Crônicas dos Campos Gerais: ‘Incêndio no quintal’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Incêndio no quintal’

Sueli Fernandes, professora aposentada, filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu ComigoComigo... - viagens pelo mundo'; em 2019.
Sueli Fernandes, professora aposentada, filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu ComigoComigo... - viagens pelo mundo'; em 2019. -

Da Redação

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Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa, produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais 

Chegamos à cidade de Castro, quando meu marido foi transferido de

Guarapuava, onde trabalhava e tínhamos residência, para aquela cidade

histórica. Com seus alicerces fincados no tropeirismo, cortada pelo Rio Iapó e

com a proteção de Nossa Senhora de Santana, pretendíamos viver ali e criar

nossos filhos.

Na bagagem muitos sonhos, esperança de um futuro promissor.

Construímos nosso lar numa casa de alvenaria antiga, ampla e acolhedora, em

frente à estação ferroviária. Acostumamo-nos ao som estridente das máquinas

puxando vagões de carga e de passageiros que deslizavam pelos trilhos como

serpentes de ferro desde Itararé-SP até o Uruguai. Os trens iam e vinham

resfolegando, fazendo enorme ruído quando os freios eram acionados; seus

apitos vibrantes prenunciavam acenos de lenços brancos. Passavam pela

estação de dia, à noite, de madrugada...

Nosso quintal fundia-se com o rio e todas as noites recebíamos a visita,

um tanto assustadora, porém benfazeja, de inúmeros representantes da figura

símbolo de Castro, os sapos. Ao lado da casa, um espaço sem uso onde o

mato crescia livre. Não havia coleta de lixo e os moradores costumavam

queimá-lo no quintal. Sem alternativa eu fazia o mesmo que os meus vizinhos.

Numa tarde depositei o lixo naquele terreno baldio e ateei fogo. O capim

devia estar ressecado pois as chamas alastraram-se rapidamente. Sozinha,

tentando apagá-las com baldes de água vi minha atitude resultar infrutífera.

Abandonei os baldes e corri até o bar da esquina pedindo ao dono que ligasse

para o Corpo de Bombeiros. Necessitava de socorro, de equipamentos

próprios, de ajuda profissional.

Fiquei paralisada quando aquele senhor me explicou que Castro não

contava com uma corporação de soldados do fogo e que teria que chamar os

da cidade mais próxima: Ponta Grossa. Não haveria tempo de colocar aquela

ideia em prática; uma tragédia se mostrava iminente.

Voltei para casa sem saber o que fazer. Entretanto, dois homens que se

encontravam naquele local me acompanharam no intuito de ajudar-me. Mais

experientes e fortes, cortaram galhos dos arbustos e com eles bateram nas

chamas que em poucos minutos se extinguiram.

O progresso chega, em cada cidade ao seu tempo, e também chegou a

Castro. A estação ferroviária foi restaurada quando já não estávamos mais lá.

Hoje a corporação de bombeiros é uma realidade e a coleta de lixo também.

Ficaram as lembranças de uma época vivida, um tempo que não passa mais

por aquela estação.

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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