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Crônicas dos Campos Gerais: Corrida noturna

Texto de autoria de Luiz Murilo Verussa Ramalho, servidor do Ministério Público Estadual, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

Crônicas dos Campos Gerais: Os Campos Gerais Segundo Nelson Rodrigues
Crônicas dos Campos Gerais: Os Campos Gerais Segundo Nelson Rodrigues -

Nós estamos por toda parte. Escrevesse eu um texto com o tema “corrida de rua” e o mandasse à Academia de Letras local, preencheria com tranquilidade o quesito “possuir identidade com os Campos Gerais” ainda que não citasse nominalmente nenhuma de suas cidades, ruas ou parques – se discorda, olhe pela janela.

Estamos por toda parte e a qualquer horário. Numa semana de lascar, que transformou em borralho todos os minutos úteis, e vinha se aproximando a primeira meia-maratona que eu faria – desejando terminá-la correndo, não de carona com os paramédicos– pela primeira vez corri de madrugada. Oito irresponsáveis quilômetros entre Olarias e o Jardim Carvalho. Próximo ao Parque Ambiental, encontrei um desconhecido que também treinava e que na cumplicidade das horas mortas saudou-me com um “salve, guerreiro”.

Na pista do Jardim Carvalho, a aquosidade amarela da iluminação pública irradia tropegamente pelo cenário o aspecto de um amanhecer eterno; as cercanias do Parque dos Ingleses, ao contrário, parecem inaugurar um tempo inédito, cuja madrugada é mais funda, uma hora adicional cravada entre as quatro e cinquenta e cinco e as cinco da manhã; o Parque Linear remonta à kenopsia, que o “Dicionário das Tristezas Obscuras” caracteriza como a melancolia dos lugares vazios que já foram frequentados; o Lago de Olarias faz pensar numa excursão ao além ou a outro planeta mais distante do sol, dado o frio que emana das pedreiras próximas enquanto a escuridão cobre as águas com seus variados graus de breu.

Sempre há pelo percurso algum outro desvairado correndo na comunhão daquela fome, daquele hábito, daquele vício que nos leva adiante, na pista e além. Houve um ano em que corri mais de mil quilômetros no período noturno; não que seja hábito de guerreiros, como bradou meu anônimo colega, mas apenas o curativo e a antecipação de outras corridas e correrias, aquelas que se travam de dia e, justamente por isso, nelas há mais trevas, muitas mais.

Texto de autoria de Luiz Murilo Verussa Ramalho, servidor do Ministério Público Estadual, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (acesse aqui).

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