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Crônicas dos Campos Gerais: Fantasmas molhados
Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Publicado por Camila Souza. | 11 de setembro de 2024 - 00:10
Vinte e seis de julho de 2009. Temperatura agradável. Aquele calorzinho pré-frontal. Os institutos de meteorologia previam muita chuva para aquele domingo.
É provável que todo torcedor do Fantasma já tenha começado a rezar antes mesmo de sair da cama. Sant’Ana, no seu dia, teria que trabalhar, abençoando o Operário Ferroviário. Era dia de decisão.
Naquela tarde, depois de muitas tentativas frustradas, o alvinegro de Vila Oficinas disputaria a sua partida mais importante dos últimos anos. Enfrentaria a Portuguesa Londrinense pela Segunda Divisão do campeonato paranaense.
Em anos anteriores, cabeças-de-bagre em excesso, havia literalmente “batido na trave” e a torcida amargava essa situação vexatória resignadamente. Mas agora bastava um empate para retornar à elite do futebol das araucárias e o adversário já estava eliminado.
Sinceramente não entendo como algumas pessoas possam não gostar de futebol. Talvez por não terem sido brindadas de crescerem próximo aos campos onde a bola rola, ainda que fosse o do Olinda.
Futebol é paixão, um vício capaz de causar problemas no trabalho e – perigo! – em casa. Quem gosta sabe do que estou falando. Futebol é o meu segundo oxigênio. Não vivo sem ele. De domingo a domingo, ao vivo ou pela TV.
Ver os outros correrem atrás da bola e, quando possível, fazer o mesmo. Para alguém com parcos recursos técnicos, o difícil era pegá-la. Então, o lugar predileto era embaixo das traves, ficar esperando que ela viesse até mim e poder carinhosamente afagá-la em meus braços.
Ingresso esperando na casa da irmã, coração batendo mais forte, a saída cedo de Curitiba rumo à Princesa dos Campos. No final da manhã, ela chegou, a chuva.
Às quinze e trinta, início do jogo e o Germano Krüger abarrotado de pessoas e guarda-chuvas na vã tentativa de se proteger do aguaceiro. Desconforto e sofrimento pelo gol que tranquilizaria e não saía. E a Lusinha ameaçou duas ou três vezes e todos de coração na mão. No apito final do juiz, o zero a zero garantiu o Operário na 1a Divisão do estadual do ano seguinte. A padroeira abençoou.
Maciça invasão no campo completamente enlameado, eu incluso, e festa com os heróis. Carreata desde a Visconde de Mauá, seguindo pela Paula Xavier e alcançando a Vicente Machado nas horas seguintes. Buzinas, fogos de artifício, bandeiras alvinegras e gente, muita gente cantando, gritando e bebendo.
Sem arruaças, nenhum automóvel danificado ou qualquer ato de vandalismo. Fantasmas ordeiros estes. Encharcados até os ossos, mas felizes.
Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (acesse aqui).