Editorial
Crise política e a pandemia
Da Redação | 25 de abril de 2020 - 01:51
O problema não é mudar a chefia da Polícia Federal; o ponto central que deve nortear um debate é saber qual a razão para a indicação de um outro nome. A exoneração de Maurício Valeixo, da PF, desencadeou uma crise sem precedente. Politicamente, Jair Bolsonaro, demonstrou muitas fragilidades e incapacidade de definir prioridades. O que menos o Brasil precisa, nesta época de pandemia, são problemas extras. Mexer no órgão policial, apenas para dizer que esta medida é privativa do presidente da República, é um argumento ralo. Além disso perdeu Sérgio Moro, que se demitiu do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A ‘guerra de versões’ é uma situação normal. Entretanto, o Brasil se enquadra da definição de um ‘barco à deriva’. Bolsonaro provavelmente sofrerá perdas significativas. O núcleo duro de sua base social poderá entrar em parafuso, envolto em um carrossel de conflitos e divisões. O governo tende a ter maiores dificuldades para recompor seu jogo parlamentar e para lidar com desconfiança crescente do empresariado sobre a estabilidade de sua administração.
A saída de Moro enfraquece o presidente enquanto a resposta anticientífica à pandemia do novo coronavírus acirra o conflito político. Após o anúncio da demissão de Moro, foi possível escutar "panelaços em bairros centrais de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Pernambuco, Curitiba e Porto Alegre exigindo a renúncia do presidente Bolsonaro.
A crise política vai se agravar. Ontem, o deputado ponta-grossense, Aliel Machado, propôs a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Federal para apurar a suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas investigações da Polícia Federal. O pedido é fundamentado nas declarações do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que ao anunciar hoje sua demissão, afirmou que Bolsonaro teria decidido trocar o comando da PF para ter acesso às investigações da corporação.