Coluna Fragmentos: A Cáritas e sua atuação social
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 16/08/2023, 00:05
Influenciada pelo dizer do apóstolo Paulo – “Caritas Christus urget nos”, em português “O amor de Cristo nos impulsiona”, foi criada na Alemanha, no final do século XIX, em 1897, a primeira Cáritas do mundo. A instituição é reconhecida pelo seu símbolo milenar, a cruz vermelha isósceles, que significa unidade e verdade.
Atualmente presente em mais de duzentos países, no Brasil a Cáritas surgiu em novembro de 1956, fazendo parte da Rede Caritas Internacionalis e sendo reconhecida como um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.
Em 1968, o Jornal da Manhã publicou uma matéria de Morato Baddini, à época coordenadora da Cáritas, sobre as duas grandes missões da instituição: a exigência espiritual e o serviço ao próximo. Essas continuam sendo as duas grandes prerrogativas da organização, e a tarefa de construção de uma sociedade mais igualitária e plural, a partir do atendimento de pessoas em situação emergencial ou de exclusão social contam hoje com quatro diretrizes institucionais: defesa e a promoção de direitos, incidência e controle social de políticas públicas, construção de um projeto de desenvolvimento solidário e sustentável e o fortalecimento da Rede Cáritas.
A história da Cáritas está associada com a busca de alternativas de sobrevivência, através da organização de grupos que contam com o apoio da instituição, não se caracterizando assim como um grupo assistencialista, já que seu objetivo não é apenas praticar a caridade ou auxiliar em situações emergências ou de risco, mas promover a autonomia dos que se encontram em situação de exclusão.
Sabe-se que no fim do século XX, em decorrência de um sistema capitalista neoliberal altamente influenciado pela tecnologia, pelas leis do mercado e pela globalização, altos índices de desemprego e subemprego foram observados. Segundo os pesquisadores Ademar Bertucci e Roberto da Silva face ao elevado desemprego atual e as difíceis condições de trabalho, proliferaram-se empreendimentos comunitários orientados pelos princípios do cooperativismo. Duas são as instituições que vêm se destacando na formação desses grupos: a Igreja Católica, representada pela Cáritas e a universidade pública. Através destes grupos, pessoas antes marginalizadas do mercado de trabalho passam a participar de redes e fóruns num processo de ganho gradual de renda e autonomia.
Através do apoio da Cáritas, juntamente com várias outras entidades, ONG`s e instituições, a partir da década de 1990 multiplicaram-se os programas de microcrédito, os modelos alternativos de geração e de renda e os empreendimentos com base familiar ou associativa. Uma das alternativas adotadas pela Cáritas é a economia solidária, que segundo o economista Paul Singer significa um modo de produção e distribuição alternativo ao capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do mercado de trabalho. A economia solidária se estrutura a partir de projetos social-organizativos ou econômicos-produtivos baseados na auto-gestão, no desenvolvimento sustentável e na sociabilização dos meios de produção e de seus rendimentos.
Com essas ações e com outros programas emancipatórios (como os que envolvem os catadores de recicláveis, os moradores do semi-árido, as situações de emergência, a infância e a juventude, a segurança alimentar, o Movimento dos Trabalhadores rurais Sem-Terra entre outros), a Cáritas vem contribuindo, ao longo desses quase sessenta anos de presença em nosso país, para a diminuição das desigualdades sociais.
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No Paraná
Atualmente a Cáritas se encontra presente em várias regionais em todo o Brasil. A regional do Paraná foi fundada em 2009 e está ligada à regional Sul II. A instituição já atua em nosso estado há alguns anos através da Ação Social, da arquidiocese de Londrina, e das dioceses de Ponta Grossa (formada em 2007), de Londrina, de Apucarana, de Umuarama, de São Mateus do Sul, entre outras.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 16 de janeiro de 2011.
Coluna assinada por Amanda Cieslak Kapp, historiadora, doutora em história pela UFPR e professora da Unibrasil e do Instituto Federal do Paraná/Campus Pinhais.