ESPORTES
Envolvidos em fraudes de jogos na Série B viram réus
Zagueiro Paulo Sérgio, atualmente defendendo o Operário Ferroviário, é um dos atletas citados na ação
Da Redação | 17 de março de 2023 - 05:55

Denúncia oferecida pelo Ministério Público de Goiás (MPGO)
contra 14 pessoas, das quais 6 são integrantes de grupo criminoso especializado
na prática de corrupção em âmbito esportivo, especialmente em partidas da série
B do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2022, foi recebida pela Justiça.
Com isso, tornaram-se réus na ação Bruno Lopez de Moura
(vulgo BL), Camila Silva da Motta, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luís
Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes, Zildo Peixoto Neto,
Allan Godoi dos Santos, André Luís Guimarães Siqueira Júnior (André Queixo),
Mateus da Silva Duarte (Mateusinho), Paulo Sérgio Marques Corrêa (atualmente no Operário Ferroviário), Ygor de
Oliveira Ferreira (Ygor Catatau), Marcos Vinicius Alves Barreira (Romário),
Joseph Maurício de Oliveira Figueredo e Gabriel Domingos de Moura.
A investigação, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco), teve início diante de indícios da prática
de corrupção esportiva apresentados por Hugo Jorge Bravo de Carvalho,
presidente do Vila Nova Futebol Clube, uma das agremiações envolvidas nas
partidas e, inclusive, potencialmente vítima do esquema. Ele apontou evidências
da atuação ilícita do réu Bruno Lopez na manipulação dos resultados das
partidas entre Vila Nova x Sport, Tombense x Criciúma e Sampaio Corrêa x
Londrina visando a beneficiar apostadores. Segundo relatou, Bruno afirmou
para ele que realizara tratativas com Romário, atleta do Vila Nova, para que
organizasse e providenciasse, ainda que com terceiros, o cometimento de pênalti
de sua equipe no primeiro tempo da partida que ainda seria realizada com o
Sport Club Recife.
Bruno Lopez relatou ainda ao presidente do Vila Nova que
também realizou tratativas com outros dois atletas, um do Sampaio Corrêa
Futebol Clube e outro da Tombense Futebol Clube, para que igualmente
assegurassem a ocorrência de penalidade máxima no primeiro tempo das partidas
entre Sampaio Corrêa x Londrina e Tombense x Criciúma, o que de fato ocorreu. A
ocorrência das penalidades favoreceria alguns apostadores.
Organização criminosa abordava jogadores profissionais com
oferta de elevados valores financeiros
Com a deflagração da Operação Penalidade Máxima e
o aprofundamento das investigações, o Gaeco constatou a atuação concreta
de organização criminosa especializada em corromper atletas profissionais para
manipulação de resultados e eventos relacionados a diversos jogos de
campeonatos de futebol, inclusive com diversas condutas criminosas praticadas
no Estado de Goiás.
De acordo com a denúncia, a atuação consistia em abordar
jogadores profissionais com a oferta de elevados valores financeiros – em torno
de R$ 150 mil para cada atleta “contratado” –, aos quais era pago um
adiantamento como “sinal” da negociação, geralmente no valor de R$ 10 mil. A
oferta se destinava a convencê-los a manipularem resultados ou assegurarem a
ocorrência de eventos durante os jogos, como cometimento de pênaltis no
primeiro tempo, cartões amarelos ou vermelhos em determinada etapa da partida,
diferença de gols no primeiro tempo, entre outros, sempre em jogos previamente
selecionados.
Segundo apurado, a corrupção tinha a intenção de, ao
final, assegurar aos denunciados expressivos lucros em apostas feitas por eles
em sites de casas esportivas, como www.bet365.com e www.betano.com, contando
com elevado número de contas criadas nos mesmos sites, geralmente em nome de
terceiros, como forma de assegurar e maximizar os ganhos com os ilícitos.
