Crônicas dos Campos Gerais: “A Bomboniere Aurora” | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: “A Bomboniere Aurora”

Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, Engenheiro Civil de Ponta Grossa

Carlos Mendes Fontes Neto é Engenheiro civil formado pela UEPG, com especialização pela UFSC e mestrado pela FEUP, Portugal.
Carlos Mendes Fontes Neto é Engenheiro civil formado pela UEPG, com especialização pela UFSC e mestrado pela FEUP, Portugal. -

Da Redação

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Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, Engenheiro Civil de Ponta Grossa

Quem se lembra da Bomboniere Aurora?  Ficava próxima do Campus Central da Universidade, lá pelos idos das décadas de 70, 80 do século passado. Bem ali onde a Júlio de Castilho cruza a Cel. Bittencourt.  Local de matar o tempo entre as aulas, e de quebra atrair a vizinhança que ali achava socorro para alguma necessidade de última hora.

Era um prédio térreo de esquina, nos moldes antigos, com mansardas no telhado, e com uma pequena panificadora tocada pelo marido da proprietária, D. Mafalda. Apresentava um balcão com gêneros de primeira necessidade, doces, chocolates e num canto um charmoso balcão revestido de fórmica marmorizada, cujos bancos lembravam drugstores de filmes dos anos 50, onde eram servidos lanches. 

E ali na pontinha do balcão, sempre uma pilha do Ponta a Ponta, misto de folheto literário e agenda das lides culturais, onde navegavam talentos que despontavam na escrita local, de circulação gratuita. Afinal a Bomboniere também era cultura.

A Bomboniere Aurora reinava soberana na vizinhança, nessa época ainda pacata. Vizinhança composta de famílias e algumas repúblicas de estudantes. Alguns personagens, bastante peculiares, compunham esse entorno. Tais como a velhinha chamada por todos de D. Boneca, mesmo que em nada lembrasse uma, que morava de frente para a Bomboniere e podia sempre ser vista controlando o movimento. Pouco acima, na Cel. Bittencourt, a casa de D. Jovina, simpática senhorinha que sofria com grandes nevralgias e usava sempre uma manta de lã enrolada na cabeça, pois achava que isso atenuava os sintomas. Comandava um pensionato para estudantes, abrigando quase exclusivamente estrangeiros. Eram bolivianos, peruanos, paraguaios, salvadorenhos, todos irmanados sob o mesmo teto. Mais acima, em uma casa de fundos, uma circunspecta família ucraniana de Prudentópolis. Na quadra de trás da Bomboniere, uma austríaca de Viena instalada numa casa paranista, cuja estranha característica era ter sempre as janelas venezianas cerradas, ao lado da Luterana, onde se ouvia às vezes o ensaio em alemão do coral.

Quase uma Nações Unidas nos Campos Gerais!

O tempo correu e a Bomboniere não existe mais. No seu lugar, mais um espigão! A casa paranista cedeu lugar a um terreno baldio, D. Boneca não espia mais o movimento, os estudantes estrangeiros há muito retornaram aos seus países, engenheiros, farmacêuticos, dentistas... Quem passa hoje pela esquina onde ficava a Bomboniere não imagina a riqueza humana e a pluralidade que por ali existiu. 

Texto produzido no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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