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Ponta Grossa tem telefonia móvel precária e falta de investimentos prejudica a população

Relatos de produtores rurais revelam cenário de cobertura precária e instabilidade na telefonia e internet móvel no município

Moradores de bairros mais afastados relatam que a dificuldade de acesso a um sinal estável
Moradores de bairros mais afastados relatam que a dificuldade de acesso a um sinal estável -

O telefone celular deixou de ser apenas um meio de comunicação e passou a ocupar papel central na rotina da população, seja para trabalho, estudo, serviços públicos ou lazer. Em Ponta Grossa, no entanto, a dependência cada vez maior da conectividade contrasta com um cenário recorrente de reclamações relacionadas à instabilidade do sinal de internet e telefonia móvel, problema que afeta tanto áreas rurais, quanto áreas já consolidadas do perímetro urbano.

Moradores de bairros mais afastados relatam que a dificuldade de acesso a um sinal estável compromete atividades básicas, como aulas remotas, uso de aplicativos bancários, de transporte, e até chamadas de emergência. Na zona rural, porém, o problema assume proporções ainda mais graves.

Presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa e do Núcleo dos Sindicatos Rurais dos Campos Gerais, Gustavo Ribas Netto afirma que a cobertura das operadoras praticamente não atende quem vive e trabalha no campo.

“Na realidade, a zona rural não tem cobertura. A cobertura é extremamente precária, você tem que andar de um lugar a outro, achar o lugar onde tem sinal, tudo que é produtor real sabe. Aqui não tem sinal? Anda ali, vai naquela esquina, vai naquela árvore, vai naquele palanque, vai naquele canto da casa, que é onde a internet pega”, afirmou Gustavo.

Segundo ele, diante da limitação das redes móveis tradicionais, muitos produtores passaram a recorrer à internet via satélite como alternativa para manter minimamente a conectividade nas propriedades.

MOTORISTAS DE APLICATIVO

Outro grupo que costumeiramente é afetado por instabilidades no sinal de internet, é o dos motoristas de aplicativos. Rodando por toda a cidade, esses profissionais não sofrem apenas com a inconveniência de problemas com o sinal de internet, mas são efetivamente prejudicados pelas instabilidades nas redes de telefonia e internet móvel.

Pedro Gabriel Szezs trabalha para a Uber e 99 há quatro meses, completou mais de duas mil viagens neste período, e relatou que as instabilidades são comuns por diversas regiões da cidade. “Sim, vários pontos. Alguns bairros mais afastados também, às vezes tá ali, no meio da corrida, às vezes não consegue finalizar a corrida por causa da internet, é ruim”, afirmou.

Para quem costuma utilizar os serviços de carros de aplicativo, às vezes os problemas acontecem em momentos inoportunos, como, por exemplo, na hora de pagar. Para Pedro, essa possibilidade faz com que ele tenha de selecionar quais viagens irá aceitar. “Eu só aceito quando tá pago o direto aplicativo, né? Não aceito viagens com pagamento em PIX ou dinheiro, até para evitar esses problemas”. 

De acordo com Pedro, a própria Uber até oferece um chip próprio, que custa R$ 30, mas o serviço também é problemático. “Eu assinei por um tempo, mas é ainda pior que os chips normais. É um plano pré-pago, às vezes tem promoção, mas é 30 reais, 30 gigas de internet. Você pode usar Uber, WhatsApp, tudo à vontade, mas ele ainda depende do sinal local”, afirmou.

PROBLEMAS NO GERMANO KRÜGER

Em alguns casos, a instabilidade também é registrada em áreas centrais, especialmente em horários de maior demanda. Um exemplo claro é o Estádio Germano Krüger, casa do Operário, onde é comum a instabilidade de sinal, especialmente em dias de jogo.

Pedro Gabriel não somente trabalha como Uber, mas também é torcedor fanático do Operário Ferroviário, e relatou que problemas com sinal de internet são comuns quando o Fantasma entra em campo.  “Ali no Operário é difícil. Na hora do jogo, às vezes não consegue mandar mensagem, não consegue fazer nada, porque tem um monte de gente. Não pega sinal nenhum.”

Por conta dessas instabilidades, para quem gosta de acompanhar as partidas diretamente no estádio acompanhando a narração dos radialistas da cidade, a opção mais segura é a justamente a mais antiga: o radinho de pilha.

FALHAS AFETAM SERVIÇOS PÚBLICOS

O problema da instabilidade do sinal não se limita ao impacto individual na rotina dos usuários. Em setembro deste ano, falhas na comunicação 4G chegaram a afetar o funcionamento de semáforos em Ponta Grossa. Nos dias 29 e 30 daquele mês, diversos equipamentos ficaram inoperantes ou apresentaram dessincronização após a queda do sinal da operadora responsável pela transmissão de dados dos dispositivos.

