Crônicas dos Campos Gerais: 'Retalhos do interior' | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: 'Retalhos do interior'

O texto de hoje é de autoria de Francielly da Rosa, estudante de Letras Português/Inglês na UEPG. Boa Leitura!

Francielly é formada em magistério e acadêmica de Letras Português-Inglês, na UEPG,onde  participa de projetos de leitura, poesia e temáticas raciais
Francielly é formada em magistério e acadêmica de Letras Português-Inglês, na UEPG,onde participa de projetos de leitura, poesia e temáticas raciais -

Da Redação

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O texto de hoje é de autoria de Francielly da Rosa, estudante de Letras Português/Inglês na UEPG. Boa Leitura!

Numa de minhas andanças resolvi fazer paragem na casa de uma estimada amiga, na zona rural de Ipiranga. A estrada de chão era longa, salpicada por casebres onde mais adiante iam se intercalando plantações de milho e fumo. A casa de pínus ficava à beira da estrada de chão, cercada pela mata nativa, podendo-se contemplar a extensão da longa plantação de fumo que era a vizinha da frente.

A paisagem era deslumbrante e o ângulo do relevo permitia a visão de um entardecer único, as árvores diminutas deitavam-se em sombras que se estendiam pela plantação, os raios de sol batiam de chapa pela vegetação e iam morrendo manhosamente. Os porcos grunhiam num cercado distante da casa, guapecas caramelo latiam e espojavam-se pelo terreiro junto às crianças, a mulher ligeiramente ia atiçando o fogão a lenha e preparando a comida. Acompanhados de um café bem forte havia farinha, carne suína, feijão e arroz. Enquanto deixava a comida borbulhar, sentava-se à mesa na área da casa e contava a vida, exaltando as recentes modificações e ampliações da casinha.

Toda aquela simplicidade e alegria convidativa propiciavam um ambiente digno de querer fazer morada, mas bem se sabem as dificuldades da vida no campo. Horas exaustivas no trabalho com a plantação deixando consumir-se pelo sol escaldante sem descanso, traços sendo marcados, entre rugas e cicatrizes o suor. Tentativas inúmeras de um trabalho melhor na área urbana, mesmo assim a estrada, até lá, morre-se em quilômetros exaustivos.

A mulher sorridente corria para arrumar a casa, arrumar coisas que não se arrumam, pensar no almoço sobrando para o jantar, cuidar dos filhos desejando a eles um futuro melhor, quem sabe longe dali. Escondidos em sorrisos, ansiolíticos e antidepressivos em uma prateleira da cozinha. Simplicidade é lindo para quem vê de fora. Apreciei a comida simples e fiz elogios sinceros, desejei ter um cantinho assim para morar também, admirava-me a simplicidade e alegria, porém atentei as dificuldades não contadas, as lágrimas perdidas e pensei “que gente forte! ”

Alguém sorrindo exclamou: “- Que vida boa vocês têm aqui! ” E os moradores daquela humilde residência na região rural se entreolharam sem jeito, suspiraram, sorriram frouxo e um deles respondeu: “Pois é! ” Propagando-se pela estrada poeirenta aquelas palavras ecoavam tal qual vento assoviando no campo. Pois é!

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

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