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Separando o joio do trigo

Imagem ilustrativa da imagem Separando o joio do trigo

Por Mário Sérgio de Melo

Diz o Evangelho de Mateus, Jesus contou a parábola do homem que semeou o trigo em seu campo, mas durante a noite, enquanto todos dormiam, veio seu inimigo e semeou o joio em meio ao trigo. Joio e trigo cresceriam e formariam espigas ao mesmo tempo. Os servos perguntaram ao homem o que fazer, e ele respondeu: “Deixem que cresçam. Na hora da colheita, juntem primeiro o joio, amarrem-no em feixes, para ser queimado. Depois juntem o trigo e guardem-no no celeiro.” Mateus ainda escreveu que o homem esperou que as espigas se formassem para poder bem distinguir o joio do trigo. Se a separação fosse feita antes, haveria a possibilidade de confundi-los.

Estas polarizadas eleições de 2022, que acirraram os espíritos e têm provocado transtornos, tiveram, por outro lado, o mérito de revelar as diferenças: quem é o joio a ser queimado, quem é o trigo a ser levado ao celeiro? Pudera fôssemos capazes, dois milênios depois, de compreender qual o exemplo de vida de Jesus, e qual o sentido das palavras proferidas em suas parábolas. Vamos relembrar, Jesus é considerado o filho de Deus, enviado para salvar a humanidade de seus erros. Sua mensagem foi de humildade, solidariedade, amor, esperança, verdade, justiça... Jesus seria um espírito de luz reencarnado entre os homens, para inspirá-los para o bem.

As religiões cristãs são as dominantes no mundo. Mas os cristãos aprenderam e praticam os ensinamentos de Jesus? Se tivessem aprendido, não teríamos tantas guerras e conflitos. Nem tanta injustiça na distribuição das riquezas que a generosa Mãe Terra nos concede. Nem tanta miséria e tantos refugiados que procuram escapar da fome, da violência e da humilhação. Nem teríamos a degradação dos mares, das águas doces, dos solos cultiváveis, das matas, da biodiversidade, da atmosfera que mantém o clima propício à vida no planeta. Nem a indústria da guerra consumindo recursos suficientes para resolver todos os problemas da humanidade. Nem teríamos a tecnologia que poderia nos irmanar e emancipar sendo utilizada para espalhar mentiras e nos manipular.

As eleições no Brasil mostraram dois lados: um é uma frente ampla que reúne, em nome da democracia, até adversários no campo econômico, unindo desde neoliberais que priorizam o mercado até aqueles que acreditam na economia administrada pelo Estado; outro que não aceita o resultado de eleições legítimas, compactua com uma indústria de mentiras, sente-se no direito de agredir e transtornar a vida de viajantes e moradores, e advoga a violência armada para defender suas crenças. Quem é o joio, quem é o trigo?

Se formos de fato cristãos, está na hora de separar o joio do trigo. Disso depende a colheita de uma sociedade fundada nos princípios de Jesus, que é sintetizada na frase: “Amai a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo.” Podemos ainda pensar que muitas são as noções de quem, ou o quê, seja Deus. Mas parece haver consenso sobre qual a sua manifestação: a natureza. Amar a Deus pode ser entendido como amar a natureza.

Autor é Professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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