Coluna Fragmentos: A vacina Sabin e a poliomielite em Ponta Grossa
A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro
Publicado: 27/06/2023, 09:00

Nos meados do século XX o combate e a cura da poliomielite – ou paralisia infantil como era popularmente conhecida – se apresentavam como grandes desafios para a medicina. Doença altamente contagiosa, a pólio fez milhões de vítimas ao redor do mundo, atingindo grande número de crianças no Brasil.
A partir da década de 1950, o JM publicou inúmeras matérias a respeito da poliomielite e do perigo a que estavam expostas as crianças ponta-grossenses. Entrevistas realizadas com médicos locais, destacavam o fato da cidade ser um grande entroncamento ferroviário, o que favorecia o trânsito de pessoas vindas de diferentes lugares, as quais poderiam trazer consigo o vírus da doença.
Nesse sentido, as matérias do JM não só informavam sobre o risco de transmissão da moléstia como contribuíam para criar um estado de alerta permanente contra os riscos do contágio da pólio na cidade.
Apesar de tais riscos, essa popularização da discussão sobre a poliomielite, suas formas de contágio, efeitos e modos de combate, ocorreu tardiamente no Brasil. Em nosso país, durante a primeira metade do século passado, os debates sobre a doença se limitaram aos círculos médicos.
Foi somente a partir do início da década de 1960 – com a adoção oficial da vacina Sabin pelo Ministério da Saúde (1961), com o diagnóstico do poliovírus em laboratório e com o avanço das técnicas de controle epidemiológico – que ocorreu uma efetiva popularização das discussões sobre a poliomielite no Brasil. A partir desse novo cenário foi possível estruturar uma política nacional efetiva de controle da doença, baseada na vacinação em massa da população infantil brasileira.
No entanto, as primeiras campanhas ocorreram timidamente. Diversas matérias publicadas no JM ao longo das décadas de 1960 e 1970 trataram da pequena quantidade de doses da vacina Sabin destinadas para Ponta Grossa, criticaram a pequena divulgação das campanhas, falaram da resistência popular ao medicamente e relataram, por várias vezes, a prorrogação dos prazos de vacinação. Desta forma, o JM expôs as limitações das autoridades para executar a tarefa de imunizar as crianças brasileiras, as deficiências estruturais das campanhas e, também, a contrariedade de parte da população ao uso da vacina.
A partir do final da década de 1970 – com a popularização dos meios de comunicação, a melhoria estrutural das campanhas e uma maior conscientização da população sobre a necessidade e a eficácia da vacinação – percebe-se um nítido avanço no combate da poliomielite no Brasil. De acordo com dados oficiais do governo brasileiro, em 1989 foi registrado o último caso da doença em nosso país.
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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.
Publicada originalmente no dia 13 de dezembro de 2009.
Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.