Crônica dos Campos Gerais: Vizinhos Animais
Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Publicado: 05/10/2022, 09:00
Há coisa que uma pandemia não altera em nada.
Na vizinhança tem um galinheiro. Desde o início da madrugada (Que horas é o início da madrugada, mesmo?) o canto desafinado do galo já interrompeu meu sono diversas vezes. Mal o dia clareou, ele já deu duas "trepadas", duas galinhas já puseram seus ovos e, pelo jeito, o cachorro invasor da outra vizinha já atacou um pintinho.
Hein? Se eu fico futricando a vida dos vizinhos, por isso sei de tudo isso? Nah. Apenas não sou surda. Nas investidas do galo, as galinhas fazem um "griteiro" desesperado. Tudo bem que tem humanas que se manifestam de um jeito que parecem desesperadas, e nem é isso. Talvez a galinha em questão queira apenas contar vantagem, e o jeito é fazer o "griteiro" desesperado. Afinal, o que é aquilo quando elas põem os ovos? Só pode ser pra contar vantagem, também. Tem que anunciar pra todo mundo saber. Que bobagem! Não seria melhor ficar quietinha, esconder o ovo num cantinho pra depois chocar? Faz a gritaria, vem o dono do galinheiro e leva o ovo embora. Se o lagarto predador de ovos fosse esperto, também já ia saber que o prato estava servido.
O que esperar de um bicho que tem asas, mas não voa?
Se eu me incomodo de haver um galinheiro na vizinhança? Nah. Há alguns inconvenientes, moscas que aparecem na minha cozinha quando faço nega maluca, ou quando asso um churrasco, e tal. No geral, fico na minha. Nossa Princesa acrescentou muitas joias de arranha-céus à sua coroa, mas ainda existem bairros com o privilégio de uma paisagem bucólica à vista das sacadas de um condomínio.
Como passo meu dia, depois de um amanhecer desses? Bem, obrigada. Aproveito o momento em que os eventos matinais da família Galo dão lugar a um interminável có-có-có. O galo a ciscar, chama as matronas com seus pintinhos para a degustação dos vermezinhos que se escondem debaixo das folhas secas e entre as moitas do capim. Isso dá um sono! Viro de lado, volto a dormir.
Pensou que eu ia ficar resmungando a manhã toda, ou que, sendo aposentada, para sempre em férias, vou madrugar para reclamar da vizinhança? Nem se o “coronga” tivesse derretido os meus miolos!
Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).