Debates
O caminho para nota mil na redação do Enem
Da Redação | 25 de setembro de 2021 - 01:46
Por Cícero Gomes
Falta pouco para a principal porta de entrada no Ensino
Superior do Brasil: o Enem. O exame 2021 já conta com mais de 3 milhões de
inscritos - e o Inep abriu novamente as inscrições para estudantes de baixa
renda até o dia 26 de setembro. Seja em novembro ou apenas em janeiro, como
aconteceu com a edição de 2020, posso afirmar, por experiência própria, que a
redação é o momento mais tenso e que gera preocupação dos alunos. Como
professor de redação e ex-corretor do Enem, tive a oportunidade de avaliar mais
de 10 mil redações em 21 anos e posso dizer, para desmistificar esse assunto,
que é perfeitamente possível escrever uma redação que mereça a nota máxima dos
avaliadores.
Afinal, o que é uma boa redação? É um texto com uma letra
bonita? É uma história criativa? Essa é uma dúvida muito comum. Na escola, o
padrão é cada professor definir, a partir das próprias preferências pessoais,
ou de seu sistema de ensino, o que é um bom texto. Alguns valorizam muito a
apresentação da redação, enquanto outros consideram que a criatividade é o
principal ponto. Outro critério muito usado é a utilização correta e bem
explorada da gramática. O importante aqui é saber que, em provas e vestibulares
sérios, há regras claras para definir o que são textos bons. Embora essas
regras variem, elas tendem a seguir um padrão: um bom texto é aquele que
consegue cumprir as regras do tema e do tipo de texto (ou gênero) pedidos. No
caso do Enem, é exigido exclusivamente o tipo de texto
dissertativo-argumentativo.
Para quem ainda tem dúvida, a dissertação argumentativa é um
tipo de texto em que o autor deve buscar defender uma tese (uma opinião sobre
determinado tema) por meio de argumentos para um leitor universal. O autor deve
ser impessoal, ou seja, não deve usar a primeira pessoa do singular e não deve
fazer referências a si mesmo.
Ao contrário do que muitos imaginam, a dissertação
argumentativa pode e deve conter a opinião do autor. No entanto, essa opinião
não deve ser exposta como uma ideia pessoal ("eu acredito que a educação é
importante") e sim como uma verdade absoluta ("a educação é
importante"). E, diferente do que muitos afirmam, não é necessário ter uma
opinião igual à do corretor para garantir uma nota alta na redação. O que torna
um texto dissertativo-argumentativo bom é a qualidade dos argumentos, não a
opinião escolhida. Isso porque os examinadores do Enem não esperam ser
emocionados ou surpreendidos com as redações: eles procuram elementos técnicos,
especialmente a adequação à proposta e o atendimento a algumas características
da prova.
A prova do Enem costuma tratar de assuntos da atualidade,
quase sempre enfatizando a realidade brasileira. Sempre apresenta uma coletânea
de textos motivadores, que trazem informações sobre o tema e podem ser
aproveitados na redação (eles costumam conter dados numéricos e estatísticos,
que podem ser aproveitados na argumentação). Outra característica importante:
todo tema de redação do Enem pede ao candidato que elabore uma proposta de
intervenção para o problema abordado, demonstrando respeito aos direitos
humanos. Isso significa que o autor sempre precisará fazer uma sugestão de uma
ação a ser tomada que seja capaz de diminuir o problema discutido.
Cada corretor dará ao texto uma pontuação de 0 a 200 pontos
em cinco critérios diferentes, chamados pelo Inep de "Competências".
Portanto, a pontuação final varia entre 0 e 1000. As competências do Enem são:
demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa;
compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de
conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto
dissertativo-argumentativo em prosa; selecionar, relacionar, organizar e interpretar
informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a
construção da argumentação; elaborar proposta de intervenção para o problema
abordado, respeitando os direitos humanos.
Outra curiosidade é que cada redação é avaliada por dois
examinadores, que não conhecem a pontuação dada pelo colega. Isso é feito para
diminuir o risco de haver subjetividade na correção: se um dos profissionais
der uma nota muito diferente do outro, isso é chamado de
"discrepância". No caso do Enem, é aceitável uma diferença de até 100
pontos na pontuação da redação, ou até 80 pontos em cada um dos critérios. Se a
diferença for maior que essa, a redação será avaliada por um terceiro examinador,
mais experiente. Se ainda assim a discrepância permanecer, o texto será
avaliado por uma comissão formada por três profissionais, que decidirão a
pontuação final.
Outras dúvida comum: é possível tirar nota zero na redação? Sim, é possível. Mas é fácil tomar providências para que isso não aconteça: não fuja do tema, não escreva textos muito curtos (7 linhas ou menos), não xingue ou faça desenhos, não brinque incluindo uma receita de miojo ou o hino do seu time de futebol. Estude atualidades, pois os temas, na grande maioria das vezes, exploram acontecimentos recentes como gancho. Pratique todos esses pontos, planeje bem o seu texto e boa prova.
Cícero Gomes é consultor de Cultura e Inovação da Evolucional e ex-corretor do Enem