Coluna Fragmentos: Henrique Thielen e a Cervejaria Adriática | aRede
PUBLICIDADE

Coluna Fragmentos: Henrique Thielen e a Cervejaria Adriática

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Anúncio da cerveja Pilsener Antarctica, publicado no JM em 19 de outubro de 1967
Anúncio da cerveja Pilsener Antarctica, publicado no JM em 19 de outubro de 1967 -

João Gabriel Vieira

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

Urbanização e industrialização foram processos que ocorreram tardiamente no Brasil. Enquanto na Europa a urbanização foi um fenômeno que se intensificou a partir do século XV e a industrialização teve início no século XVIII, em nosso país ambos ganharam força apenas a partir da virada do século XIX para o XX.

No caso de Ponta Grossa, por diversas variáveis históricas, a cidade viveu um rápido e intenso momento de transformações urbanas e também de industrialização a partir da década final dos Oitocentos.

Nesse contexto, a Cervejaria Adriática sintetiza o processo de industrialização ponta-grossense do período. Fundada por George Grossel em 1894, em poucos anos a pequena cervejaria tornou-se a maior e mais conhecida indústria de Ponta Grossa. O salto em importância se deu a partir de 1896, ano em que a indústria passou a ser dirigida por Henrique Thielen, funcionário que pouco tempo depois de chegar a Ponta Grossa a comprou de Grossel.

Em 1920, a Adriática já contava com cerca de 120 funcionários e abastecia diversos mercados do sul e do sudeste brasileiro. Por conta das facilidades de transporte propiciadas pela ferrovia, cervejas como a Brilhante, a Pilsen, a Operária, a Clara-Pitanguy, a Vienna Primor e a Cachorrinha (cerveja preta cuja publicidade recomendava o uso especialmente pelas senhoras em fase de amamentação) tornaram-se popular até mesmo em cidades do nordeste brasileiro e em alguns lugares da Europa – como Portugal e Espanha – onde também chegaram a ser vendidos os produtos da cervejaria. Porém, nenhuma cerveja produzida pela Adriática fez tanto sucesso e se tornou tão conhecida como a “Original”. Lançada em 1930 a marca foi incorporada pela Cervejaria Antarctica, empresa que passou a controlar a Adriática em 1941 e que a incorporou em 1943.

O tradicional prédio da Cervejaria Adriática localizado na Avenida Vicente Machado, no centro da cidade, e que se tornou uma das mais preciosas referências físicas e identitárias de Ponta Grossa no século XX foi concluído em 1923, momento em que a indústria dirigida por Thielen já ocupava a posição de destaque no cenário brasileiro.

Em 1992 a demolição desse patrimônio representou a perda de um dos maiores referenciais da história da industrialização ponta-grossense. Por mais de uma década a cidade teve que conviver com restos da construção que em nada lembravam a pujança e a importância econômica da famosa cervejaria. Como “homenagem” derradeira a nova edificação existente nesse mesmo lugar assumiu o nome da empresa paulista que nos anos 40 do século passado passou a controlar a cervejaria: Antartica. Como historiador e como ponta-grossense lamento ambas as escolhas: a demolição e a denominação. Como historiador e ponta-grossense preferia muito mais ver o antigo prédio em pé e a sua denominação original mantida: Adriática!

.

Cervejaria Atlântica

Além da Adriática outra fábrica de cerveja ocupou um importante espaço no mercado ponta-grossense nas décadas iniciais do século passado: a Atlântica. Com sede em Curitiba e representada em nossa cidade pela firma Justus & Cia., suas bebidas também eram bastante consumidas em Ponta Grossa. 

.

Henrique Thielen

Alemão, Henrique Thielen chegou ao Brasil no final do século XIX. Após morar em algumas cidades do Paraná (Curitiba, Lapa, Antonina e Morretes), passou a residir em Ponta Grossa em 1896, tendo como missão original gerenciar a filial da fábrica de cervejas pertencente a George Grossel. Em nossa cidade, além de empresário, teve destacada atuação política até a década de 1930. Empreendedor arrojado, investiu em máquinas modernas, trouxe mestres cervejeiros da Alemanha, preocupou-se com a diversificação da produção e buscou constantemente ampliar mercados. No começo da década de 1940, momento de mudanças no cenário político e econômico nacional, a Adriática acabou vendida para a Antarctica, desde então uma cervejaria que atendia ao mercado brasileiro. Por sua atuação empresarial, Henrique Thielen foi escolhido, em 1922, como um dos presidentes de honra do Centro Commercio e Industria de Ponta Grossa, atual ACIPG.

.

O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 22 de agosto de 2010.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

PUBLICIDADE

Conteúdo de marca

Quero divulgar right