O maio de 1968 na UFPR - Parte 1 | aRede
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O maio de 1968 na UFPR - Parte 1

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Prof. Drª. Christiane Marques Szesz - Professora Adjunta do Depto. de História/UEPG e Professora do Mestrado em História, Cultura e Identidades/UEPG

Prof. Dr. Renato Lopes Leite - Professor Adjunto do Depto. de História/UFPR e Professor do Mestrado em História/UFPR

Participaram desta pesquisa os estudantes: Helder Silva Lima, Jose Adil de Lima e Rodrigo Gomes de Araujo (todos da UFPR), a quem agradecemos. A presente pesquisa foi realizada com o apoio do CNPq, um órgão do Governo Brasileiro voltado ao desenvolvimento científico e tecnológico

Este texto pretende fazer um resumo dos fatos que levaram os estudantes e o Reitor da UFPR a um confronto em maio de 1968. O contexto de agitação no país levaria ao AI-5 em 13 de dezembro de 1968. Serviu para agravar os ânimos o fato de o Reitor Flavio Suplicy de Lacerda ocupar o cargo de Ministro da Educação depois do golpe. E, na função de Ministro, promulgou uma lei (número 4.464, de 9 de novembro de 1964) que punha as instituições estudantis na clandestinidade: a União Nacional de Estudantes (UNE) e a União Paranaense de Estudantes (UPE).

Trata-se de um contexto de tumultos: em 25 de junho de 1966, por exemplo, uma bomba explodiu no aeroporto de Recife. O ungido à sucessão militar, General Costa e Silva, só não foi atingido porque viajara de carro. A bomba matou duas e feriu 13 pessoas. No mesmo dia duas outras bombas explodiram, uma no Consulado dos EUA e outra na União Estadual de Estudantes.  Em março duas outras bombas haviam explodido em Recife. Com esse ato da Ação Popular (AP), dissidência católica do PCB, "surgia o terrorismo de esquerda", ou terrorismo defensivo, como define Elio Gaspari.

Em maio de 1967, quando o ministro Suplicy de Lacerda tentou voltar à Reitoria da UFPR, enfrentou resistência dos estudantes, que ameaçaram com a greve. Em 30 de agosto de 1967 os estudantes fizeram protestos na Assembleia Legislativa contra a política universitária do governo federal. Reclamaram da extinção da União Paranaense de Estudantes/UPE e do consequente corte de verbas do restaurante universitário, então dirigido pelo DCE, além da intenção de tornar o ensino superior pago.  Em 15 de dezembro realizaram a "operação panela vazia", no intuito de fechar o restaurante universitário e secundarista por tempo indeterminado (4 mil estudantes seriam atingidos).

No ano de 1968 as primeiras passeatas estudantis surgem nos dias 30 e 31 de março, em protesto contra a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, no Rio de Janeiro. Em 2 de abril de 1968, houve assembléia no restaurante do DCE, com 600 estudantes. Um panfleto estudantil datilografado dizia que os protestos eram contra "fome e cassetete" (RELATÓRIOS DO DOPS, relatório de 8 de abril de 1968). No dia 3 de abril, às 19 horas, houve nova passeata. Num de seus três comícios relâmpagos, o orador sugeriu invadir a reitoria e destruir o busto do Reitor. Seis dias depois, a tropa da PM ocupou o restaurante universitário, a pedido do Reitor. Ele argumentou haver furto de bens, por parte do DCE. Após negociação, as tropas saíram. Mas o Reitor negou as verbas ao restaurante do DCE, o que criava uma queda de braço com os estudantes.

No mês seguinte, foi criado um curso de Engenharia pago. Na véspera do vestibular, no dia 11 de maio, o Centro Politécnico foi ocupado pela polícia: eram 19 horas de um sábado. No domingo, o clima de tensão descambaria para o confronto entre policiais e estudantes. O confronto iniciou-se às 7h45 do domingo, 12 de maio. Duzentos estudantes agruparam-se nas proximidades do Centro Politécnico, ainda na Rodovia BR-116. Andaram 100 metros na estrada, mas as tropas obstruíram a passagem e o Comandante advertiu: "Daqui vocês não passam. Se tentarem o pau quebra". Os estudantes fecharam o trânsito, e o Comandante deu cinco minutos para eles se dispersarem. Mas a cavalaria avançou sobre os estudantes e pisoteou uma moça. Dois jovens ficaram feridos na face pelos golpes de sabre dos policiais, e mais sete atingidos por cassetetes e pisadas dos cavalos (Jornal de Curitiba, 14 de maio de 1968).

A correria generalizou-se. Os universitários escondiam-se atrás dos veículos, corriam a pedir abrigo nas residências ao mesmo tempo que davam início à ofensiva. Quando a jovem estava sendo pisoteada pelos cavalos, um grupo resolveu intervir para salvá-la e aí se registraram os choques corpo a corpo. Nesse ínterim começaram a soltar rojões: um dos cavalos derrubou o soldado que quebrou a perna (ao todo, seis policiais se feriram).

A tropa tentou recuar, o comandante bradava: "Atiraram num soldado nosso. Ele está ferido. A coisa vai engrossar agora". Enquanto alguns estudantes soltavam rojões, outros jogavam pedra e bolas de gude, com estilingues. Algumas rolhas foram soltas no asfalto para imobilizar os cavalos, mas não deu resultado. A luta prolongou-se por quase duas horas. Em maior número, os policiais começaram a fazer as prisões: 59 estudantes foram presos.

Na segunda-feira pela manhã, dia 13, várias assembléias decretaram greve geral de 6 mil estudantes por 24 horas em boicote à cobrança de taxas escolares.

Sobre a cobrança de anuidade, o reitor Flávio Suplicy de Lacerda declarava: “A cobrança de anuidades é um preceito constitucional. Impedir seu cumprimento é crime. Os estudantes coagidos a não pagar, poderão fazê-lo até o dia 30 do corrente, mediante cheque visado ao reitor, escrevendo no verso do cheque o nome do estudante. A remessa será pelo correio, sob registro. Estudante não beneficiado com a gratuidade, que não efetuar o pagamento dentro do prazo previsto, não fará exames [...]” (Diário Popular, 14 de maio de 1968).

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