Na ocasião, a Superintendência de Trânsito e Segurança Viária precisou deslocar agentes para pontos estratégicos da cidade a fim de controlar o tráfego e orientar motoristas, reduzindo riscos de acidentes. Equipes de manutenção também atuaram para restabelecer o funcionamento dos semáforos, enquanto a empresa responsável pelo serviço foi notificada para adotar medidas corretivas. Apesar do transtorno, não houve registro de acidentes relacionados às falhas.

O episódio evidenciou como a dependência da infraestrutura de telecomunicações ultrapassa o uso doméstico e comercial, alcançando também serviços públicos essenciais, como a mobilidade urbana. A situação reforça a percepção de vulnerabilidade quando há falhas na cobertura ou instabilidade do sinal, especialmente em um contexto de cidades cada vez mais conectadas.

ESTRUTURA

Um levantamento do site conexis.org.br mostra um mapa de antenas em todas as regiões do Brasil, e os dados de Ponta Grossa indicam que Ponta Grossa tem um total de 320 antenas instaladas na cidade, sendo 104 destas para conexão 5G, enquanto 216 oferecem conexão 4G.

Entre as antenas que oferecem sinal 5G, 34 delas são da Claro, 33 da Tim, e 37 da Vivo. Para as 4G, 58 antenas são da Claro, 74 da Tim, e 82 da Vivo, além da Giga+, que tem duas.

Além da discrepância no número de antenas que fornecem cada tipo de sinal, o posicionamento destas também chama a atenção. Para as antenas que fornecem sinal em 5G, a maior parte delas estão posicionadas no centro de Ponta Grossa, seguido pelas regiões do Órfãs e Nova Rússia. Os bairros de Olarias, Oficinas e Uvaranas aparecem na sequência, ainda com algumas antenas, mas com espaçamento maior entre elas. 

O problema maior é quando vamos nos afastando do perímetro urbano da cidade. Na região de Passo do Pupo e Itaiacoca, por exemplo, não há registro de nenhuma antena. O mesmo aplica para a Colônia Tavares Bastos. Algumas regiões que possuem grande número de moradores, como o Jardim Carvalho, Cará-Cará, Chapada, Contorno e Congonhas tem menos de 5 antenas, por exemplo. 

Desta forma, fica claro que não somente o problema se limita a instabilidades no sinal, mas também na forma como essas antenas são distribuídas entre as diferentes regiões da cidade.

Em tempo, a Prefeitura de Ponta Grossa oferece o próprio serviço de sinal público de Wifi, o PG Conectada, com mais de 120 pontos de acesso distribuídos por 50 bairros. Em março de 2024, a Prefeitura ampliou a rede de fornecimento gratuito de Wifi para a Zona Rural, mas ainda não é suficiente para atender a demanda da população. 

O QUE DIZ O PROCON DE PONTA GROSSA?

Dados do Procon de Ponta Grossa ajudam a dimensionar a insatisfação dos consumidores. Até o dia 30 de novembro de 2025, o órgão municipal realizou 23.808 atendimentos, dos quais 8.668 resultaram em reclamações formais contra fornecedores, todas registradas no sistema Proconsumidor. Desse total, 1.729 reclamações são específicas da área de telefonia, o que evidencia a relevância do setor entre as principais demandas dos consumidores.

Entre as operadoras mais reclamadas no município aparecem TIM, com 571 registros, seguida pela Oi, com 338, Claro, com 318, Client, com 224, Vivo, com 137, e Ligga, com 53 reclamações. Os números refletem um problema estrutural que vai além de casos pontuais e se repete entre diferentes prestadoras de serviço.

A planilha de reclamações do Procon aponta que as principais queixas envolvem cobranças indevidas, que somam 398 registros, além de dificuldades para rescindir contratos, com 226 ocorrências. Também são frequentes reclamações relacionadas a cobranças por serviços não contratados, oferta não cumprida, funcionamento inadequado do serviço, instabilidade de sinal, informações incompletas sobre planos e dificuldades no cancelamento ou acesso ao Serviço de Atendimento ao Consumidor.

PROBLEMA ESTADUAL

O Procon do Paraná realizou uma pesquisa entre os dias 18 e 19 de setembro ouviu 2,1 mil consumidores paranaenses e revelou que mais de 51% consideram que as informações sobre o funcionamento dos planos de telefonia móvel não são acessíveis nem claras. O levantamento também mostrou que 76,8% dos entrevistados já enfrentaram algum tipo de problema com a operadora de celular.

O nível de satisfação também é baixo: apenas 16,8% dos usuários se dizem totalmente satisfeitos com a operadora contratada, enquanto 63,8% afirmam estar apenas parcialmente satisfeitos e 19,4% declaram insatisfação. Os dados indicam que as dificuldades enfrentadas pelos consumidores não se restringem a uma região específica, mas refletem uma realidade presente em diferentes municípios do Paraná.

Ainda segundo o Procon-PR, dos quase 100 mil atendimentos registrados em 2025 na plataforma consumidor.gov.br, cerca de 15 mil estão relacionados a empresas de telecomunicações, incluindo telefonia móvel, internet e TV por assinatura. As reclamações mais comuns envolvem cobranças indevidas, tarifas por serviços não solicitados, cobranças após cancelamento de contratos e ofertas não cumpridas.

