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Sistema Plantio Direto: a tecnologia que alavancou o agronegócio

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Por Décio Luiz Gazzoni e Pedro Luiz de Freitas

Nos últimos 50 anos, a revolução da agropecuária brasileira teve como pilares a disponibilidade de área cultivável, o clima favorável, o espírito empreendedor de agricultores e pecuaristas e, principalmente, o desenvolvimento de tecnologias adequadas aos climas subtropical e tropical. Muitos avanços foram cruciais para esse feito sem paralelo na história mundial: genótipos adaptados aos trópicos, correção da acidez e fertilidade do solo, fixação biológica de nitrogênio, manejo de pragas e doenças, entre outros.

Entretanto, o Plantio Direto na Palha (PD) se destaca como pilar fundamental, sem o qual não teria sido possível a construção do agronegócio pujante que se estabeleceu no Brasil. O Sistema Plantio Direto como proposto pela ciência agronômica é essencial para garantir a segurança alimentar e de alimentos, o desmatamento zero e o alicerce de uma agricultura verdadeiramente sustentável.

As bases

            Nos trópicos, o clima inclemente - um misto de altas temperaturas e chuvas intensas – expõe os solos, predominantemente intemperizados, os quais são vulneráveis a processos erosivos que arrastam a camada superficial, levando consigo a matéria orgânica - fundamental para a vida no solo – e os nutrientes vitais para o cultivo das plantas. 

            Pioneiros como Herbert Bartz, Franke Dijkstra e Nonô Pereira foram os precursores no cultivo de grãos - soja, milho e trigo - sem o uso de arados e grades – o que ficou conhecido como plantio direto na palha. A partir daí instituições de pesquisa como Embrapa e Iapar, ao lado de universidades, dedicaram-se profundamente ao entendimento do comportamento de solos tropicais.  Essa colaboração resultou no desenvolvimento das bases do SPD, fruto de uma ampla integração tecnológica que envolveu pesquisa, extensão, universidades, iniciativa privada e, crucialmente, agricultores como aqueles visionários.  Estavam assim lançadas as bases para uma agricultura regenerativa e conservacionista.

O Sistema Plantio Direto é hoje a espinha dorsal da intensificação sustentável da agricultura. Ele se integra a práticas como o manejo integrado de pragas, o controle biológico, o uso de bioinsumos, a conservação da biodiversidade e o papel vital das abelhas como polinizadores. A abrangência dos princípios do SPD é notável e está presente nas áreas de produção de culturas anuais e perenes, cana-de-açúcar e hortaliças, na agricultura familiar, orgânica e empresarial, nas áreas com pastagens e florestas plantadas e até mesmo na agricultura urbana e na educação ambiental.

            Como resultado desses esforços, o Brasil ostenta hoje a segunda maior área sob plantio direto no mundo, totalizando 33,8 milhões de hectares conforme estimativas da Embrapa (doi.org/10.1002/ldr.3876).  Contudo, é fundamental ressaltar que em menos de 10% dessa área são adotados os princípios do SPD em sua plenitude, ou seja, atentando para três princípios básicos recomendados pela ciência agronômica após mais de 50 anos de estudos: o não revolvimento do solo (exceto na linha de semeadura ou plantio); a manutenção permanente da cobertura do solo; e a rotação plurianual de culturas.

Sistema Plantio direto e as mudanças climáticas

            É um fato científico incontestável que as mudanças climáticas decorrem das emissões de gases de efeito estufa (GEE), aumentando sua concentração na atmosfera. Em 2020, das emissões totais de GEE (em CO2eq), 38% provieram das mudanças de uso da terra (LULUCF) e 29% da produção agropecuária. Dentro da agropecuária, 57% são devidos à fermentação entérica e 36% à calagem, aplicação de ureia e manejo do solo.

            Entretanto, para além de todos os benefícios conhecidos, a adoção do SPD tem um impacto crucial: cientistas demonstram que sua adoção redunda em sequestro de carbono no solo, contribuindo diretamente para a redução das emissões de GEE e, consequentemente, para a mitigação das mudanças climáticas.

Um estudo da equipe liderada pelo professor Moraes Sá (bit.ly/3YKvMFy) comprovou que a adoção do SPD é capaz de restaurar – e até aumentar - os estoques de carbono orgânico no solo em relação à mata nativa original no Cerrado e na Mata Atlântica. Esses resultados demonstram que a agricultura é parte integrante das soluções para enfrentar as mudanças climáticas.

O estudo em questão avaliou os estoques de carbono orgânico a 1 metro de profundidade em 3.402 amostras de solo, comparando três usos da terra: vegetação nativa - NV, sistema plantio direto - SPD e preparo baseado em arado – PBA.  Os resultados foram contundentes:  o uso de implementos para revolver o solo provoca redução significativa nos estoques de carbono no solo.  Em contraste, a adoção do SPD resultou em acréscimo ou manutenção do teor de carbono ou de matéria orgânica no solo. De acordo com os autores, cada hectare cultivado sob SPD tem o potencial de evitar o desmatamento de 0,8 ha a 1 ha para produção de alimentos, além de permitir a reinserção de terras degradadas à agricultura.

Pesquisa da Embrapa

            As boas notícias da ciência agronômica não param por aí: um estudo da Embrapa Meio Ambiente (bit.ly/3S4Elr6) constatou que a mudança de uso da terra de pastagem para o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) elevou os estoques de carbono do solo. Isso representa uma contribuição adicional para sequestro de carbono, consolidando o iLPF, em suas diferentes modalidades, como mais uma alternativa eficaz no combate ao desafio climático. O iLPF demonstrou uma taxa média anual de acúmulo de carbono no solo de 5 toneladas por hectare.

Concluindo, a adoção do plantio direto na palha (Sistema De Plantio Direto) foi fundamental para que o Brasil se tornasse a potência agrícola que é hoje. No entanto, para alcançar a tão almejada sustentabilidade com inclusão social e tecnológica, são essenciais investimentos robustos em ciência e tecnologia,  ao lado de estratégias de comunicação que mostrem, com eficácia, que somente a adoção plena dos princípios básicos do SPD garantirá a qualidade e a saúde do solo, imprescindíveis para alcançar a segurança alimentar, a segurança dos alimentos, o desmatamento zero e altas produtividades, aumentando decisivamente a resiliência da agricultura às mudanças climáticas e à ocorrência de eventos extremos.

Os autores são engenheiros agrônomos, pesquisadores da Embrapa e membros da Academia Brasileira de Ciência Agronômica (ABCA). DLG é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

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