Crônicas dos Campos Gerais: ‘Procura-se o passado’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Procura-se o passado’

O texto de hoje é de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes. Boa leitura!

Sueli Fernandes é professora aposentada. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu Comigo... - viagens pelo mundo' em 2019.
Sueli Fernandes é professora aposentada. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu Comigo... - viagens pelo mundo' em 2019. -

Da Redação

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O texto de hoje é de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes. Boa leitura!

Aquela família vivia segundo os costumes da época, meados do século XX. Os homens trabalhavam fora, e as mulheres cuidavam do lar e dos filhos. O trabalho caseiro delas incluía fazer uma pequena horta e cuidar de galinhas num cercado no fundo do quintal, em que produziam ovos e carne.

O pai trazia o sustento para casa, e a esposa contribuía com as verduras, legumes e ovos frescos. As crianças iam a pé para a escola todos os dias. No inverno pisavam cristais de gelo que se acumulavam na grama dos terrenos baldios por onde cruzavam para encurtar o caminho, com seus resistentes calçados com solado de pneu. À tardinha a mãe esperava o marido que chegava em casa, após o trabalho, sempre no mesmo horário e, abraçados, adentravam à casa onde contavam um ao outro sobre o seu dia.

Enquanto conversavam e a mãe preparava o jantar, as crianças brincavam dentro de casa de “esconde-esconde”: embaixo da mesa da sala, dentro do guarda-roupa, no cesto de roupa suja, atrás das portas... era uma correria e risos puros de crianças felizes. As atividades eram quase sempre as mesmas, exceto nas quartas-feiras.

Ah, na quarta-feira era diferente! Esse dia era reservado para ir ao cinema. Jocosamente chamavam a sessão de filmes das quartas-feiras do Cine Império de sessão “pão-duro” pois eram dois ou três filmes ao preço de um. Diziam que os habitués daquelas sessões entravam no cinema na quarta e saíam na quinta já que a sessão terminava depois da meia-noite.

A empresa de transporte coletivo que o casal usava, cujos ônibus faziam a parada final no Ponto Azul, já havia recolhido seus carros naquele horário. Carro próprio só em sonho. Era luxo.  Saíam e caminhavam até suas casas saboreando o clima da noite, comentando os filmes e era muito natural. Não conheciam outra vida.

Hoje o tradicional Cine Império é só uma maravilhosa lembrança, e famílias como aquela são uma saudosa recordação. Quadros redondos nas paredes com fotos de casamento e de primeira comunhão em preto e branco deram lugar a uma decoração mais moderna. Agora as famílias têm carro para levar os filhos à escola e à noite as crianças também se escondem, porém atrás de um tablet, de um celular ou de um computador. As mães trabalham fora em dupla jornada e estão sempre estressadas, o pai volta tarde do trabalho, cansado e sem paciência... Depois pedem comida pelo aplicativo e assistem a filmes pela Netflix.

Para onde foi aquele tempo?

O projeto

O projeto ‘Crônicas dos Campos Gerais' é desenvolvido pela Academia de Letras dos Campos Gerais com o objetivo de fomentar e divulgar percepções sobre os Campos Gerais do Paraná, estimulando o relato escrito (crônicas) de vivências da população regional ou visitantes. 

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