Organização era composta por diversos núcleos de
atuação
De acordo com os integrantes do Gaeco, identificou-se que,
para viabilizar as seguidas atividades ilícitas, a organização criminosa (agora
desarticulada) é composta por diversos núcleos. Inicialmente, tem-se a atuação
do Núcleo Financiadores, ainda a serem identificados e que continua sob
investigação. Porém, ficou claro na apuração que eles são os responsáveis por
assegurar a existência de verbas a serem utilizadas no pagamento dos jogadores
aliciados e também nas apostas manipuladas.
Evidenciou-se também a existência do Núcleo Apostadores,
composto, até o momento, pelos réus Bruno Lopez (que liderava as ações), Ícaro
dos Santos, Luís Felipe Castro, Victor Fernandes e Zildo Neto, os quais eram
responsáveis por efetivamente contatar e aliciar jogadores para participação no
esquema delitivo. Eles igualmente deveriam realizar pagamentos indevidos e
promover apostas nos sites esportivos em contas próprias e, principalmente, de
terceiros.
Foi verificada ainda a atuação do Núcleo
Intermediadores, que também será identificada em investigação que já está em
trâmite. Este núcleo era o responsável por indicar contatos e facilitar a
aproximação entre apostadores e atletas aptos a promoverem a manipulação dos
eventos esportivos. Por fim, aponta-se a atuação do Núcleo Administrativo -
integrado pela ré Camila Silva (mulher de Bruno Lopez), além de potencialmente
outros a serem devidamente individualizados –, responsável por realizar
transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e também em
benefício de jogadores cooptados.
Demais crimes e possíveis envolvidos ainda estão sendo
apurados
Desse modo, é esclarecido que nesta ação está sendo
atribuído aos réus tão somente o crime de promover, constituir e integrar
organização criminosa ocorrido a partir do segundo semestre de 2022 até os dias
atuais, em face dos integrantes já identificados no Núcleo Apostadores e também
daqueles já identificados do Núcleo Administrativo.
A peça acusatória também abarca a imputação específica dos
crimes praticados na manipulação de três jogos da Série B do ano de 2022 - Nova
x Sport, Tombense x Criciúma e Sampaio Corrêa x Londrina, com a expressa
ressalva de que demais integrantes de outros núcleos e outros fatos delitivos
de corrupções praticadas em âmbito esportivo ainda estão em apuração pelo
Gaeco.
Conforme esclarecem os promotores, em razão da
complexidade da atividade criminosa, do expressivo número de investigados, da
natureza difusa das atividades do grupo e do modo de agir empregado nos
delitos, além da enorme quantidade de novos fatos criminosos descobertos que
demandam aprofundamento probatório, deliberou-se pela instauração de novo
procedimento investigatório, instruído integralmente com elementos informativos
colhidos no Procedimento Investigativo Criminal (PIC) que embasou esta primeira
denúncia.
Investigação analisou movimentações de conta de empresa
A denúncia aponta ainda que as atividades do grupo criminoso
também eram frequentemente tratadas entre Bruno e Ícaro, via aplicativo
WhatsApp, oportunidade em que novamente eram contabilizados os valores
utilizados como pagamentos a atletas, as manipulações de resultados e eles
debatiam até sobre o teor e o modo de cobrança a jogadores que não cumpriram o
acordado.
Ainda com enfoque nas atividades e divisão de tarefas da
organização criminosa, a investigação apresentou a relevante atuação de Camila
Silva, mulher de Bruno Lopez. Ambos são proprietários da empresa BC Sports
Management, cujas contas são frequentemente utilizadas para movimentação
financeira do esquema delitivo, efetuando pagamentos de sinais e valores aos
jogadores cooptados, intermediadores e transitando valores também para apostas
nos jogos previamente ajustados.
Assinam a denúncia as promotoras e os promotores de Justiça integrantes do Gaeco Tarsila Guimarães, Gabriella Clementino, Paulo Parizotto, Marcelo Borges do Amaral, Diego Osório Cordeiro, Fabrício Lamas, Fernando Cesconetto e Juan Borges de Abreu.
Assessoria de Comunicação
Social do MPGO