Debates
Automóveis, um setor fundamental para a retomada da economia
Da Redação | 03 de dezembro de 2021 - 01:40
Por Luis Otávio Matias
Depois de praticamente dois anos de pandemia, a economia
brasileira começa a dar sinais de recuperação. Embora algumas áreas produtivas
do país vejam uma ligeira melhora pós-pandêmica conforme a vacinação segue
avançando, a maior parte do Brasil ainda sofre com problemas que envolvem a
demanda dos consumidores, mas também o fluxo de componentes que não chega por
parte dos fornecedores. Um desses setores é o mercado de veículos,
principalmente os zero quilômetros.
E o impacto desse período de pausa pode ser sentido não
apenas em empresas que se relacionam diretamente com ele. Atualmente, o setor
automotivo brasileiro gera mais de 420 mil empregos diretos e é responsável por
nada menos que 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro. Não à
toa, vê-lo parado gera preocupação e consequências graves em outras áreas da
economia nacional.
Durante a pandemia de covid-19, o setor não apenas parou de
avançar, mas começou a regredir e apresentou o maior recuo de crescimento desde
2015. A queda atingiu todos os tipos de negócios que envolvem veículos:
financiamentos, venda de carros novos e venda de carros usados. De acordo com a
Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e a B3,
em 2020 houve redução de 9,6%, 26,2% e 13,7% em cada uma dessas modalidades,
respectivamente.
A falta de componentes dos mais variados tipos foi uma das
responsáveis por esses resultados. A crise de chips eletrônicos e a crise
logística mundial dificultaram significativamente a produção e distribuição de
veículos zero quilômetro ao longo do último ano. Mas, a partir do quarto
trimestre de 2020, sinais de uma melhora ainda lenta começaram a aparecer.
É claro que, quando o problema é grande, qualquer reação
mínima será um bom resultado, mas a percepção é de que há alguma recuperação do
setor neste ano. Em todo o primeiro semestre de 2021, os carros zero
registraram um aumento de 33%, enquanto os financiamentos de veículos também
subiram 26%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda não se
registra um crescimento significativo, mas esses são pequenos indícios de que
poderemos avançar no futuro.
Se o Brasil ainda depende muito do agronegócio, outras áreas
da economia se mostram igualmente vitais para o seu desenvolvimento. Como o
país privilegia estruturas de transporte para veículos particulares, algumas
novas opções podem ser uma saída para alavancar de uma vez por todas o
crescimento do setor. Uma delas é o mercado de veículos por aluguel e por
assinatura.
Entre abril e maio do ano passado foram registrados 7,7
milhões de acessos a 152 sites que oferecem esses serviços. Por sua vez, o
mesmo período deste ano mostrou 12 milhões de acessos a esses mesmos sites. Um
interesse que cresce à medida que o serviço começa a chegar a mais localidades,
com maior número de empresas trabalhando a modalidade e maior quantidade de
planos disponíveis para diferentes perfis de consumidores.
Embora a retomada ainda seja relativamente tímida, em
comparação ao tamanho do setor e ao que ele já se mostrou capaz de movimentar
em anos anteriores à pandemia, tendências como essa podem ser uma saída viável
para que, em breve, concessionárias, montadoras, locadoras e outros players
possam realmente voltar a ver seus negócios crescerem. Enquanto isso não
acontece, recursos como a digitalização do processo de compra e até mesmo de
financiamento de veículos continuam ganhando força com todos os públicos desse
mercado.
Outro fator que merece um olhar atento é o da mudança no
tipo de carro que os brasileiros estão dispostos a adquirir daqui em diante.
Com as discussões a respeito das mudanças climáticas fervilhando em todo o
mundo, espera-se que, cada vez mais, os usuários brasileiros comecem a procurar
modelos mais amigáveis com o meio ambiente, por exemplo os veículos elétricos ou
híbridos, em detrimento daqueles que usam combustíveis tradicionais, mais
agressivos à natureza.
Assim como acontece com todos os setores da economia, será
preciso compreender os anseios do mercado e recalibrar as estratégias para,
somente então, acelerar rumo a novas linhas de chegada.
*Luis Otávio Matias é vice-presidente da Tecnobank