E AS RODOVIAS?

O acesso a redes de internet nas rodovias do Paraná é outro ponto que vem sendo debatido com veemência nos últimos anos. Com as concessões de rodovias federais e estaduais, existem acordos para o fornecimento de sinal de Wifi, mas não há uma legislação de fato que obrigue as concessionárias a fornecer esse serviço. Pelo menos por enquanto.

O PL 623/2024, de autoria da Deputada Maria Victoria (PP) dispõe sobre as diretrizes para a conectividade nas estradas de rodagem sob jurisdição do Governo do Estado do Paraná. No projeto, fica definido que o sinal fornecido não poderia ser inferior ao 4G, e ele segue tramitando na Assembléia Legislativa do Paraná.

À época, a deputada afirmou que esta é uma demanda de diversos setores da população. “É uma demanda justa do setor produtivo, dos agricultores e de quem utiliza as estradas diariamente em todas as regiões. O poder público precisa de mecanismos mais efetivos para facilitar a ampliação da conectividade nas estradas estaduais”, disse.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) defende que todas as rodovias federais deveriam ter a ampliação da cobertura 4G por meio de obrigações em contratos de concessão, da criação de PPPs digitais, e também do uso de fundos públicos. Em março de 2025, a ANTT determinou que as concessionárias que já possuíam a previsão de implementar redes sem fio, que considerassem a medida como obrigatória.

No mês de abril, a Agência, juntamente da Anatel, despacharam medidas visando garantir o 4G em rodovias. A decisão de manter o sinal 4G é por ser considerada mais adequada do ponto de vista de infraestrutura, além do custo ser mais em conta.

POSICIONAMENTO DAS OPERADORAS

Procuradas pela reportagem, as assessorias de imprensa das operadoras que atuam em Ponta Grossa foram contatadas para comentar as reclamações e os problemas relatados pelos consumidores. Até o fechamento desta edição, apenas a Claro e a Vivo encaminharam posicionamento.

Segundo Marcelo Repetto, diretor regional da Claro para a regional Sul, há investimentos contínuos na ampliação da cobertura no Paraná, considerado um mercado estratégico. De acordo coma operadora, ela tem expandido sua presença em dezenas de municípios e que, somente na região do DDD 42, foram implantadas 27 novas antenas ao longo de 2025.

A Claro também destaca uma parceria com o Governo do Paraná voltada à expansão da cobertura móvel em áreas rurais, rodovias, polos turísticos e regiões estratégicas, com a instalação de centenas de novas antenas em todo o estado.

A assessoria de imprensa da Vivo informou apenas que investiu valores bilionários para o desenvolvimento de sua rede móvel, mas não detalhou nenhum investimento em Ponta Grossa.

A redação do Jornal da Manhã entrou em contato com a assessoria de imprensa das outras empresas fornecedoras de serviços de telefonia e comunicação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Enquanto novos investimentos são anunciados, consumidores seguem cobrando melhorias efetivas na qualidade do serviço, sobretudo em relação à estabilidade do sinal de internet móvel. Em uma cidade que depende cada vez mais da conectividade para o funcionamento de serviços públicos, atividades econômicas e comunicação cotidiana, a expectativa é que as operadoras avancem não apenas na expansão da cobertura, mas também na confiabilidade do serviço oferecido à população.

CONTRASTE

Enquanto parte do interior do Brasil ainda enfrenta dificuldades básicas de conectividade, outros países avançam rapidamente em novas tecnologias. Em abril de 2025, a China, por exemplo, ativou a primeira rede comercial de internet 10G do mundo, no condado de Sunan, província de Hebei, em parceria entre a Huawei e a operadora estatal China Unicom.

A tecnologia, baseada na infraestrutura 50G-PON, permite conexões fixas por fibra óptica com velocidades de até 10 gigabits por segundo e latência de apenas 3 milissegundos. Em testes práticos, foram registrados downloads próximos de 9.834 Mbps e uploads de 1.008 Mbps, possibilitando, por exemplo, o download de um filme em resolução 4K em poucos segundos. O avanço evidencia o contraste entre a fronteira tecnológica global e os desafios ainda enfrentados no Brasil, especialmente em regiões rurais.

ORIENTAÇÕES AO CONSUMIDOR

O Procon orienta que, ao identificar falhas recorrentes ou interrupções no serviço, o consumidor registre reclamação formal, já que a indisponibilidade pode gerar direito à redução proporcional do valor da fatura, conforme o tempo em que o serviço permaneceu fora do ar, respeitadas as normas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 

O órgão municipal ressalta ainda que não realiza operações conjuntas com a Anatel e não possui estudos próprios sobre cobertura de sinal no município, exemplificando a necessidade de mudanças nas políticas públicas que busquem garantir o acesso democrático às tecnologias de comunicação, não só em Ponta Grossa, mas no Paraná e em todo o Brasil.

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