PUBLICIDADE

Crônicas dos Campos Gerais: “Tempo de armazéns”

Texto de autoria de Rosana Justus Braga, revisora e formada em Letras Português-Francês pela Universidade Católica do Paraná

Rosana Justus Braga é formada em Letras Português-Francês e atualmente realiza revisão de textos, TCC, livros e trabalhos acadêmicos.
Rosana Justus Braga é formada em Letras Português-Francês e atualmente realiza revisão de textos, TCC, livros e trabalhos acadêmicos. -

Texto de autoria de Rosana Justus Braga, revisora e formada em Letras Português-Francês pela Universidade Católica do Paraná

Viver é assistir às transformações inevitáveis do tempo.

Não raras vezes nos espantamos. Como quando retornei à cidade natal e busquei o velho endereço das balas de alcaçuz da minha infância. E tudo que encontro é uma lanchonete, em plena atividade, onde antes era o armazém do seu Nassib. A rua também parecia outra, tão mudada, não estaria eu, porventura ou esquecimento, perdida na rua errada?

Mas, qual, era ali mesmo que eu ia, menina, gastar meus trocados e encher os bolsos de alegria. Ali mesmo me fartava de prazeres olfativos, quando aspirava o cheiro peculiar da peroba-rosa que guarnecia o teto, do couro curtido dos bornais, da sacaria empilhada, a emanação sutil de cereais diversos, o aroma fresco das conservas, da canela em rama e outras tantas especiarias, os queijos de fazenda, a coalhada fresca, os salames, o fumo barato.

Tudo misturado era o cheiro do armazém do seu Nassib, cheiro que alvoroçava mistérios. Saía de lá atordoada, querendo ficar.

Mas eis que o tempo dos armazéns virou história. História esquecida, pois quem se lembra de comprar grãos a granel, azeite em galão, cebola em réstia, batata em saca, fumo em rolo, vinho em barril? Alguém se lembra ainda, ou por acaso, da doçura amarga do alcaçuz? Evolaram-se todos, suas utilidades e prazeres engolidos pelo sopro de outros ventos.

Também nós nos despedimos de hábitos, preferências e gostos. E de convicções, sem dúvida. Vamos nos ajustando ao novo como quem se espreme em roupa apertada, e tudo que queremos é que se fechem os botões, finalmente.

Não há como viver sem transformar panos velhos em roupa nova. O desconforto é só inicial, depois dá até para se olhar no espelho e apreciar com gosto a improvisada figura. Sensato pensamento.

No entanto, ao me deparar com a tal lanchonete sem identidade, ao aspirar a gordura quente de suas entranhas, confesso que vacilei nas minhas certezas. Pegamos o rumo certo para o futuro?

 Boa pergunta em que se perder uma noite de sono.

Ali, onde antes se mesclaram os odores sutis do Oriente com nossa autêntica cultura, germinava a nova mentalidade. Diante dela, eu era apenas uma consciência fora de foco. 

Texto produzido no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MAIS DE MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

DESTAQUES

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE