Moradores vivem rotina de tráfico e prostituição
Além do comércio de drogas e da convivência diária com profissionais do sexo, moradores do entorno do Cemitério São José também lidam todos os dias com casos de furtos, roubos e danos ao patrimônio particular
Publicado: 21/06/2017, 10:43
Além do comércio de
drogas e da convivência diária com prostitutas e travestis, moradores do
entorno do Cemitério São José também lidam todos os dias com casos de furtos,
roubos e danos ao patrimônio particular
O medo e a insegurança se tornaram comuns no cotidiano do
brasileiro, acostumado aos casos de violência e à ocorrência de inúmeros crimes
que já se tornaram rotina em praticamente todas as cidades. Mas para os
moradores do entorno do cemitério São José, o cenário é ainda mais delicado.
Eles precisam conviver diariamente com o tráfico de drogas, prostituição,
ameaças e outras situações constrangedoras – tudo acontece há pelo menos 30
anos.
O empresário José Salomão Messias tem um comércio na região
e é o presidente da recém-criada Associação de Moradores da Vila Ezilda, que
irá representar os moradores daquela região nas lutas por melhores condições de
segurança. Ele garante que todos os órgãos que poderiam resolver a situação já
foram procurados, mas as soluções nunca foram efetivas. “Já fomos atrás da
Polícia Militar, Prefeitura, Ministério Público, mas o problema nunca é
resolvido”, protesta.
Para Messias, o problema é a falta de interesse em acabar de
vez com a criminalidade naquela região. “Não dói no calo deles, por isso as
coisas não são efetivadas. Porque eles sabem que todo dia tem venda de drogas
ali, uso de menores para os crimes, é um absurdo”, lamenta. As prostitutas e
travestis também são consideradas problemas para quem mora na região e precisa
conviver constantemente com a falta de pudor. “Elas não estão nem aí, se a
gente pedir pra sair da frente da nossa casa, aí é que elas gostam de fazer as
coisas mesmo. Têm a região inteira para circular, mas ficam na frente da casa
de quem reclama”, explica Messias.
Um hotel que fica na região e era usado constantemente para
os programas chegou a ser fechado pela Prefeitura mas, segundo explica o
empresário, foi reaberto recentemente e voltou a ter alta rotatividade. “O pior
de tudo é que vemos carros de luxo, gente que aparenta ser de alto padrão,
vindo aqui no meio da rua, no meio das drogas, não dá pra entender”, completa.
“O que as autoridades tinham que fazer é atacas os clientes
que andam aqui, com abordagens. Cansamos de ver carros com travestis ou
prostitutas dentro, parados nas ruas, e as viaturas param e não fazem nada”,
desabafa um morador que pediu para não ser identificado com medo de
represálias. “Você anda pelas ruas, estão cheias de camisinhas usadas, jogadas
num canto, um horror”, completa.
Como se o constrangimento e o medo não fossem suficientes,
outros problemas começaram a surgir com o aumento do fluxo de pessoas nas
proximidades. “Assaltos, pequenos furtos, estão quebrando as câmeras de
segurança dos imóveis. Não passa uma noite sem que alguém não seja abordado e
assaltado aqui, ninguém mais sai de casa depois que escurece”, desabafa o
morador.
Moradores formam associação
O empresário José Salomão Messias, proprietário de um
estabelecimento comercial naquela região, formaram uma associação de moradores
para tentar resolver o problema. Eles já até formaram a mesa diretora da
entidade – Messias é o presidente – e agora aguardam os trâmites burocráticos
para poder tomar providências. “Assim que tivermos o CNPJ e toda a documentação
necessária, vamos entrar com ação por danos morais contra os responsáveis pelo
hotel, porque só assim, se doer no bolso, achamos que poderá ter resultado”,
explica. “Nem as imobiliárias conseguem alugar e vender os imóveis aqui, porque
não tem condição, quem passa aqui uma vez e vê a situação da rua não quer saber
de morar aqui”, completa.
Forças de segurança monitoram criminalidade
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal
de Cidadania e Segurança Pública (SMCSP) informou tem mantido contato frequente
com os moradores da região e que realiza rondas ostensivas diárias. O órgão
municipal também informou trabalhar em conjunto com a Polícia Militar
realizando o “levantamento de informações dos frequentadores do local, usuários
de drogas, e da clientela dos serviços de prostituição. Vale lembrar que o
tráfico de drogas caminha paralelo à prostituição, o que acaba dificultando
ainda mais os trabalhos dos agentes da Guarda Municipal”.
Ainda segundo a assessoria, “uma das ações desenvolvidas
pela Secretaria no sentido de mediar os conflitos, foi a realização de reuniões
com os moradores, prostitutas e travestis, buscando uma solução para a situação”.
Além disso, a SMCSP também solicitou à Afepon que melhorasse a iluminação
nesses locais para facilitar as ações de policiamento e aumentar a segurança
dos cidadãos. “Inclusive, na última sexta-feira, a Guarda Municipal realizou
uma ação com grande parte do efetivo da Romu para coibir ações criminosas na
região”, completa a assessoria.
De acordo com o órgão de segurança, as diversas variáveis no
processo de combate a essa situação dificultam ações que possam resolver o problema.
“Além do patrulhamento ostensivo e mediação de conflitos, deve haver um
trabalho constante e plural de conscientização da população, combate ao tráfico
de drogas e implementação outras ações que afastem os cidadãos dos entorpecentes
e da prostituição”, destaca.
O comandante da 1ª Companhia da Polícia Militar, capitão Fábio
Canteri, lembra que a PM também realiza patrulhamentos pela região, mas não
pode permanecer no local o tempo todo. “Obviamente que a presença da PM ou de
um órgão policial vai inibir a prática da prostituição naquele local. O que
ocorre é que nossa presença ininterrupta é totalmente inviável porque nós temos
diversos afazeres, temos demandas que a sociedade nos traz, por conta disso a
passagem por ali é momentânea”, explica.
A prostituição por si só não constitui crime,
mas sim a exploração da prostituição. “Aquela pessoa que agencia a outra que se
prostitui incorre em crime. Não havendo ilícito por elas praticado, não há o
que a Polícia Militar fazer”, completa o capitão. Mesmo assim, caso os
moradores da região flagrem situações como tráfico de drogas, atentado ao pudor
ou perturbação do sossego, podem entrar em contato com a Polícia Militar pelo
190 ou pelo 153 e 0800 643 2626, com a Guarda Municipal. O sistema
Narcodenúncia, pelo telefone 181, também pode ser usado para denúncias.