Debates
Soltar amarras para crescer
Da Redação | 07 de fevereiro de 2024 - 01:12

Por Carlos Rodolfo Schneider
O Brasil vem crescendo muito abaixo do que poderia e
deveria, já há muitos anos, com alguns esporádicos anos fora da curva. Motivo
relevante é a baixa produtividade e reduzida competitividade da nossa economia,
exceção feita especialmente ao agronegócio, onde temos expressivas vantagens
comparativas internacionais. Uma série de fatores interligados explicam as
nossas dificuldades de competir com economias mais dinâmicas nas demais cadeias
de bens comercializáveis: alta carga tributária, baixa disponibilidade de
poupança interna, baixa taxa de investimentos, infraestrutura precária,
serviços públicos deficientes, excesso de burocracia, engessamento do orçamento
público.
As despesas correntes, isto é, os gastos para manter a
máquina pública, tem crescido nas últimas décadas. Isso tem forçado o aumento
da carga tributária, que passou da faixa de 25% do PIB na década de 1990, para
33% a 35% nos últimos anos. Além disso, levou a uma redução na taxa de
investimentos de 25% para o intervalo de 15% a 18%. Investimentos em
infraestrutura, fundamentais para que o país possa crescer, caíram de 5% do PIB
para perto de 1%, o que não é suficiente nem para repor a depreciação do que aí
está. Além disso, o governo em muitas ocasiões tem captado parcela relevante da
poupança da sociedade para se financiar, o que pressiona a taxa de juros, outro
importante componente do pesado Custo Brasil.
Para melhorar o ambiente de negócios no país, temos que
continuar fazendo mudanças, reformas micro e macroeconômicas, que preparem o
país a liberar-se da armadilha da renda média. Já fizemos importantes avanços
com as reformas previdenciária e trabalhista, e temos agora uma grande
oportunidade de avançar numa reforma tributária, mesmo que parcial, para
simplificar a caótica estrutura de impostos. Necessário fazer o alerta para que
se resista à pressão pelo aumento da carga tributária, e para a manutenção ou
concessão de privilégios para segmentos ou agentes econômicos com maior
capacidade de fazer lobby, levando a aumento de carga para os demais.
Muitas das amarras podem ser resolvidas com reformas
infraconstitucionais, de mais fácil aprovação, a exemplo das já aprovadas Lei
de Liberdade Econômica, independência do Banco Central e minirreforma política
que restabeleceu a cláusula de barreira, privatização da Eletrobrás. Temos que
aumentar o ritmo de ajustes, dada a ainda grande defasagem em relação às
economias mais eficientes. A própria Reforma Tributária precisa ter uma segunda
tranche de simplificações, e um importante esforço para redução da pesada carga
de impostos, a mais elevada entre os países emergentes, que penaliza empresas e
famílias no país. Isso requer que o Estado precise de menos recursos, isto é,
que o gasto público seja mais eficiente. A tão aguardada Reforma Administrativa
é um passo importante nessa direção, juntamente com medidas apenas gerenciais,
que melhorem processos administrativos, preenchendo os cargos com quadros
qualificados, cujo desempenho seja reconhecido por uma meritocracia de fato, ao
contrário do que hoje acontece.
Outro ponto importante a enfrentar, apontado com frequência
por analistas externos, é a falta de senso de urgência no Brasil, o hábito de
procrastinar as mudanças necessárias. Como exemplo, a falta de regulamentação
até hoje de vários artigos da importante Lei de Responsabilidade
Fiscal editada no ano 2000. Como o artigo 67, que prevê a criação de
um Conselho de Gestão Fiscal (CGF), que seria uma instituição fiscal
independente, um xerife das contas públicas, composto por representantes da
sociedade civil e do poder público, com a missão de orientar e vigiar tanto
receitas como despesas públicas. É um instrumento que outros países, que têm
uma boa equação fiscal, têm usado com sucesso para aumentar a eficiência do
gasto público e por consequência reduzir o peso do Estado sobre a sociedade. O
Movimento Brasil Eficiente (BEM) se empenhou para implantar o CGF ao propor a
regulamentação do artigo 67 por meio do projeto de lei de autoria do
então senador Paulo Bauer. Aprovado por unanimidade no Senado em 2015, o projeto
sofreu alterações na Câmara dos Deputados, que eliminam os representantes da
sociedade civil da sua composição, o que precisa ser revisto. Em reunião
recente com o presidente da Câmara Arthur Lira, representantes das Federações
da Indústria do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná formalizaram
um pleito para a retomada do trâmite deste importante projeto de lei, com as
necessárias readequações. Entendem as três federações que o poder público deve
aprender a fazer mais com menos, para que também a sociedade consiga fazer
mais, e especialmente o setor industrial, o mais dinâmico da economia, possa
cumprir o seu potencial de contribuir com o desenvolvimento do nosso país.
Carlos Rodolfo Schneider é empresário