.
Vendo o conteúdo daquela emblemática reunião ministerial,
também me assombrei. Mas o que mais me estarreceu foi o que se pode extrair de
nosso desgoverno, na fala de seu presidente, acerca de projeto para o Brasil.
Além do aparelhamento do Estado visando atender interesses de sua família, o
único projeto de país que se pode depreender da fala do presidente é:
“─ Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma
ditadura! E não dá pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais...”
No meu entender, nessa frase seu autor afirma que não quer
uma ditadura; quer uma guerra civil! Em que milícias civis sejam o braço armado
do poder, e não as forças legalmente constituídas para tanto, as polícias e as
forças armadas. A frase é um insulto até às forças armadas.
Muitos têm diagnosticado que o presidente eleito é um
psicopata, quadro que tem como característica a incapacidade de enxergar além
de si mesmo, de seus devaneios e loucuras. Ao atacar os outros poderes do Estado,
Judiciário e Legislativo, o presidente mostra sua incompreensão com o que
significa o sistema de governo da nação cujo cargo de mandatário assumiu:
República. Nela a existência de três poderes tem justamente a finalidade de ponderar
os desmandos que possam alastrar-se em um deles; se isso acontecer os outros
têm a função de moderá-lo, evitando totalitarismos.
Temos um psicopata eleito presidente da República? Tudo tem
indicado que sim. Autoritarismo, incapacidade de diálogo e de negociações,
negacionismo escancarado no combate ao COVID-19 e ao desmatamento da Amazônia, armamentismo
e milicianismo, destemperos com parceiros comerciais e, ao mesmo tempo, incondicional
subordinação ao ainda mais ensandecido presidente dos EUA, indicam uma
personalidade doentia.
E como é possível que um país como o Brasil, com tanto
potencial, tenha eleito tal personalidade? Isso é algo para ainda discutirmos
muito até entender bem. Tarefa urgente. Alguns fatores já conhecemos: o papel
da grande mídia demonizando setores de nosso universo político; a atuação
criminosa das milícias digitais (quer dizer Cambridge Analytica); a barulhenta fração
da população que se identifica com a psicose do presidente; a tibieza do
Judiciário e do Legislativo; a ausência de real sentido de nacionalismo e
soberania nas forças armadas; a falta de clareza e a omissão de boa parte da
população...
São muitos fatores. Devemos pensar neles e agir. Logo. Se não quisermos a guerra civil nem a ditadura.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do
Departamento de Geociências da UEPG