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Analfabetismo funcional e cancelamento

Imagem ilustrativa da imagem Analfabetismo funcional e cancelamento

Por Mário Sérgio de Melo

Notícia de maio passado: 29% dos brasileiros são analfabetos funcionais; 36% só compreendem textos simples e de tamanho médio; 35% são alfabetizados plenos. O estudo foi feito por instituições incluindo Unesco e Unicef. É sério e isento. Os dados são alarmantes. Hoje, com comunicação digital, inteligência artificial, manipulação do comportamento, neurociência e recursos milionários, a realidade é complexa. Só a plena alfabetização pode lançar luz sobre ela. Talvez esses dados expliquem por que se elegem tantos parlamentares vendilhões da pátria, entreguistas a serviço de lobbies fisiológicos, e não estadistas de verdade.

Discernir é vital. A desinformação e o logro aumentaram com a internet, as redes sociais, a inteligência artificial e algoritmos. Mais que liberto e informado, o ser humano está sendo doutrinado para fins escusos: comprar, temer, alienar, imitar, mentir, fraudar, segregar, odiar... Muitos estímulos nos chegam: se não os selecionarmos, endoidamos. Ou, confusos, não entendemos: consuma-se o analfabeto funcional.

O principal objetivo da distorção da informação é preservar a tirânica injustiça social, que divide em classes: a produção de bens pela força de trabalho seria suficiente para toda a população mundial ter vida digna e saudável. Mas a maior parcela da humanidade vive em luta constante contra a fome, pobreza e humilhação, enquanto poucos se locupletam.

Cultura vem com a alfabetização, com educação que seja inclusiva, crítica, que ensine a refletir e a criar, e não só a repetir, conformar e conservar. Cultura é o cultivo do discernimento, da compreensão, da solidariedade. Sem ela, estaríamos ainda nas cavernas. Sem diálogo lúcido e respeitoso, não há cultura. A negação da cultura é o cancelamento. A injustiça social é irmã do analfabetismo. Se a humanidade não for capaz de superar a ignorância com a cultura, está condenada à extinção.

Escrevo textos críticos, que fazem apelo mais à razão que à emoção. Porém, entendo o sentido da frase “A mentira desgasta relacionamentos; a verdade não, a verdade devasta!”. Enxergar e dizer a verdade afasta, inimiza, e, atualmente, cancela. Preferível escrever textos que toquem os sentimentos. Eles parecem mais capazes de revelar e transformar que os pensamentos. Entretanto, o espontâneo impulso de refletir é parte da minha natureza. Negá-lo seria traí-la.

Fui cancelado num grupo de cultura em Ponta Grossa. Motivo: postei um trecho do discurso do Presidente Lula agradecendo a homenagem da Academia Francesa. Ele lembrava os acadêmicos que só tem o primário e um curso técnico, mas tornou-se sindicalista, criou um partido e é presidente. A distinção da Academia Francesa reconhece que Lula é um ser humano singular. O discurso sugeria que a principal qualidade humana não depende da erudição: depende da escola da vida, e também da índole.

A postagem do vídeo motivou minha exclusão do grupo de cultura. Ele não admite conteúdo político. Sinto que esta ideia de cultura também pode conduzir-nos à extinção.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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