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Novo prefeito abstenção: É de Direita, Esquerda ou Centrão?

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Por Giovani Marino Favero

            A eleição municipal de 2024 no Brasil ficará para a história – e não pelos candidatos convencionais, mas por aquele que não fez campanha, não fez promessas e, ainda assim, venceu em quase todas as cidades: o nobre Prefeito Abstenção. Dizem que ele estava tão confiante na vitória que nem se deu ao trabalho de sair de casa para votar em si mesmo.

            Ao que parece, o eleitor brasileiro, cansado das intermináveis promessas de “resolver o problema do buraco na rua da sua casa” ou de “construir um hospital em cada esquina”, resolveu que era melhor deixar tudo do jeito que está. Ou, melhor dizendo, do jeito que não está. Afinal, nada mais democrático do que o famoso “não votar para ver no que dá”.

            A campanha foi histórica: de um lado, candidatos com santinhos, jingles, debates e aquele sorriso largo que só aparece de quatro em quatro anos. Do outro, o Prefeito Abstenção, representado pelo sofá, a cerveja gelada e o controle remoto. Seu slogan? “Amanhã eu resolvo isso”. E deu certo!

            Nas cidades grandes, pequenas, e até naquelas que a gente nem sabia que existiam, o Prefeito Abstenção levou o pleito com folga. Em São João do Pé de Serra, ele foi eleito com uma margem de 68% dos votos. Quer dizer, da ausência deles. Em Capitão Pipoca, a eleição foi tão tranquila que o tribunal eleitoral local fechou as portas às 10 horas. Nem fila tinha!

            Agora, a grande pergunta é: de que lado está o Prefeito Abstenção? Seria ele de direita, esquerda ou do famigerado Centrão? Difícil saber, porque ele nunca deu entrevistas, nem apareceu nos debates. Analistas políticos dizem que ele é um político híbrido, apoiado por uma coligação de “não tô nem aí” com “deixa como tá”. Na prática, ele governa com uma política de não fazer nada, mas fazer bem feito.

            Entre suas promessas não feitas, estão: manter as ruas exatamente como estão (com ou sem buraco, depende da rua), não reformar as praças e garantir que o serviço de transporte público continue a circular (ou parar) nos horários mais convenientes… para os ônibus, claro.

            Os vereadores eleitos? Também foram pegos de surpresa. Muitos conquistaram suas cadeiras com apenas dois votos: o da mãe e do próprio candidato (que só votou nele mesmo porque teve que cumprir a obrigação de “pelo menos tentar”). Já imaginou as reuniões da câmara com todos eles concordando em não fazer nada?

            E o eleitorado? Bem, dizem que os que não foram votar estão muito satisfeitos. “Eu sempre quis um prefeito que não prometesse nada, e agora ele cumpre!”, disse Dona Marcelina, enquanto aproveitava o dia da eleição.

            Resta saber se, nas próximas eleições, o Prefeito Abstenção terá adversários à altura ou se continuará reinando soberano, sem precisar sair de casa, de novo.

            O certo é que, enquanto muitos candidatos prometem “fazer acontecer”, o Prefeito Abstenção já mostrou a que veio: fazer nada e ainda vencer com folga. Porque, convenhamos, em um país onde o mais comum é prometer e não cumprir, pelo menos ele é coerente.

            E Afinal, será que ele é de direita, esquerda ou Centrão? Talvez seja de todas e, ao mesmo tempo, de nenhuma – o único lugar que ele certamente não está é nas urnas.

Giovani Marino Favero é professor associado do Departamento de Biologia Geral da UEPG.

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