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Coluna MSN: Teoria do braço curto

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Era um encontro literário no Rio lá por volta de 2006. O fiasco estava meio previsto. Não conhecia direito os outros dois integrantes da mesa, que aconteceria em uma biblioteca municipal em um bairro, no período da noite. E não tínhamos muito claro quem seria o público. Mas logo descobrimos.

Um grupo literário local, composto por jovens contrários à invasão de escritores de fora. A minha fala foi breve, estava ansioso para voltar ao hotel e esquecer aquilo tudo, esquecer principalmente de mim. Mas o público queria questionar não a nossa apresentação mas a nossa presença. E alguns começaram a dizer coisas sobre a falta de valorização dos produtores periféricos, atacando-nos como se fôssemos o prefeito, o governador ou um político importante qualquer.

Aprendi depois: a maioria da população tem o braço curto, quer derrubar o presidente, ofender toda a classe política, e como isso raramente acontece, e como estão ali algumas figuras que se comunicam com o poder porque foram convidadas para fazer uma palestra, o tapa vem direto em nós. Plaf!

Durante meia hora ouvimos tudo que o grupo fez jorrar sobre nós, atentos mas paralisados. Intuí que entrávamos em uma fase reivindicativa em que a complexidade das ideias, que exige a discussão ampla, o contraditório, a reflexão aprofundada, vivia o seu fim. Entrávamos na era da cartilha. Todos repetindo as mesmas palavras até a exaustão. Slogans definindo cada grupo, que está pouco preocupado em problematizar os pontos de vista.

Deste episódio para cá, vim praticando o silêncio. Escolhendo quando entrar no debate, impondo-me mais pela ausência e pela análise emudecida dos fatos e das falas do que pela manifestação.

Com o crescimento de espaços de expressão, vieram os linchamentos midiáticos, as fake news, a lacração, tornando o pensamento uma aventura tão arriscada como na Idade Média. Neste contexto, o silêncio moldou meu comportamento literário ao ponto de eu pensar em nunca mais escrever.

Aos poucos, no entanto, vai voltando o meu entusiasmo literário. A isto tenho chamado de sobrevida intelectual.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt

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