Crônicas dos Campos Gerais: ‘Fila de banco’ | aRede
PUBLICIDADE

Crônicas dos Campos Gerais: ‘Fila de banco’

O texto de hoje é de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes

A professora aposentada Sueli Fernandes, é filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max.
A professora aposentada Sueli Fernandes, é filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max. -

Da Redação

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

O texto de hoje é de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes

Desejava conhecer o Parque Estadual de Vila Velha, sobre o qual havia lido em um folheto de turismo. Vila Velha, a cidade de pedra, a Lagoa Dourada e as impressionantes Furnas. Aproveitando o feriado de Carnaval, já que não sou apreciadora da folia momesca, desembarquei em Ponta Grossa. Depois daquele feriado prolongado, estive na agência de um banco da cidade. Havia várias pessoas na fila e mais clientes chegando. Muito calor naquele verão. Por coincidência o senhor de camisa azul à minha frente conhecia o que chegou logo depois de mim, e iniciaram uma conversa com um cumprimento ao recém-chegado. 

— Oi, Toninho. Bão? 

       E o outro respondeu: 

       — Tudo nos trinques. E você, caboco véio, o que anda fazendo da vida? 

E eu, entre os dois clientes, não podia deixar de ouvir o diálogo, percebendo, pelo palavreado, que ambos eram da região. Ansiava que a fila fluísse mais rápido. E o calor aumentando... 

— Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece! Você conhece a minha filha Zélia, né? Aquela magrinha, raspa de tacho? 

— Aquela que tem o nome da avó? 

— Não! A que tem o nome da minha sogra é a Filó. Está morando fora. A Zélia tem o nome daquela escritora da Bahia. Frescura da minha mulher. Coisa de quem não tem mais o que inventar. Diz que é homenagem. 

— Mas o que houve? 

— Um sobrinho da minha mulher veio do interior passar o feriado aqui em casa. E ontem eu levei a mulher, o piá e a Zélia para almoçar fora, num restaurante por quilo. A Zélia pega um pouco de farofa, duas folhas de alface e umas vinas e fica satisfeita. Sempre foi assim. Mas o sobrinho... Rapaz!!  Fez um prato tão grande que eu pensei que o piá estivesse se preparando para hibernar. 

— E daí, homem? 

— Quando fui pagar a conta, deu mais de cenzão! Acredita numa coisa dessas?! Gastei tudo o que eu tinha no bolso. 

— Não quis usar o cartão de crédito? 

— Eu nem tenho porque não me acostumo com essas coisas modernas. Hoje vim aqui buscar um dinheirinho pra semana e também para a passagem de ônibus. Quero despachar o piá pra casa dele antes que chegue o próximo domingo. Tá loco! 

 O painel eletrônico anunciou o número da senha seguinte: 138. Antes de o senhor de camisa azul dirigir-se ao guichê, ainda se virou para o amigo e desabafou: 

— Tá vendo o número da senha? Foi exatamente este o preço que eu paguei no restaurante. É só comigo que essas coisas acontecem!  

E, numa marcha decidida, desapareceu atrás do biombo. 

Texto produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais 

PUBLICIDADE

Participe de nossos

Grupos de Whatsapp

Conteúdo de marca

Quero divulgar right

PUBLICIDADE